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    Edmar Antonio de Oliveira

    Administrador pela puc minas

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    O "anarco-capitalismo" não existe, mas o anárquico-capitalismo deve ser inserido no debate político

    O termo "anarco-capitalismo" promove uma situação completamente inusitada de reunir dois termos contrários, figurando o equivalente a dizer "subir para baixo" ou "cair para cima"

    Cores do anarco-capitalismo (Foto: reprodução)

    Embora o título desta obra talvez cause dupla estranheza a muitos leitores, é de suma importância se discutir duas questões apresentadas nele. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer este grupo denominado pela sigla "ancaps" como uma corrente legítima nas discussões nacionais, por mais que sua ideologia receba inúmeras críticas, inclusive deste que vos escreve. Mas é inegável que tais idéias se estabeleceram de forma concisa entre uma parcela da juventude nas redes sociais a partir de 2008, quando se debatia os caminhos a seguir em mais uma crise cíclica do capitalismo. 

    Assim, seus adeptos se espalharam, amadureceram naquilo que é possível e já não podem ficar à margem dos debates sobre os rumos do País, embora a discordância de suas posições seja quase uma unanimidade nas esferas onde as decisões se pautam em dados, aplicações, resultados e aplicações concretas.

    Mas para que seja possível a inserção deste grupo de maneira séria, é preciso que os mesmos dêem um primeiro e simbólico passo, ajustando o nome de sua ideologia a partir de uma coerência semântica e prática. 

    O termo "anarco-capitalismo" foi cunhado pelo escritor Murray Rothbard em seu artigo "Os libertários são anarquistas?”, obra essa em que o autor, a fim de demonstrar a validade de seu neologismo, cria uma classificação bastante curiosa sobre vários tipos de anarquismo, como a estranha vertente "anarco-comunismo", juntando em um mesmo termo, correntes ideológicas rivais quanto ao método de tomada do poder. 

    Fato é que o termo anarquismo, bem como sua simplificação "anarco" é um conjunto de idéias concreto e conciso, com significado próprio e claro. Os anarquistas, assim como os comunistas, enxergam na estrutura do Estado uma construção da classe burguesa para manutenção do capitalismo e da propriedade privada dos meios de produção. 

    A principal diferença, grosso modo, entre essas duas correntes nascidas no século XIX, algumas décadas antes do nascimento de Rothbard, está na maneira em como lidar com o Estado, a fim de alcançar o objetivo final de tomar os meios de produção das mãos dos burgueses e instalar regimes socioeconômicos a partir das premissas de propriedade coletiva dos meios de produção (importante frisar que se trata de meios de produção, ou seja, máquinas, terras, indústrias, etc, nada de roupas ou casas). 

    Os comunistas acreditam em tomar o estado para si, usá-lo como arma contra a burguesia e depois desmantelá-lo, enquanto os anarquistas preferem destruí-lo de uma vez, a fim de evitar os perigos e tentações autoritárias inerentes ao fascínio que o poder pode causar aos homens. 

    Nesse sentido, é extremamente complexo falar de forma séria em "anarquismo comunista". 

    Mais complexo ainda é o termo "anarco-capitalismo", que promove uma situação completamente inusitada de reunir dois termos contrários, figurando o equivalente a dizer "subir para baixo" ou "cair para cima". Além do erro semântico, são comuns os protestos e acusações de uso fraudulento do termo pelos anarquistas, de fato, sejam insurrecionários ou anarco-sindicalistas, contra a vertente ideológica em questão.

    Neste caso, caberia aos "anarco-capitalistas" ignorar o termo criado pelo senhor Rothbard e retornar a denominações mais antigas como "libertários de direita" ou aderir a novas denominações como "ultraliberais" ou "liberais radicais"? Bem, não seria este o caso. Bastaria apenas fazer uma adaptação mais honesta, que não tenha passado pela mente do escritor a época da publicação de seus trabalhos. 

    Basta adotar a denominação Anárquico-capitalismo e uma série de problemas estará solucionada. Vejamos então se este termo estaria correto. 

    Conforme o dicionário Michaelis, o termo "anarquia" significa sistema político e social baseado na negação do princípio de autoridade governamental; negação de qualquer princípio de autoridade; estado de um povo em que o poder governamental, de onde emana o equilíbrio da estrutura política, social e econômica, de fato ou virtualmente, desapareceu; de modo geral, ausência de governo, de liderança; desordem por ausência de autoridade reguladora; desregramento, desorganização, ausência de direção ou normas reguladoras.

    Tendo em vista uma ideologia que pretende a completa eliminação da figura estatal, mas não da propriedade privada, parece bastante adequado. Por outro lado, pode-se falar do conceito de "anarquia da produção", usado para descrever a falta de ordem (no sentido de controle por algum órgão externo às empresas) do sistema produtivo de livre concorrência no sistema capitalista.

    Pode-se dizer que o termo é bastante adequado, em perfeita consonância com os ideais e a visão de mundo pregada pelos “ancaps” e sua adoção significaria o fim das divergências linguísticas e ideológicas, o confronto com os grupos anarquistas e se apresentaria como uma demonstração de maturidade da própria linha de pensamento. 

    Isso feito seria um passo essencial para a inclusão de forma séria dos libertários de direita no lugar a quem devem pertencer como vozes relevantes a serem ouvidas nos debates sobre as questões nacionais. Mesmo que para a discordância da ampla maioria dos envolvidos nele.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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