No meio da guerra comercial global, o Brasil tem tudo para sair no lucro
O Brasil saiu praticamente ileso do tarifaço de Trump e pode ganhar espaço no mercado chinês
No tabuleiro geopolítico atual, marcado pela escalada na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, o Brasil está em posição privilegiada para transformar esta turbulência internacional em oportunidade estratégica. Apesar do tarifaço imposto por Washington sobre o aço e o alumínio importados, o Brasil conseguiu negociar condições mais favoráveis do que outros parceiros comerciais. E, se souber jogar com inteligência, pode emergir não apenas praticamente ileso, mas com vantagens competitivas duradouras.
O mérito desta posição relativamente confortável deve-se, em grande medida, à habilidade diplomática do Itamaraty, que fez com o que o Brasil, a despeito das supostas hostilidades entre os governos de Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, saísse quase ileso, com uma taxação extra de 10% – a menor aplicada pelos Estados Unidos.
O resultado é fruto de uma estratégia diplomática sólida, conduzida por uma equipe que alia experiência e pragmatismo. O embaixador Maurício Lyrio, sherpa do G20 e uma das principais figuras da diplomacia econômica brasileira, tem sido uma peça-chave nas articulações internacionais do governo Lula, especialmente na troika do G20, que inclui Brasil, sede do encontro de 2024, África do Sul, sede deste ano, e Estados Unidos, sede do ano que vem. Em Washington, a embaixadora Maria Luiza Viotti exerce com competência sua missão num momento delicado da relação bilateral, enquanto o chanceler Mauro Vieira mantém uma postura que combina serenidade e firmeza. A decisão de não partir para o confronto, mas sim investir em diálogo técnico e reposicionamento estratégico, mostra maturidade.
Se o Brasil se saiu bem até agora, isso se deve, sobretudo, à competência técnica dos quadros do Itamaraty, ainda que nas hostes da extrema-direita circule a versão ridícula, que beira o absurdo, de que o Brasil teria sido ajudado pelo deputado Eduardo Bolsonaro, autoexilado nos Estados Unidos, quando o interesse óbvio do clã bolsonarista é causar prejuízos econômicos ao País para tentar faturar politicamente.
Além da tarifa reduzida, o Brasil também negocia a definição de cotas de exportação de aço e alumínio para o mercado estadunidense. Embora qualquer restrição comercial seja, por definição, um entrave, o espaço para exportação com taxa reduzida oferece vantagens reais frente a concorrentes que ficaram à margem dessas tratativas. Como destacou o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, "mesmo a tarifa mínima é ruim", mas ela abre margem de negociação — e o Brasil já tem nova reunião marcada com os Estados Unidos para avançar nesse tema na próxima semana.
A retaliação chinesa, as exportações do agro e a reindustrialização nacional
Do outro lado do mundo, a China retaliou com força ao aumento tarifário estadunidense. A imposição de tarifas de 34% sobre todos os produtos dos EUA praticamente inviabiliza parte significativa das exportações agrícolas norte-americanas para o gigante asiático. Esse vácuo abre um horizonte para o agronegócio brasileiro, que já é um player dominante no comércio com a China. A soja, o milho, as carnes e até o algodão brasileiros tendem a ganhar mais espaço no mercado chinês, aumentando as receitas do setor e reforçando a balança comercial nacional.
Os possíveis desdobramentos vão além das exportações. A fragmentação das cadeias globais de valor, acelerada pela guerra comercial e pelo novo contexto geopolítico, tem estimulado a chamada prática de nearshoring — a relocalização de indústrias para países mais próximos aos centros consumidores. O Brasil, com sua infraestrutura industrial instalada, energia renovável abundante, mercado interno robusto e hoje com um governo internacionalmente respeitado, na figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresenta-se como um destino natural para indústrias que buscam um ponto estratégico de produção para abastecer o Brasil, a América Latina e até outras regiões das Américas.
Essa tendência pode funcionar como um gatilho para a tão desejada reindustrialização brasileira, apoiada pelo programa Nova Indústria Brasil. Se bem conduzido, o movimento pode atrair investimentos, gerar empregos e reposicionar o país como protagonista industrial, numa época em que as economias avançadas olham com mais desconfiança para a dependência das cadeias asiáticas.
O cenário global é de guerra comercial, e o instinto imediato seria o de recuo e cautela. Mas o Brasil, com competência diplomática, pragmatismo político e visão estratégica, tem a chance de colher benefícios. Transformar crise em oportunidade é a arte dos que sabem ler o tempo histórico — e, neste momento, o Brasil, como um grande país neutro, tem a rara chance de transformar incertezas em conquistas econômicas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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