TV 247 logo
    Ricardo Queiroz Pinheiro avatar

    Ricardo Queiroz Pinheiro

    Bibliotecário e pesquisador, militante do livro e leitura, doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC)

    13 artigos

    HOME > blog

    Neoliberal: ser ou não ser

    Tem gente batendo nessa tecla como se fosse mágica, acham que, carimbando isso, empurram o governo mais para a esquerda no grito

    19.03.2025 - Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia de Inauguração da Barragem de Oiticica, em Jucurutu-RN (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

    O debate está aí: governo Lula é ou não neoliberal?

    Tem gente batendo nessa tecla como se fosse mágica, acham que, carimbando isso, empurram o governo mais para a esquerda no grito.

    Só que, enquanto ficam nesse papo, esquecem de olhar para o que está vindo no retrovisor.

    O governo Lula, desde 2003, sempre se colocou como, no máximo, reformista.

    Com todas as contradições, dentro das diversas conjunturas e ataques que enfrentou, sempre tentou segurar o básico: preservar direitos, travar a pauta ultraliberal.

    Agora, se você acha que foi ou está ruim, imagina o que vem se o outro lado levar.

    Aí não vai ter nem onde nem o quê segurar.

    Voltemos na história um pouquinho.

    Vamos para o Chile em 73.

    Pinochet derruba Allende, tanque na rua, gente sumindo.

    Mas não era só ditadura, era laboratório.

    Chicago Boys chegam, vendem tudo, cortam direitos, desmancham sindicatos.

    Para eles, “liberdade” é o mercado mandando e o povo calado.

    Esse modelo rodou o mundo.

    Virou moda com Reagan, Thatcher, FMI.

    Repetiram a fórmula: privatiza, desregulamenta, precariza, e, quem reclamar, polícia em cima.

    Hoje, o experimento voltou com cara nova.

    Milei na Argentina, Bukele em El Salvador, Orbán na Hungria.

    Milei faz discurso de doido, grita, xinga, fala que vai destruir o “sistema”.

    Mas o plano é velho: vender tudo, acabar com direito trabalhista, extinguir ministérios, colocar servidor e aposentado na parede, deixar o povo à míngua e correr para o colo do FMI.

    Quem sobra que aguente.

    Bukele é o quê? Neoliberalismo com Wi-Fi e cercadinho digital.

    Faz pose de moderninho, aposta em Bitcoin, mas no fundo entrega o mesmo pacote: militarização nas ruas, vigilância total, censura embalada de "ordem" e um Estado que some na hora de garantir direito, mas aparece forte para prender e controlar.

    O pobre que se vire, a polícia e o algoritmo resolvem o resto.

    Orbán? Outro modelo testado.

    Prega conservadorismo, “valores tradicionais”, fala contra o globalismo, enquanto desmonta imprensa livre, aparelha o Judiciário, concentra poder, entrega pedaços da economia para os aliados.

    Combina neoliberalismo econômico com autoritarismo político.

    Resultado: direitos civis sufocados, oposição esvaziada e o povo controlado entre polícia e propaganda.

    E vocês acham difícil que isso não aconteça por aqui de forma radical?

    Quem para um governo autoritário ultraliberal? O STF? O MP? As massas que a esquerda de verdade está mobilizando (por que não está)?

    Porque é isso que a direita e a extrema-direita estão cozinhando.

    E, diferente do que dizem, não é mais do mesmo, não é "aquela conversa de novo".

    Não é o que eu quero ou que você quer.

    É radicalização pesada.

    E não é só local. Tem interesse externo jogando pesado nisso.

    Para não dizer que não falei do Trump e seus aliados, já deixaram claro: querem a direita de volta no Brasil, não só por ideologia, mas para enfraquecer os BRICS, travar qualquer projeto de soberania no Sul Global.

    Pode cobrar o governo, criticar, pressionar. Normal.

    Mas se ajudar a abrir caminho para esses caras, depois não adianta chorar.

    O Chile ensinou.

    Milei, Bukele, Orbán estão aí mostrando.

    E se você acha que esse é o raciocínio falacioso de um lulista fanático, para sua infelicidade, devo dizer que você está enganado. Eu posso estar equivocado, mas não por fanatismo e cegueira.

    É só alguém que olha para o tabuleiro inteiro e tenta reconhecer quando o risco é maior do que a birra.

    A pergunta continua: vamos deixar o Brasil virar mais um laboratório?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: