Neoliberal: ser ou não ser
Tem gente batendo nessa tecla como se fosse mágica, acham que, carimbando isso, empurram o governo mais para a esquerda no grito
O debate está aí: governo Lula é ou não neoliberal?
Tem gente batendo nessa tecla como se fosse mágica, acham que, carimbando isso, empurram o governo mais para a esquerda no grito.
Só que, enquanto ficam nesse papo, esquecem de olhar para o que está vindo no retrovisor.
O governo Lula, desde 2003, sempre se colocou como, no máximo, reformista.
Com todas as contradições, dentro das diversas conjunturas e ataques que enfrentou, sempre tentou segurar o básico: preservar direitos, travar a pauta ultraliberal.
Agora, se você acha que foi ou está ruim, imagina o que vem se o outro lado levar.
Aí não vai ter nem onde nem o quê segurar.
Voltemos na história um pouquinho.
Vamos para o Chile em 73.
Pinochet derruba Allende, tanque na rua, gente sumindo.
Mas não era só ditadura, era laboratório.
Chicago Boys chegam, vendem tudo, cortam direitos, desmancham sindicatos.
Para eles, “liberdade” é o mercado mandando e o povo calado.
Esse modelo rodou o mundo.
Virou moda com Reagan, Thatcher, FMI.
Repetiram a fórmula: privatiza, desregulamenta, precariza, e, quem reclamar, polícia em cima.
Hoje, o experimento voltou com cara nova.
Milei na Argentina, Bukele em El Salvador, Orbán na Hungria.
Milei faz discurso de doido, grita, xinga, fala que vai destruir o “sistema”.
Mas o plano é velho: vender tudo, acabar com direito trabalhista, extinguir ministérios, colocar servidor e aposentado na parede, deixar o povo à míngua e correr para o colo do FMI.
Quem sobra que aguente.
Bukele é o quê? Neoliberalismo com Wi-Fi e cercadinho digital.
Faz pose de moderninho, aposta em Bitcoin, mas no fundo entrega o mesmo pacote: militarização nas ruas, vigilância total, censura embalada de "ordem" e um Estado que some na hora de garantir direito, mas aparece forte para prender e controlar.
O pobre que se vire, a polícia e o algoritmo resolvem o resto.
Orbán? Outro modelo testado.
Prega conservadorismo, “valores tradicionais”, fala contra o globalismo, enquanto desmonta imprensa livre, aparelha o Judiciário, concentra poder, entrega pedaços da economia para os aliados.
Combina neoliberalismo econômico com autoritarismo político.
Resultado: direitos civis sufocados, oposição esvaziada e o povo controlado entre polícia e propaganda.
E vocês acham difícil que isso não aconteça por aqui de forma radical?
Quem para um governo autoritário ultraliberal? O STF? O MP? As massas que a esquerda de verdade está mobilizando (por que não está)?
Porque é isso que a direita e a extrema-direita estão cozinhando.
E, diferente do que dizem, não é mais do mesmo, não é "aquela conversa de novo".
Não é o que eu quero ou que você quer.
É radicalização pesada.
E não é só local. Tem interesse externo jogando pesado nisso.
Para não dizer que não falei do Trump e seus aliados, já deixaram claro: querem a direita de volta no Brasil, não só por ideologia, mas para enfraquecer os BRICS, travar qualquer projeto de soberania no Sul Global.
Pode cobrar o governo, criticar, pressionar. Normal.
Mas se ajudar a abrir caminho para esses caras, depois não adianta chorar.
O Chile ensinou.
Milei, Bukele, Orbán estão aí mostrando.
E se você acha que esse é o raciocínio falacioso de um lulista fanático, para sua infelicidade, devo dizer que você está enganado. Eu posso estar equivocado, mas não por fanatismo e cegueira.
É só alguém que olha para o tabuleiro inteiro e tenta reconhecer quando o risco é maior do que a birra.
A pergunta continua: vamos deixar o Brasil virar mais um laboratório?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: