Lula é aplaudido ao defender reforma da ONU, "cada vez mais esvaziada e paralisada"
"Não podemos esperar por outra Grande Guerra para só então construir sobre os seus escombros uma nova governança global”, advertiu o presidente brasileiro
247 - Na abertura da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (24), o presidente Lula (PT) foi enfático ao abordar a necessidade urgente de uma reforma ampla na organização. Seu discurso, que foi recebido com aplausos por líderes mundiais e diplomatas, criticou o que ele chamou de esvaziamento e paralisia da ONU diante dos desafios contemporâneos.
“A Carta das Nações Unidas, prestes a completar 80 anos, nunca passou por uma reforma abrangente. Apenas quatro emendas foram aprovadas, todas elas entre 1965 e 1973”, destacou o presidente. Para ele, a estrutura atual da ONU não responde adequadamente aos problemas globais, deixando questões cruciais como mudanças climáticas, desigualdade e conflitos internacionais sem uma governança à altura.
A exclusão de países e a urgência de mudança
Lula enfatizou que, quando a ONU foi fundada, em 1945, contava com 51 membros, enquanto hoje são 193 nações. O presidente criticou o fato de que muitas dessas nações, especialmente no continente africano, ainda estavam sob domínio colonial à época e não participaram da formulação dos princípios e funcionamento da organização. Ele também apontou para a exclusão de continentes como América Latina e África de assentos permanentes no Conselho de Segurança, classificando isso como um "eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial".
“O Conselho de Segurança deve passar por uma reforma em sua composição, métodos de trabalho e direito de veto, de modo a torná-lo mais eficaz e representativo das realidades contemporâneas”, defendeu. Para Lula, a ONU precisa refletir as vozes de todas as nações e enfrentar os desafios globais com mais legitimidade e participação.
O papel da ONU no século XXI
Em seu discurso, Lula apontou que o fim primeiro quarto do século XXI chega com a ONU "cada vez mais esvaziada e paralisada", destacando que a organização precisa urgentemente de uma ampla revisão de sua Carta. Ele propôs a transformação do Conselho Econômico e Social em um órgão central para tratar do desenvolvimento sustentável e do combate às mudanças climáticas, além de inspirar as instituições financeiras a adotarem um papel mais ativo nessas questões.
“Não bastam ajustes pontuais. Precisamos contemplar uma ampla revisão da Carta”, afirmou. Segundo ele, a Assembleia Geral também deve ser revitalizada, ampliando seu papel em questões de paz e segurança internacionais, além do fortalecimento da Comissão de Consolidação da Paz.
Lula reconheceu que a reforma enfrentará resistência de países e blocos que se beneficiam do atual modelo, mas afirmou que essa é uma responsabilidade inescapável: “não tenho ilusões sobre a complexidade de uma reforma como essa, que enfrentará interesses cristalizados de manutenção do status quo. Exigirá enorme esforço de negociação. Mas essa é a nossa responsabilidade”.
A urgência de uma nova governança global
Em uma das passagens mais contundentes do discurso, o presidente brasileiro alertou para a necessidade de agir antes de uma nova tragédia global: “não podemos esperar por outra tragédia mundial, como a Segunda Grande Guerra, para só então construir sobre os seus escombros uma nova governança global”.
Lula concluiu seu discurso com um apelo à Assembleia Geral da ONU, destacando o papel central do multilateralismo e o poder desse fórum para pavimentar o caminho para o futuro. "Aqui travamos os grandes debates do mundo. Neste foro buscamos as respostas para os problemas que afligem o planeta", disse, ressaltando a importância da ONU como espaço de diálogo e ação.
Com seu discurso, Lula reforçou a liderança do Brasil no debate sobre a reforma das instituições internacionais, reiterando que promoverá essa discussão de forma transparente em fóruns como o G77, o G20, o BRICS e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Aplaudido, ele se posicionou como um dos grandes defensores de um multilateralismo mais justo e inclusivo, alinhando-se às demandas de países do Sul Global por mais representatividade e poder nas decisões globais.
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