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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Ministro Alexandre de Moraes descreve - pós-verdade - em suas críticas às fake news

    Jornalista Denise Assis cobra mais agilidade e rigor do TSE. "Ou cumpre a sua promessa, ou não deveria ter propiciado a formação da imagem pública de 'Xandão”'

    Alexandre de Moraes e sala de votação (Foto: Carlos Moura/SCO/STF | Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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    mPor Denise Assis, para o 247 

    Tivesse o ministro e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre Moraes, lido o jornalista e pesquisador inglês Mattew D’Ancona, que conceituou o fenômeno da “pós-verdade”, e teria definido dentro desse princípio o que chamou, ontem, de “segunda geração das fake News”. Visivelmente irritado, Moraes disse que agora recolhem notícias verdadeiras na imprensa, mas manipulam conteúdo para enganar.  

    O que descreveu é exatamente o princípio da pós-verdade e não é um fenômeno novo. Vem sendo estudado desde a crise financeira de 2008. Em seu livro: “Pós-Verdade – A Nova guerra conta os fatos em tempos de fake News” (MATTHEW, 2018, p.45), D’Ancona observa: “Vivemos em uma era de fragilidade institucional. As instituições da sociedade agem como anteparos. São órgãos que encarnam seus valores e suas continuidades. Lançar luzes sobre os seus fracassos, sua decadência e seu colapso absoluto é intrinsecamente perturbador. Mas isso não é tudo. A pós-verdade floresceu nesse contexto, quando os firewalls e os anticorpos (misturando metáforas) se enfraqueceram.”

    Exatamente como acontece no Brasil de Bolsonaro, quando todas as instâncias de poder vêm sendo destruídas por dentro, num processo de “cupinização” proposital, para embaralhar as decisões.

    Segundo o ministro, está havendo duas formas de manejo das notícias falsas em utilização nas redes sociais. "A primeira delas é a manipulação de algumas premissas verdadeiras, que junta várias informações verdadeiras que aconteceram, chegando a uma conclusão falsa. A segunda delas é a utilização de mídias tradicionais para se plantar fake news e, a partir disso, as campanhas replicam essas fake news, dizendo que 'isso é uma notícia'", explicou. O que resumiu Moraes, nada mais é do que o conceito de D’Ancona colocado em prática, o de somar à verdade premissas falsas e, assim, confundir a sociedade.

    Mantendo o tom zangado, o ministro afirmou que a Justiça Eleitoral está pronta para punir os responsáveis por disseminar fake news. "Não se pode admitir mídia tradicional de aluguel, que faz uma suposta informação jornalística absolutamente fraudulenta para permitir que se replique isso. Esses casos cresceram muito a partir do segundo turno, e devem ser combatidos para garantir a informação de verdade", avisou. Porém, o ministro nada pode com a lentidão do processo, embora possa muito sobre a dimensão das penas, que vêm sendo consideradas muito leves para o tamanho dos estragos.  

    Há quem diga que deveriam doer mais no bolso, ou sobre mandatos – como no caso do deputado Francisco Francischini (PSL-PR) cassado e com direitos políticos suspensos por oito anos - para que surtissem efeito.

    Ainda recorrendo aos conceitos da pós-verdade de D’Ancona: “quando os supostos fiadores da honestidade vacilam (a mídia, por exemplo, destaque meu), o mesmo acontece com a verdade”, afirma.

    O jornalista inglês vai buscar apoio no filósofo A.C. Crayling para situar o início dessa prática: “Talvez Crayling tenha razão ao identificar a crise financeira como o momento germinal que levou, em questão de anos, à era pós-verdade. ‘O mundo mudou depois de 2008’, disse ele à BBC, em janeiro de 2017. E assim foi”.

    Na coletiva, Moraes observou: "Não podemos achar que mídias tradicionais só falam a verdade. Se a mídia tradicional também propaga notícia falsa, as consequências legais são as mesmas das redes sociais. Não é por ser mídia tradicional que pode falar o que bem entender”.

    Sua fala, apesar de desapartada do conceito de Matthew D’Ancona, cai como uma luva em sua descrição: “O jornalismo tem como tarefas revelar a complexidade, a nuança o paradoxo da vida pública, desmascarar a transgressão e – o mais importante de tudo – regar as raízes da democracia com um fornecimento constante de notícias confiáveis”.  

    É o que se espera, em tempos de eleições transformadas em verdadeira avalanche de informações falsas e ataques desonestos. Na outra ponta, a do papel do TSE, é que tenha mais agilidade e rigor, conforme anunciados pelo ministro, nos dias de maio. Ou cumpre a sua promessa, ou não deveria ter propiciado a formação da imagem pública de “Xandão”, já que não queria descer a mão sobre os abusos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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