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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Na falta de problemas internos, vamos catar pelo em ovo no quintal alheio

    "Não é crível que o Brasil esteja se intrometendo a esse ponto nas instituições da vizinha Venezuela", critica Denise Assis

    Presidentes Lula e Maduro durante encontro da Unasul em Brasília 29/05/2023 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

    Certamente houve algum equívoco. Não é crível que o Brasil esteja catando pelo em ovo, descendo a minudências jurídicas e se intrometendo a esse ponto nas instituições da vizinha Venezuela. Não. Não se trata de avaliar o mérito. Estando errada ou certa a decisão da Corte, não nos cabe cuidar do sistema carcerário do outro lado da cerca, ou das ordens de prisão expedidas. Segundo apuração da CNN Brasil, “a ordem de prisão do candidato oposicionista Edmundo González Urrutia, na Venezuela, foi percebida como 'inaceitável' e 'péssimo sinal' por interlocutores próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)”.

    Alguém já perguntou ao governo de lá, o que achou da desobediência em solo brasileiro, do Sr. Elon Musk? Houve nota bolivariana avaliando a decisão da Primeira Turma do Supremo sobre o caso, esse sim, de âmbito internacional? Pois bem. De acordo com a CNN-Brasil, “o governo brasileiro avalia soltar uma nota oficial, nesta terça-feira (03/09), demonstrando preocupação com o aumento das tensões. Na prática, a apreensão é com a escalada autoritária do governo de Nicolás Maduro, mas assessores presidenciais apontaram um 'dilema' para o Palácio do Planalto e o Itamaraty. Ao mesmo tempo em que se pretende indicar claramente uma insatisfação com os últimos passos de Maduro, o objetivo é não levar a Venezuela para um isolamento internacional ainda maior e não romper completamente o diálogo”. 

    Até aqui, o Brasil decidiu ficar empoleirado no muro, sem reconhecer a vitória de Maduro e exigindo a apresentação das atas eleitorais, mas endurecer a estratégia -- declarando a Venezuela uma ditadura ou tratando González como presidente legítimo – está fora de cogitação. 

    Ainda essa história de “atas”? Quando já vieram a público vários personagens técnicos e observadores da eleição esclarecer que não se pode – como aquele coleguinha enche a boca para dizer -, aceitar que as atas “oficiais” já foram apresentadas pela “oposição”? Nem atas são! Lá, como cá, o que há são boletins de urna. O sistema é parecido com o nosso, com a diferença de que lá eles imprimem o voto no final (o que, na minha opinião, que, diga-se, ninguém pediu, é sempre ponto de conflito).

    Ainda nos termos da reportagem da CNN, “auxiliares de Lula listam pelo menos três fatores para justificar a necessidade de manter pontes com o governo Maduro: Brasil e Colômbia têm amplas fronteiras com a Venezuela. Podem sofrer com uma leva de emigração e o aumento de tensões geopolíticas na região; A embaixada da Argentina em Caracas, onde estão refugiados seis oposicionistas perseguidos pelo governo venezuelano, está sob custódia do Brasil neste momento. É necessário ter máxima cautela diante da responsabilidade de proteger esses cidadãos; Enquanto houver uma chance de saída negociada, por menor que seja, preservar a capacidade de diálogo com Maduro pode ser um ativo mais adiante”. 

    Oi? A quantas anda esse diálogo? Alguém já experimentou bater um fio para Maduro? Não sei se, ao contrário fosse, o presidente Lula se disporia a vir ao telefone esclarecer por que estamos assim ou assado com a nossa tecnologia. Ou, expor voto a voto da Primeira Turma da nossa nobre Corte, que por sinal, agiu para manter aquilo que todo país gosta de ver respeitada: a própria soberania.

    Conforme as declarações dadas à CNN, a percepção no Itamaraty é a de que “a capacidade de diálogo também pode ser necessária em caso de um agravamento ainda maior da situação política, tornando o Brasil um dos poucos países do Ocidente capazes de lutar pelo respeito a direitos mínimos de opositores do líder venezuelano. Hoje, no Planalto e no Itamaraty, a percepção é de que Maduro não se dispõe a negociar e está convencido – com o aval de todo seu entorno – a manter-se no poder”. 

    E??? Se o Brasil não reconhece nem rechaça o resultado da eleição, está cobrando o que, mesmo? 

    Quando a casa de marimbondos está para cair, melhor é manter distância, mas ao que parece, o Itamaraty está à cata de uma varinha para ir lá cutucar. Virão picadas, certamente.

    E, expondo (para que não paire nenhuma dúvida) a posição brasileira com relação ao intrincado em que ajudou a meter o vizinho, os interlocutores do nobre e tradicional Itamaraty prosseguem: “É uma diferença em relação à expectativa, alimentada após as eleições no dia 28 de julho, de que ele poderia abrir espaço para algum tipo de saída negociada em caso de confirmação de sua derrota”. 

    Vou buscar no dicionário que nome dar a isso. Por enquanto, todas as vezes que lancei a pesquisa online a palavra que vem é: “ingerência”. Deve estar havendo algum equívoco. Vou continuar tentando...

    https://stories.cnnbrasil.com.br/internacional/eleicao-na-venezuela-teve-urna-eletronica-e-voto-impresso-entenda/

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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