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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Não tirem Pablo Marçal da sala

“Tirar o ex-coach do jogo agora só alimenta a ilusão dos que não conseguem enfrentá-lo e esperam escondê-lo”, afirma o colunista Moisés Mendes

Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YT)

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A democracia também é corrompida pela preguiça dos que deveriam defendê-la. No Brasil, os preguiçosos a abandonaram muito antes do golpe contra Dilma Rousseff, da prisão de Lula e da ascensão de Bolsonaro.

Os preguiçosos entregaram a tarefa de salvá-la ao sistema de Justiça e, nos últimos anos, especialmente a Alexandre de Moraes. É o que esperam que aconteça agora em relação a Pablo Marçal.

Pedem que o sujeito seja contido e tirado de cena, para que a democracia seja salva. Entendem que Marçal, que veio até aqui pulando os muros do próprio sistema de Justiça, com prescrições e outros dribles ainda não bem explicados, continuaria sendo ainda hoje um problema da polícia, do Ministério e do Judiciário.

Mas agora ele é também, e muito, um problema da política, que toma decisões, numa eleição, a partir do voto de cada um. O acolhimento pela política deu a Pablo Marçal a dimensão que ele tem hoje.

Até se lançar a uma empreitada nessa arena, no mais poderoso Estado do Brasil, Marçal era apenas um estelionatário de sucesso. Enganou velhinhas, logrou bancos e levou 30 incautos a uma tempestade na Serra da Mantiqueira.

E assim, por ser pop e estar impune, habilitou-se a disputar espaços entre cobras criadas com seu projeto eleitoral. Se chegou até aqui, se tem a possibilidade real de disputar o segundo turno em São Paulo e se conta até com o suporte de parte da elite empresarial, Marçal está no jogo.

Não engana mais apenas as idosas e os compradores dos seus cursos e livros, mas jovens que o enxergam como o cara que transforma esforços mentais em milhões. Pense em ser rico e até que todos nós poderemos ter um banco.

Marçal se transformou, como político, em dilema da democracia. Contê-lo por seus problemas criminais é tarefa do sistema de Justiça. Contê-lo por seu projeto político é um problema da política.

Tirá-lo do jogo agora porque é agressivo e diz palavrões seria tão artificial quanto escondê-lo atrás de um biombo. Marçal é uma realidade, uma ameaça concreta, porque tem base social, tem eleitor e tem perspectiva de vitória.

Polícia, Ministério Público e Judiciário podem até enquadrá-lo, e é o que deve acontecer se não chegar ao segundo turno e for pisoteado pela própria extrema direita bolsonarista que o rejeita.

Mas nada do que for feito fora da arena da política elimina o que ele representa. Marçal só existe, como existiu Bolsonaro, por ser uma invenção do próprio brasileiro. É uma força política que se sustenta em escolhas e espera ser sustentada pelo voto.

Amordaçar Marçal numa hora dessas, afastando-o dos debates, por exemplo, seria mais do que cumprir o que mandam as regras. Seria uma forma de cometer um autoengano, o de que, se não a enxergamos, a aberração se desfaz.

Não resolve. O que a maioria precisa é olhar na cara de Pablo Marçal, porque a população o inventou, e assegurar a si mesma que pode desinventá-lo. Deixar de vê-lo não resolve.

A democracia, num cenário de eleição e às vésperas da votação, é que deve encarar Pablo Marçal. São as pessoas, os votos, as escolhas. Marçal já é muito mais do que um caso de delegacia de polícia.

É também o resultado da preguiça dos que deveriam defender a democracia, como já fizeram em outros tempos, e hoje esperam que Alexandre de Moraes resolva tudo. Não tirem Pablo Marçal da sala antes da eleição. Não finjam que ele não existe.

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