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    Marconi Moura de Lima

    Professor, escritor. Graduado em Letras pela Universidade de Brasília (UnB) e Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade de Direito Prof. Damásio de Jesus. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Leciona no curso de Agroecologia na Universidade Estadual de Goiás (UEG), e teima discutir questões de um novo arranjo civilizatório brasileiro.

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    Não é dos caminhoneiros; é Greve dos Caminhões; do Agro-Pop

    Não caia no “conto do vigário”. Alguém lá em cima (no Planalto) está nos enganando

    (Foto: Divulgação)

    É um erro tático dizer que essa paralisação de caminhões nas estradas no dia 8 de setembro seria uma ação (uma greve) dos caminhoneiros. Não! Isso não é nem verdade, nem autêntico. Trata-se de um movimento de patrões, de empresários poderosos, especialmente do Agronegócio brasileiro, este setor que é, sem dúvidas o que mais fatura no Brasil de Bolsonaro e Paulo Guedes, cuja elevação do dólar fez as commodities da soja, milho e outros grãos valerem mais que ouro no estrangeiro, haja vista que para dentro do Brasil essa gente não produz alimentos[1], e seus grãos servem de comida para rebanhos de animais em outros países, particularmente, a China.

    Isto é, se Bolsonaro cair, o dólar cairá, a economia diversificará, os trabalhadores terão mais direitos e os estes ricaços perderão um pouquinho de sua fortuna acumulada nos eventos diários. (Mas sua ganância não permite perder só um pouquinho!) Retornando aos caminhoneiros. Não posso atestar que as lideranças[2] e estes dignos trabalhadores irão ou não aderir ao movimento de paralisação dos caminhões (e falo caminhões e não pessoas, porque esta ação é virtual, os motoristas ali dentro não são os donos dos veículos; são apenas empregados obrigados pelo patrão a pararem os carros; é, portanto, a Greve dos Caminhões).

    Destarte, a depender da pressão dos demais movimentos, os que sofrem com o preço do diesel, com as dificuldades reais[3], poderão paralisar as atividades, aí donos de pequenas frotas, motoristas autônomos e outros estariam a, de fato, promoverem uma greve autêntica. Por hora é apenas greve do Agro-pop[4], dos patrões que usam[5] – até nisso – a força de seus trabalhadores. 

    Neste caso, sugiro que, tanto os veículos de imprensa, blogs progressistas etc., quanto os líderes políticos não difundam ao País que os caminhoneiros (trabalhadores) estão parando rodovias e interrompendo o transporte de bens essenciais e da economia, pois isso constrói na população um imaginário que, infelizmente, só favorece o Presidente moleque[6] que (des)governa este Brasil.

    ............................

    [1] Na verdade, essa gente não está nem ligando para a dor de 12 milhões de pessoas no Brasil que nesse momento não têm absolutamente nada para comer.

    [2] Ver as declarações das verdadeiras lideranças de caminhoneiros autônomos e outros.

    [3] Pergunta: com esse valor dos combustíveis, vale a pena defender o Presidente? Quanto sobra para o caminhoneiro autônomo num frete com as condições logísticas dadas hoje? Uma greve de caminhoneiro é para defender o responsável por esse valor no diesel?

    [4] Conto uma triste história que mostra a crueza do sistema capital e da covardia de certos empresários com a economia brasileira e com os trabalhadores.

    Um amigo que mora em Roda Velha, distrito de São Desidério, Bahia, poderoso no Agronegócio, trabalha numa empresa destas gigantes na produção de grãos. Ele não ocupa um cargo qualquer. Tem função de gerência na empresa. Sabe muito do que ocorre nas artérias decisórias de seu patrão.

    Pois bem! Meu amigo me contou que o dono da empresa, com o poder de influência que possui qualquer um dos grandes produtores de grãos neste País, comprou uma frota de 200 caminhões zero quilômetro com uma carência de 3 anos para pagar a primeira parcela (agora fiquei em dúvida se ele disse 3 ou 5 anos, mas isso importa menos na história). O financiamento foi do Governo Federal que o fez a fim de impulsionar a economia e a produção.

    O empresário usou os caminhões até o limite. Na hora de começar a pagar o empréstimo ao Governo Federal, a empresa decretou falência. Não pagou um centavo sequer pelos veículos. Devolveu as carcaças e ficou tudo bem. Vida que segue para o empresário usando outra empresa para continuar seus negócios.

    Pergunta 1: já ouviu falar que “o rio só corre para mar”? Isto é, se um trabalhador autônomo tentar um empréstimo simples para trocar seu único caminhão, conseguirá com essa facilidade? Por que para os poderosos é tão fácil conseguir apoio e recursos a seus negócios já tão abastados?

    Pergunta 2: se pegarmos todos os empresários – como este da história – e colocarmos seus 200, ou 50 caminhões que seja – de cada empresa, quantos veículos teremos parando as estradas brasileiras nestes próximos dias? Isso é, portanto, um movimento autêntico, ou um evento corporativo do sistema capital?

    Não caia no “conto do vigário”. Alguém lá em cima (no Planalto) está nos enganando.

    [5] Fico pensando no pobre coitado agora lá na Esplanada dos Ministérios. Eles interditaram com os caminhões da empresa que trabalham alguns espaços dos Ministérios, em Brasília. Porém, estão lá não porque acreditam nos devaneios do fútil que ocupa a Presidência do Brasil, mas porque o seu patrão o mandou ficar na capital fazendo algazarra. 

    Contudo, alerto: é logo que algum ministro do STF mandará prendê-los, pois estes não foram obrigados pelo patrão apenas a estacionarem os carros, todavia, a fazerem ameaças à Suprema Corte.

    A pergunta: quem vai assumir a culpa: o TRABALHADOR ou o dono do CAMINHÃO? O seu patrão vai ao menos pagar a fiança para tirar seu trabalhador da cadeia?

    Ou seja: os motoristas daquelas empresas acampadas na frente do STF caminham para “pagar o pato” a fim de atender os caprichos do empresário, enquanto este dorme sossegado em sua casa.

    [6] Ao chama-lo por este nome não o faço por simples uso gratuito de palavras. O Bolsonaro no último 7 de setembro falou a milhões de pessoas (somando os que estavam nas manifestações e o que, em casa, aguardavam o discurso do Presidente). Centenas de câmeras de tevês e jornais do mundo inteiro (sim, o mundo quer saber sobre o Brasil) captaram a narrativa do Presidente. Sequer em algum momento o “Messias” falou sobre a vida, isto é, sobre como irá combater o Coronavírus daqui para frente. 

    Aliás, nem mesmo uma homenagem às quase 700 mil pessoas que morreram em virtude da COVID-19 e os familiares em luto Bolsonaro teve coragem de prestar. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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