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    Teju Franco

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    Não é impeachment, Safatle

    questão sobre quem ocupará o lugar de Bolsonaro é um cortina de fumaça que demonstra desconfiança na força destituinte da soberania popular

    (Brasília - DF, 20/03/2020) Presidente da República, Jair Bolsonaro e Ministros de Estado participam de videoconferência com representantes da Iniciativa Privada.Foto: Isac Nóbrega/PR (Foto: Isac Nobrega)

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    A contradição está nas próprias palavras dele. A questão sobre quem ocupará o lugar de Bolsonaro é um cortina de fumaça que demonstra desconfiança na força destituinte da soberania popular. Este mesmo argumento foi usado quando Michel Temer estava nas cordas, na ocasião da greve dos caminhoneiros. Dizia-se que não fazia sentido troca-lo por Maia. Hoje, Maia é endeusado por alguns como o esteio da racionalidade no Estado brasileiro."

    Então o próximo endeusado a ser empossado após o impeachment por aquilo que ele chama de "força destituinte da soberania popular" nessa linha de raciocínio seria o General Mourão, vitaminado pela midia como esperança civilizatória para tocar a mesma agenda de Bolsonaro e Maia, sem criar tantos atritos e guerras fundamentalistas ideológicas desnecessárias, apenas atender ao capital financeiro de maneira civilizada, colocando, como Mourão já disse, os negros e índios preguiçosos e indolentes em seu devido lugar e retirando a periferia das universidades.

    A diferença do intelectual e do grande ator político de massas é compreender o tempo e o movimento das massas, coisa que não se aprende mergulhando nos livros. Na década de sessenta intelectuais e teóricos agiram por arrobos de certezas literárias e precipitaram o AI5 e a guerrilha urbana, depois de tudo o que vimos nesses últimos anos: o golpe, as perseguições políticas, as campanhas de guerra do aparato midiático, aquele que ele diz que "não é mais líder", não fugiu do país para escrever opiniões e memórias do estrangeiro, não baixou a cabeça e nem quebrou o espírito, enquanto, nesse momento, todo o aparato golpista se desorganiza, se digladia, STF vs Lavajato, mídia vs mídia, PSL vs Bozo, Doria vs, Witzel vs Bozo, a direita se desmoralizando dia após dia, aquele que "não é mais líder" recupera sua imagem de liderança mundial e espera pacientemente o tempo da história preparar o terreno, mas não o tempo da história que se estuda depois por homens cultos e inteligentes como Safatle, o tempo do agir agora, e que nem " a força destituinte da soberania popular" que depôs Dilma e nos ofereceu Temer e Bolsonaro possa nos presentear com outra besteira como Mourão ou Maia e mais uma armação das elites.

    Então discordando de Safatle, pela primeira vez o PSOL não agiu como esquerda limpinha inocente, ao contrário, esquerda limpinha nesse momento clama por impeachment, assim como os bem intencionados Samia, Davi do PSOL ou Leonardo Atuch do 247 (PT) clama hoje em matéria publicada pelo seu site. A esquerda sujinha e realista sabe que a única chance de realmente escapar a esse quadro será no momento que houver condições para cassar a chapa e convocar novas eleições, como pensam agora Breno Altman e aquele que Safatle designa como "não mais líder".

    Ou seja, os limpinhos e puros de alma acreditam em impeachment, saída institucional, trocar Bozo por Mourão, os sujinhos e não inocentes sabem que isso seria apenas dar uma segunda chance aos mesmos e menos sujos e grotescos que o Bozo, dar nova vida, tempo, verniz civilizatório, apoio totalitário das mídias para concluir as mesmas reformas, os sujinhos e não inocentes sabem que isso é estender o tempo deles, dar nova chance, preferem esperar o desgaste e as condições, ou para depor a todos, ou para eleger realmente uma força contraria com outro plano de governo. Coisa que parece que as panelas têm confirmado, o desgaste, o momento está chegando. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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