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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Nunca, antes, na história um presidente foi tão abrangente

Lula, de verdade, levou à ONU as suas preocupações. Agora, resta ver se os seus integrantes irão abraçá-las

Lula na 79ª Assembleia Geral da ONU (Foto: Reuters/Mike Segar)

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Nunca, antes, na história... Um presidente ousou fazer um discurso tão abrangente, que colocasse o dedo em feridas expostas há muito, mas que vêm sendo obscurecidas por falas apenas “amáveis”, nos últimos anos, para costear questões de fundo, que estão aí a olhos vistos, mas que não costumam ser tratadas com a seriedade e a sobriedade com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva às enfrentou diante de um plenário cheio e atento.

Às vésperas de completar 80 anos, a ONU, em sua sede, recebeu críticas ácidas, não só quanto ao formato, mas também em relação à perda de poder de conduzir decisões importantes, diuturnamente ignoradas. Quanto ao formato, Lula lembrou que durante todos esses anos, a casa jamais foi capaz de empreender reformas e modernizações suficientes para abranger as mudanças do mundo globalizado. 

Apontou que um continente do peso da África continua sendo ignorado, bem como a América Latina, ambos sem voz ou peso. Para exemplificar, o presidente citou que qualquer país da África ao pedir um empréstimo, paga juros oito vezes maiores que os pagas pela Alemanha. Não disse, mas em sua fala estava a denúncia de que o mundo continua guiado por poderosos brancos, europeus.

Não se furtou a falar das questões internas, citando a crise climática e suas consequências para o seu país, como as enchentes no Sul e a ação criminosa dos que, de maneira “messiânica”, radical, se colocam contra o país, com incêndios e ações criminosas como o “garimpo ilegal”.  

Atacou de forma contundente um ponto pelo qual vem se batendo: os gastos militares com armamentos, que “cresceram pelo nono ano consecutivo, atingindo dois trilhões e 400 milhões de dólares”, trazendo, segundo ele, à memória, os conflitos “estéreis” da guerra fria”. Conclamou a todos ao diálogo e ofereceu os seis pontos consensuados entre China e Brasil para o fim das hostilidades entre Rússia e Ucrânia. Protestou de maneira enfática quanto ao massacre contra mais de 40 mil mulheres e crianças em Gaza, que definiu como “uma das maiores crises humanitárias recentes”, e apontou para o risco da expansão deste conflito para o Líbano. “O direito de defesa transformou-se no direito de vingança”, resumiu.

Não se esqueceu de áreas tratadas de maneira menos nobre pela mídia mundial: os conflitos do Sudão e o do Iémen. Tampouco deixou de citar os 733 milhões de famélicos no mundo. Nesse ponto, destacou a desigualdade, falando abertamente das empresas que lucram desavergonhadamente e dos bilionários, que não abrem mãos dos seus lucros, mesmo estando rodeados dessa miséria. Chamou a atenção para a interdependência entre os países, e do quanto os abusos dos que exploram o planeta tem levado a uma cobrança imediata dos acordos climáticos que não são cumpridos.

Censurou, como faz desde a primeira vez que se pronunciou na ONU, as sanções impostas à Cuba, que penaliza não apenas ao governo, mas a toda a população.

Lula não deixou de lado, principalmente, a questão de gênero, no que foi aplaudido entusiasticamente por sua mulher, Janja da Silva, na plateia, ladeada pelo assessor especial da Presidência, Celso Amorim e o chanceler, Mauro Vieira. Lembrou que nos 80 anos de existência a ONU nunca teve no cargo de diretor geral uma mulher. Momento em que foi aplaudido pelo plenário, no meio do seu discurso. E, ainda falando da ONU, sugeriu uma mudança da “Carta” das Nações Unidas, para que sejam incluídas questões climáticas e das plataformas digitais, além da Inteligência Artificial, “que deve contribuir para a paz e não se transformar em arma de guerra”.

Prometeu fazer das reuniões do G-20, que acontece em novembro, no Rio, e as reuniões do G-77 e do G-20, fóruns de debate das mudanças que gostaria de ver implementadas na ONU, fundada com 51 países e hoje contando com 183. 

Voltou a repisar a necessidade da reformulação do Conselho de Segurança, onde cinco vencedores da Segunda Guerra Mundial ainda ditam as regras para os demais países, com poder de veto às suas resoluções. Não se concebe, segundo Lula, a “exclusão da África e da América Latina, época de um passado colonial”, definiu.

Por fim, introduziu à discussão mais um ponto de modernidade. Ao tocar no X, de plataformas que não se subjugam às leis dos países onde atuam. Aproveitou para reivindicar que a Inteligência Artificial “promova a integridade das populações e sejam ferramentas de paz e não de guerra”.

Para encerrar, voltou ao tema desigualdade, lembrando que no G-20, organizado desta vez pelo Brasil, espera que os países se unam numa “Aliança Global contra a fome”, que será lançada durante o encontro no Brasil. E, por fim, para encerrar, conclamou a “todos os países” a lutar pela inclusão na Carta das questões climáticas. “A vontade da maioria deve persuadir” os demais, “aqui, onde buscamos as responsabilidades de todos do planeta”. Lula, de verdade, levou à ONU as suas preocupações. Agora, resta ver se os seus integrantes irão abraçá-las.

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