Milei presidente!: até quando? Argentina está em meio a novo roteiro de golpe
Nada indica que militares cederão ao açulamento dos “granadeiro de costeleta” nos bivaques, mas eles vislumbram voltar ao poder com a vice, diz Luís Costa Pinto
Não é o fato de ter vencido a eleição do último domingo, pleito democrático e que transcorreu dentro das regras, que o economista Javier Milei deve ser levado a sério. Nem ele mesmo preza as próprias ideias, pois recuou de quase todas elas no curso da campanha eleitoral de 2º turno. Segundo ele suas peças de marketing, as propostas de privatizar todos os serviços de saúde pública, permitir o livre comércio de órgãos humanos, crianças rejeitadas pelos pais ou órfãos e drogas de todos os tipos, além de pôr fim a toda a estrutura regulatória do Estado e destruir a moeda nacional e o Banco Central Argentino não eram suas - mesmo que tenham sido encampadas por ele, afirmadas por ele, patrocinadas por ele. “Foram distorções da campanha de meu adversário”, mentiu sem enrubescer em filmes de TV, memes de redes sociais e mesmo nos debates. Ou seja, Milei venceu por ter patrocinado tamanhas loucuras e também por tê-las negado. A engenhosa manobra enganou a muitos, rendeu-lhe uma vitória ampla, mas… por quanto tempo seguirá encarnando o louco que dança ao ritmo dos aplausos da tigrada?
Respondo de pronto: antes do fim do ano acaba a pólvora de festim do novo presidente argentino e ele terá de encarar a vida como ela é no mundo dos adultos e dos Estados-Nação tendo de começar a driblar as artimanhas da vice-presidente eleita, Victoria Villaruel. De vice decorativa ela não tem nada. Advogada, militante de causas de extrema-direita - que vão da pauta de costumes ao endeusamento reacionário da sanguinária ditadura militar argentina - e com ascendentes no oficialato do regime de assassinos fardados (o pai foi tenente-coronel do Exército e o avô, almirante. Ambos estiveram à proa de suas armas no farsesco governo do general-ditador Leopoldo Galtieri), Villaruel prega a necessidade de seu País passar pela experiência acadêmica de uma tirania para “vencer os percalços” atuais e voltar a clube das nações mais ricas do mundo. Até meados da segunda década do século XX a Argentina figurava entre as 7 maiores economias do planeta.
Como determina a Constituição argentina, quem ocupa a vice-presidência por virtudes do voto direto, ocupa também a presidência do Senado. O presidente do Senado, por sua vez, não tem direito a voto nos projetos. Porém, tem ampla capacidade de articulação política e de pautar projetos-de-lei, reformas constitucionais e impeachments, por exemplo. Os argentinos nunca passaram pela experiência de um impeachment constitucional. Apatetado, tosco, politicamente rude e inábil, Javier Milei está desenhado e esquadrinhado para inaugurar em terras portenhas essa perversa tradição que cultivamos aqui. Isabelita e Evita Perón e Cristina Kirchner integram o trio de ferro de mulheres que foram protagonistas na vida política argentina. Victoria Villaruel, a maior ameaça a Milei em seu governo que se prenuncia curto antes mesmo de ter começado, ascende ao poder com o desejo manifesto de transformar a trinca em quarteto.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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