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Pepe Escobar

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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Nasrallah como mártir/lenda: As terras do Islã prontas para canalizar sua ira

Um símbolo foi destruído. Uma lenda nasceu. A Resistência, mais que nunca, se recusará a recuar.

Hassan Nasrallah (Foto: Reuters/Khalil Hassan)

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Um símbolo foi destruído. Uma lenda nasceu. A Resistência, mais que nunca, se recusará a recuar.

Isso foi colocado não por um xiita, mas por um líder cristão libanês, resumindo o fato de que um verdadeiro ícone do Islã Político é capaz de transcender todas as (artificiais) fronteiras.

Esta década, que defini como os The Raging Twenties (os Frenéticos Anos Vinte), começou com o americaníssimo assassinato com alvo definido do comandante da Força Quds, o General  Soleimani, e do comandante do Hashd al-Shaabi, comandante Abu Mohandes, próximo ao aeroporto de Bagdá.

O General Soleimani, mais que um símbolo, foi o formulador do conceito de Eixo da Resistência. Apesar de todos os revezes, principalmente nas últimas semanas, o Eixo da Resistência está hoje mais forte do que em janeiro de 2020. Soleimani – o mártir, a lenda – deixou um legado sem paralelos que jamais deixará de inspirar a todos os centros oeste-asiáticos da Resistência.

Sayyed Hassan Nasrallah terá o mesmo destino. Mais que um símbolo, ele foi a Face do Eixo da Resistência, extraordinariamente popular e respeitada nas ruas árabes e nas terras do Islã.  Apesar de todos os revezes, em especial nas últimas semanas, o Eixo da Resistência estará muito mais forte nos próximos anos que em setembro de 2024.  

Nasrallah – o mártir, a lenda – deixa um legado comparável ao de Soleimani, por quem, incidentalmente, ele sentia respeito reverencial em questões militares, e com quem sempre aprendia. Como político, entretanto, e como uma figura paterna e fonte de sabedoria espiritual, Nasrallah não tinha rival.

Agora, desçamos das estrelas ao esgoto. 

O reincidente e irredimível criminoso de guerra e genocida psicopata, que viola sistematicamente dúzias de resoluções da ONU, deu as caras na Assembleia Geral da ONU em Nova York e ordenou, de dentro do prédio-sede,  mais um crime de guerra: a destruição de todo um quarteirão no sul de Beirute, com dezenas de bombas destruidoras de bunkers de fabricação americana, inclusive a  BLU-109 com um sistema de orientação precisa – deixando incontáveis civis desaparecidos sob os escombros, entre eles Sayyed Nasrallah.

Enquanto o criminoso de guerra falava à Assembleia Geral da ONU, mais da metade dos delegados se retiraram em massa, deixando o plenário praticamente vazio de diplomatas do Sul Global. O que permaneceram tiveram que assistir mais uma exibição característica de “mapas” com disfunção cognitiva  mostrando os “abençoados” – Arábia Saudita, Sudão, Egito, Jordânia, Emirados – e os “malditos": Iraque, Irã, Síria, Líbano  e Iêmen. 

Um arrivista vil e hidrófobo de origem polonesa – um total impostor que não se qualifica sequer como o mais imundo dos lixos – emitindo juízos sobre civilizações antiquíssimas.

A história é repleta de exemplos de entidades que não se qualificam como verdadeiros estados-nação, mais parecendo infecções bacterianas graves. Sua única especialidade é matar, matar, matar. De preferência civis desarmados – como tática terrorista. Terrivelmente perigosos, é claro. A História também nos conta a única maneira de lidar com essas criaturas. 

Chega de luvas de pelica

Israel matou Sayyed Nasrallah por duas razões principais: 1) Porque ele explicitamente reafirmou que o Hezbollah jamais abandonaria Gaza em troca de qualquer “acordo” que permitisse a continuidade do genocídio e da limpeza étnica total. 2) Porque os fanáticos talmúdicos psicopatológicos  querem invadir e reocupar o Líbano. 

