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    Sara Goes

    Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira

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    Nathalia Urban: A amiga e militante que foi melhor em tudo

    "Nathalia era melhor em tudo, especialmente nas causas em que acreditava. Militava ativamente por um mundo livre, anti-imperialista e justo para todos os povos"

    Nathalia Urban (Foto: Reprodução/Instagram)

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    Conheci Nathalia Urban pelas redes sociais quando eu utilizava um username provocativo para um ativismo tímido e Nathália estampava seu próprio nome em um ativismo corajoso. Nathalia era melhor em tudo. Mais tarde, nos aproximamos quando comecei a trabalhar no DCM e usei como desculpa uma entrevista para conhece-la melhor. O que começou como uma conversa casual logo se transformou em uma amizade forte, mesmo com um oceano nos separando. Achava que Nathalia era alguém privilegiada, com apoio financeiro da família para viver no Reino Unido e para custear a solução de qualquer problema cotidiano que atrapalhasse sua militância. Curiosamente ela tinha uma percepção semelhante sobre mim. Imediatamente depois da nossa primeira conversa descobrimos algo em comum: éramos mulheres batalhadoras, militantes e teimosas na vida.

    Nossa amizade se desenvolveu de forma espontânea e muito rapidamente, cheia de momentos de silêncio que sempre acabavam em reencontros repletos de alegria, risadas e conversas impublicáveis. Nathalia me contava histórias de sua infância na Paraíba, no auge do forró romântico - estilo que, confesso, ainda tenho um carinho especial. Ríamos juntas, lembrando de como, mesmo ela sendo três anos mais nova, nenhuma de nós entendia as letras “salientes” sobre amores ardentes e dolorosos. Brincávamos que talvez fosse essa a origem da nossa busca por um amor perfeito, um companheiro ideal, algo que refletisse o mundo que desejávamos transformar.

    Dividíamos histórias sobre nossas vidas amorosas e ríamos muito das nossas próprias desventuras, enquanto enfrentávamos a rotina de duas mulheres que se sustentavam e tentavam transformar o mundo. Mas Nathalia era melhor em tudo, especialmente nas causas em que acreditava. Ela militava ativamente por um mundo livre, anti-imperialista e justo para todos os povos. Eu assistia, torcia por ela e oferecia um ombro amigo quando o machismo e a falta de sororidade entre os nossos doía.

    Nossas expectativas de vida pessoal às vezes pareciam ir em direções opostas às nossas militâncias. Ambas buscávamos a tal felicidade naqueles moldes tradicionais e pequeno-burgueses. A minha busca era inspirada na relação tradicional dos meus pais, enquanto a dela foi interrompida pelas circunstâncias que a levaram a ser criada por uma mãe solo. Nossas histórias se entrelaçaram novamente quando me tornei mãe solo de um menino lindo, enquanto Nathalia planejava com um casamento tradicional com aquele que acreditava ser seu grande amor.

    Sempre torcemos uma pela outra. Em nossa última conversa, chegamos à conclusão de que finalmente havíamos alcançado a tal felicidade que tanto buscávamos. Nathalia falava com carinho sobre seus planos de ser mãe e de dar um cheiro pessoalmente no meu filho. Estou tentando aceitar o vazio que ela deixou na nossa amizade e no mundo. Mas eu não me conformo porque, de todas as formas, Nathalia sempre foi melhor em tudo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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