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    Bepe Damasco

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    Não se combate fake news sem inteligência estratégica e confronto

    "O problema para o governo dar o passo necessário para combater as fake news é sua decisão política de evitar o confronto a todo custo", avalia Bepe Damasco

    Sidônio Palmeira e Lula (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

    Ainda estava com a entrevista do professor e especialista em comunicação Wilson Ferreira bem viva na cabeça quando estourou a crise das fake news sobre o Pix. Ouvido por Luis Nassif, na TV GGN, Ferreira propôs a criação, no âmbito do governo, de um grupo interdisciplinar de inteligência, voltado para a guerra semiótica.

    O professor acerta o alvo ao explicar que há uma enorme confusão no governo Lula e nos setores progressistas da sociedade em geral entre publicidade e informação. Uma coisa é comunicar fatos e realizações do governo, o que é, por óbvio, muito importante. Outra, bem diferente, escreve Nassif no Jornal GGN, é entender as nuances da guerra de informações praticada especialmente pela direita, valendo-se do que Ferreira chama de "bombas de semiótica", que são maneiras de abordar fatos para que eles se tornem o centro da narrativa.

    O bolsonarismo e o trumpismo fazem isso bem, embora apelem para o ridículo, na visão do professor. Eu acrescentaria que, além do ridículo, o centro da estratégia dos neofascistas inclui a mentira, a calúnia e a difamação, ou seja, o crime. 

    O problema para o governo dar o passo adiante necessário para combater com mais eficácia as fake news, ou melhor, se antecipar a elas, é sua decisão política de evitar o confronto a todo custo.

    Só que a avalanche de fake news que inundou as redes no episódio do Pix, quando uma medida corriqueira da Receita Federal foi transformada em taxação dos mais humildes, só reforça a convicção de que sem confronto, sem disputa política a céu aberto, a governo está condenado a ver sua imagem se corroer cada vez mais. 

    Outra constatação dura, mas inescapável para o campo progressista, é o crescimento exponencial de uma verdadeira legião de idiotas entre os brasileiros, fruto de uma espécie de lavagem cerebral moderna, centrada nos algoritmos. Enganou-se redondamente quem achou que a "mamadeira de piroca" nas eleições de 2018 tinha sido o ápice da imbecilização galopante que afeta a nossa sociedade. 

    As mais de 140 milhões de visualizações que o deputado Nikolas Ferreira teve em suas redes sociais ao propagar as fake news mais toscas e grotescas sobre o Pix são de cair o queixo. Aonde vamos parar como nação se um desqualificado oportunista como Nikolas prende a atenção e influencia tantas pessoas?

    Quem se deu ao trabalho de ver seu vídeo se choca mais ainda. Com uma atuação mais competente nas redes por parte do governo e do PT, Nikolas seria desmoralizado com relativa facilidade. O sujeito teve a coragem de disparar contra a política atual do salário mínimo, quando o governo Bolsonaro o congelou por quatro anos. Insistiu na tese de que a Receita queria monitorar o Pix, quando ela sempre fez isso. Apontou como falso o discurso do governo de isentar quem ganha menos do Imposto de Renda, quando foi Lula quem descongelou a tabela, garantiu a isenção já para a faixa de dois salários mínimos, rumo aos R$ 5 mil de isenção, projeto a ser votado este ano pelo Congresso Nacional.

    Uma pergunta: um estrago como o causado pelo episódio do Pix não justificaria uma cadeia de rádio e TV do presidente Lula ou, no mínimo, do ministro Haddad? Ou uma entrevista coletiva dos dois? Tamanha letargia só pode ser explicada pela aversão ao confronto já mencionada neste texto. 

    O que não falta neste governo são bons quadros, capazes de formar o tal grupo multidisciplinar de inteligência estratégica proposto pelo professor Ferreira. Esse núcleo pensante anteveria as ações da extrema direita e proporia os antídotos adequados.

    Por exemplo: no momento em que a Receita começou a rascunhar as mudanças na fiscalização do Pix, o grupo de inteligência analisaria o caso, pesando a reação da extrema direita e aconselharia o governo sobre a viabilidade da medida no momento, ou as ações de prevenção necessárias para enfraquecer os ataques.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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