Israel conseguiu encontrar brechas graves na segurança do Líbano – e do Irã. No caso de Beirute, a cidade inteira está infestada de infiltrados. Quinta-colunistas de todos os tipos andam de um lado para o outro fazendo tudo o que querem. O Irã é um caso muito mais grave. Como o Comandante Brigadeiro General Abbas Nilforoushan da  Guarda Revolucionária Iraniana também foi morto ao lado de Nasrallah, em Beirute, a própria Guarda Revolucionária pode ter sido afetada. 

Repensar seriamente a segurança interna, de Teerã a Beirute, se torna agora imperativo. A cuidadosamente construída estrutura do   Hezbollah não irá colapsar com o assassinato de Nasrallah  – independentemente do tsunami de operações psicológicas espalhafatosas de autoria dos  suspeitos de sempre. 

O Hezbollah independe de personalidades. A estrutura é um labirinto, um rizoma – e outros núcleos, devidamente treinados, bem como uma nova liderança, irão surgir, como ocorria com o Vietcong durante a “guerra americana”.

É claro que as guerras são sempre americanas, porque o Império do Caos está fundado em Guerras Eternas. 

Em 1982, a guerra de Israel contra o Líbano foi tão brutal que até mesmo Ronald Reagan – que uma vez ameaçou asfaltar o Vietnã e pintá-lo com vagas de estacionamento – ficou estarrecido. Ele disse ao Primeiro-Ministro Menachem Begin, que ganhou fama como um terrorista do Irgun: “Menachem, isso é um holocausto.”

Mas um corrupto de baixa extração de nome Joe Biden, então senador, comprado e pago pelo lobby sionista,  deu um telefonema a Begin para reassegurá-lo de que “mesmo que todos os civis sejam mortos”, não haveria muito problema.

Como seria de se prever, o então senador, hoje o zumbi pato-manco da Casa Branca, deu seu total apoio ao assassinato de Nasrallah.

A bola, agora, está com a opinião pública de todas as terras do Islã. Quase dois bilhões de muçulmanos participarão, em grande medida, da nova fase do Eixo da Resistência. A máquina de matar, de sua parte, continuará a matar, matar, matar – principalmente civis, mulheres desarmadas e crianças.

Agora, nada impede o Eixo da Resistência de subir o tom. Simplesmente, não há no horizonte diplomacia, compromisso, cessar-fogo, “solução de dois estados” nem qualquer outra tática de procrastinação. Apenas uma luta existencial de vencer ou morrer contra a implacável máquina de morte que exibe, parafraseando (e invertendo)  Yeats, “um olhar vazio e impiedoso como o do sol”. 

Para todos os fins práticos, os verdadeiros (itálicos meus) Frenéticos Anos Vinte começam agora.

E a ira das terras do Islã focará não apenas a máquina de guerra, mas também sua loba de tetas cheias: o Império das Guerras Eternas. 

Irã, Iraque, Síria, Iêmen, Turquia, Paquistão, dezenas de atores da Maioria Global devem estar se preparando para algo inédito em toda a história: “a coordenação máxima de diplomacia, geoeconomia e potencial militar para, finalmente, enfrentar cara-a-cara a infecção bacteriana. 

Um cenário auspicioso agora se torna bastante plausível: os BRICS assumindo o papel de principal canal diplomático para as terras do Islã. O próximo estágio lógico seria tirar a ONU do território israelo-americano e estabelecer sua  sede  em uma nação que realmente respeite o direito internacional humanitário. 

A Maioria Global que vem ganhando importância política criará então sua própria organização das nações realmente unidas – deixando os racistas chafurdando e apodrecendo dentro de seus próprios muros. Enquanto isso, no campo de batalha, não haverá mais luvas de pelica: chegou a hora da morte por mil cortes.   

Tradução de Patricia Zimbres

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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