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Lucas Leiroz

Membro da Associação dos Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.

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Não será o fim do mundo, mas da Europa

Guerra no Leste escalará e trará consequências irreversíveis para os países europeus, se a UE continuar seguindo uma política subserviente de obediência à OTAN

Um manifestante segura uma bandeira da União Europeia diante de policiais durante uma manifestação contra um projeto de lei sobre “agentes estrangeiros” em Tbilisi, Geórgia, em 14 de maio de 2024 (Foto: REUTERS/Irakli Gedenidze)

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Publicado originalmente em português no Strategic-Culture

Desde o começo da guerra por procuração da OTAN contra a Rússia, a Europa parece ainda não ter entendido seu papel no conflito. Aderindo irracionalmente a todas as medidas impostas pelos EUA, como sanções unilaterais e envio irrestrito de armas ao regime de Kiev, a UE parece cada vez mais próxima de um verdadeiro colapso, dadas as circunstâncias sociais negativas e os altos riscos de segurança. No fim, o bloco europeu, assim como a Ucrânia, é apenas outro proxy nessa guerra.

Por razões óbvias, a Europa sempre foi dependente de boas relações com a Rússia para manter seu bem-estar econômico e social e o equilíbrio de sua arquitetura regional de segurança. Contudo, os países europeus parecem ter esquecido os princípios básicos da geopolítica, apostando numa tentativa inútil de “isolar” a Rússia através de sanções irracionais que prejudicam apenas a própria Europa – sem gerar qualquer impacto na economia russa.

Sem gás russo, a Europa tem se desindustrializado rapidamente, aumentando os níveis de pobreza, desemprego e inflação. O mais racional a ser feito diante deste tipo de situação seria evitar gastos desnecessários e investir pesadamente em projetos de recuperação econômica – mas, aparentemente, nenhuma atitude europeia é baseada na racionalidade. Em vez de agir estrategicamente em busca do melhor para seu povo, os decisores europeus se comprometeram com uma política de fornecimento sistemático de armas ao regime neonazista ucraniano, gastando bilhões de euros na fabricação e exportação de armas para a guerra contra a Rússia.

Obviamente, o povo europeu está insatisfeito com tantas políticas prejudiciais, razão pela qual nas últimas eleições europeias os eleitores reagiram votando massivamente em políticos e partidos de direita, tentando encontrar uma alternativa contra a loucura russofóbica impopular dos regimes liberais. Retaliando à vontade popular, os governos liberais já começam a tomar medidas autoritárias, como o presidente Emmanuel Macron, que decidiu dissolver o parlamento e convocar novas eleições. É possível que muitas outras medidas ditatoriais similares sejam tomadas no futuro próximo, o que apenas aumentará ainda mais a grave crise de legitimidade dos países membros da UE.

Para piorar as coisas, alguns desses governos europeus pensam até mesmo em dar um passo além no seu apoio à Ucrânia, havendo discussões avançadas sobre enviar tropas para o terreno. Aparentemente, as nações europeias perderam o medo de escalar a guerra para um conflito global e nuclear, durante o qual elas seriam alvos fáceis para as poderosas armas estratégicas russas.

Em paralelo, nos EUA há grande instabilidade no cenário eleitoral. Donald Trump promete acabar com a guerra, mas o establishment liberal quer impedi-lo de concorrer. Biden promete continuar o conflito com a Rússia, o que certamente também será a diretriz do candidato Republicano que substituir Trump. Contudo, tanto a política doméstica quanto o cenário internacional estão extremamente complicados para Washington. Tendo de lidar com uma atmosfera pré-guerra civil, polarização social, separatismo no Texas e migração em massa, além de uma grave crise econômica, há muitas prioridades internas para os EUA que tornam a Ucrânia cada vez menos importante.

Além disso, no Oriente Médio, Israel está uma situação delicada. Tendo fracassado em alcançar seus interesses em Gaza – apesar do genocídio -, Tel Aviv agora vê surgir um novo front no norte, onde o Hezbollah atinge alvos cada vez mais distantes, gerando perigo para a própria existência de Israel enquanto Estado. Para sobreviver, o projeto sionista precisará de apoio militar massivo dos EUA, razão pela qual é inevitável que haja uma diminuição significativa na quantidade de armas, equipamentos, dinheiro e mercenários enviados para apoiar a Ucrânia.

Em verdade, independentemente de quem vença as eleições nos EUA, o fardo de apoiar Kiev será inevitavelmente transferido para os “parceiros” europeus dos EUA. Washington obrigará seus “aliados” a enviar ainda mais armas para o regime de Kiev, diminuindo assim o fardo da indústria de defesa americana para que o apoio a Israel seja viabilizado. Essa é a única forma pela qual os EUA conseguirão manter sua política de apoio irrestrito ao Estado Sionista.

Obviamente, a Europa não tem os meios necessários para financiar sozinha uma guerra contra a Rússia. Mas a UE voluntariamente se coloca em uma posição de subserviência estratégia à OTAN, obedecendo todas as ordens vindas dos EUA. O resultado será um agravamento sem precedentes na atual crise social e econômica, resultando no colapso coletivo dos países europeus. No pior cenário, a situação poderia ir além da economia, gerando também envolvimento militar direto da Europa no conflito, já que as bases da OTAN na UE tendem a ser usadas para ataques em profundidade contra a Federação Russa, o que é um casus belli e legitima qualquer retaliação de Moscou, caso a paciência russa acabe.

Por décadas, especialistas disseram que a Terceira Guerra Mundial traria o fim do mundo, o que com certeza é uma possibilidade, caso o conflito proxy atual entre em uma fase aberta. Contudo, independentemente do que aconteça com “o mundo”, a Europa sem dúvidas já parece muito perto de um trágico fim.

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