Milei ameaça a democracia com grave fechamento da agência de notícias Télam
"A polícia cercou o local com grades e impede a entrada dos jornalistas", relata Marcia Carmo
O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou, na sexta-feira à noite, o fechamento da agência de notícias Télam, argumentando que “trata-se de instrumento propagandístico do kirchnerismo”. Mas a agência vinha simplesmente cumprindo seu papel jornalístico, informando sobre os atos do governo Milei, que tomou posse há quase três meses, e as reações às suas iniciativas.
Milei já tinha designado, no mês passado, como informamos aqui de Buenos Aires na programação da TV 247, interventores para os veículos públicos de comunicação da Argentina, com prazo de um ano para reduzir os orçamentos (corte de pessoal).
A sua decisão de anunciar o fim da Télam, sem debate prévio no Congresso (que ele tanto rejeita), chocou parlamentares da oposição, representantes da sociedade civil e jornalistas argentinos e de vários países. Nos quarenta anos da democracia da Argentina, a agência de notícias, que possui (possuía) 780 empregados e um braço comercial com a distribuição de seu conteúdo para os meios de comunicação privados que a contratavam, não tinha sido ameaçada. Desde domingo, os que tentam acessar o portal da Télam, se deparam com o escudo da Presidência argentina e a frase: “Página em reconstrução”. Não há mais informações, não há mais notícias na agência caracterizada por informar, noticiar sobre a Argentina e outros países, principalmente da América Latina. Também não é possível ler as matérias ou ver as fotos que a agência publicou ao longo de sua existência. Logo depois do discurso de Milei, na abertura do ano legislativo, no Congresso Nacional, o pessoal de imprensa da agência Télam recebeu no fim de semana um email do interventor Diego Chaher notificando sobre a “dispensa por sete dias”, sem dar detalhes sobre o que acontecerá a partir de agora e depois destes sete dias. A sede da agência foi cercada por grades e por policiais, impedindo até que os trabalhadores e trabalhadoras da empresa estatal retirassem seus pertences. A representante do sindicato de Imprensa de Buenos Aires, Claudia Gaudensi, resumiu assim a canetada de Milei, com o fim da agência: “É uma violência institucional. A agência Télam passou por vários governos. É um ataque à liberdade de expressão. É um ato autoritário como tudo o que o presidente tem feito.” Os veículos públicos de comunicação estavam na mira de Milei desde sua campanha à Casa Rosada. E a preocupação é crescente nas emissoras de rádio e na TV Pública, principalmente após seu anúncio, na sexta-feira à noite, sobre a Télam.
No México, em dezembro do ano passado, o Congresso Nacional aprovou o fim da agência de notícias Notimex, criada em 1968, numa decisão tomada meses após o presidente Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO) ter anunciado que sua continuidade era difícil e diante das reclamações e greve do pessoal da empresa contra as condições de trabalho. Muitos lamentaram seu fim.
Aqui na Argentina, em 2018, durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri, mais de 300 jornalistas foram demitidos. A maioria foi reintegrada após decisão da Justiça.
No fim de semana, num comunicado, a ONG Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea), que reúne jornalistas e professores de comunicação do país, disse que o fechamento da Télam “ressalta a hostilidade e a intolerância contra o jornalismo” e enfatiza a importância dos meios públicos de comunicação. A Fopea já tinha alertado para as agressões constantes de Milei contra jornalistas mulheres, através das suas redes sociais (sua preferida é o X, ex-Twitter). Milei chamou a jornalista Silvia Mercado, do canal LN+, de “mentirosa serial” por ela ter dado uma informação, que depois retificou, sobre a mudança dos cães do presidente para a residência oficial. Milei dedica boa parte do seu dia ao X, argumentando que prefere a comunicação direta com seu público. Na sua visão, a imprensa e o Congresso Nacional são praticamente dispensáveis, e não os pilares fundamentais, que são, de uma democracia.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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