Nathalia nos trouxe a esperança de um mundo melhor
"Nathália não era só uma jornalista, era uma militante. Uma internacionalista numa era de egoístas", resume Marcelo Uchôa
Assistindo ao Bom Dia do Brasil 247 ainda chocado com a perda irreparável da Nathália Urban. Participei de muitos Veias Abertas com ela. Como leciono Direito Internacional e já cruzei a América Latina quase toda procurando entender as lutas de libertação que moldaram e seguem moldando o cotidiano continental, tínhamos uma ideia dela me convidar pelo menos um vez no mês para o programa.
O Veias Abertas era uma hora inteira de debate sobre os mais diversos cenários políticos da América Latina. Às vezes metíamos Europa, Ásia e África e à parte o “Império” na conversa. Em uma hora conversávamos sobre a realidade de uma dezena ou mais de países. Terminávamos ambos exaustos com tanta informação trocada entre nós dois e o público e comentávamos ao final, off line, o quanto havíamos crescido com o debate.
Sempre me impressionou muito a bagagem intelectual dela, apesar da juventude. Tivemos uma grande conexão político-intelectual. Ela se impressionava com o fato de eu conhecer pessoal e politicamente a América Latina, com destaque especial para os processos revolucionários, de haver estado na Palestina dentro de Israel e fora nos campos refugiados no Líbano, com direito a conhecer gente do Hezbollah, do Fatah, etc. E também acompanhar com interesse, apesar da distância, os processos de lawfare contra o Assange, o Alex Saab e do Rafael Corrêa.
Por outro lado, me impressionava a articulação íntima dela, contato muito próximo mesmo, com a esquerda escocesa, o Sinn Fein irlandês e o eurocomunismo. A Nathália não era só uma jornalista, era uma militante. Fará muita falta. Uma internacionalista comprometida com a libertação de todos os povos oprimidos. Uma internacionalista numa era de egoístas e ególatras.
Não existe outro programa sequer parecido com o Veias Abertas, um programa pensado para refletir especificamente sobre a América Latina sob a perspectiva da esquerda. Era a opção que tínhamos, com alcance importante de audiência, para falar sobre coisas que a imprensa corporativa jamais sequer mencionaria. Durante a pandemia, quando tomou conhecimento que eu estava comprando os produtos orgânicos do MST, ficou maluca para também ter acesso à feira. Falei para ela que a feira não daria para mandar para a Escócia, mas o boné para os raros domingos de sol e a caneca para a hora do chá eu mandaria….
Descanse em paz, Nathália, nada foi em vão. Muito pelo contrário, você trouxe esperança e iluminou a vida de muita gente. Por aqui seguiremos tocando sua sina de buscar um mundo mais justo, humano e livre das amarras do imperialismo e do grande capital. Nathália Urban, Presente!!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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