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    Tereza Cruvinel

    Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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    O barco faz água e Bolsonaro busca um bote salva-vidas

    A jornalista Tereza Cruvinel escreve sobre a crise mais grave do governo Bolsonaro, que pode ter tintas definitivas, e de sua tentativa desesperada de salvar-se: "Buscando um bote salva-vidas, um seguro-impeachment, Bolsonaro atira-se aos braços do centrão". Ela, entretanto, adverte: "nas próximas horas a água ainda vai subir mais, vinda do STF"

    Jair Bolsonaro, Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto e Sérgio Moro (Foto: Júlio Nascimento/PR | Câmara dos Deputados | ABr)

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    Por Tereza Cruvinel, para o Jornalistas pela Democracia -  Os últimos movimentos de Bolsonaro falam de um presidente que começa a se desesperar diante dos sinais de deterioração de seu governo e do cerco que vai se fechando contra ele. Bolsonaro busca um bote salva-vidas e por isso rifa Moro, negocia com o que há de mais fisiológico e velha política no Centrão, escreve mensagem de contrição democrática ao ministor Toffoli e ameaça jogar também Paulo Guedes ao mar.

    A indulgência do  sistema jurídico-político foi grande mas ele apostou alto demais contra as instituições, contra os outros poderes e federação, e finalmente contra a própria população, ao sabotar os esforços para conter os efeitos da pandemia de Covid19.  Ele mesmo forçou a formação de uma coalizão contra ele, integrada pelos governadores,  o Congresso, o STF e a sociedade civil democrática.  Isso é a frente ampla. A palavra impeachment agora é pronunciada sem rodeios.

    Nessa crise com o ministro Moro, que atravessou o dia sem desfecho, as motivações de Bolsonaro são óbvias.  Ele precisa de um diretor da PF para chamar de seu, que lhe deva o cargo e possa controlar os inquéritos sobre fake news e sobre quem bancou os atos golpistas de domingo, comandados pelo STF.  Pediu a cabeça do atual diretor Maurício Valeixo sabendo que Moro não aceitaria. A carta branca para comandar a PF foi dada a Moro ao ser convidado para o cargo, assim como a promessa de uma cadeira no STF. 

    Até aqui, Moro foi útil. Na campanha, emprestou a Bolsonaro a bandeira do combate à corrupção e engrossou o bolsonarismo radical com a ala morista/anti-petista.  Ministro, ao governo conferiu prestígio e um certo verniz, derivado da alta aprovação a sua trajetória de justiceiro da Lava Jato. Agora, Bolsonaro precisa muito mais de um comandante leal da PF do que de um ministro da Justiça que, além de tudo, faz-lhe sombra e até pensa em ser candidato em 2022.  Ele e Moro dificilmente se entenderão em torno de um nome comum. Bolsonaro quer um nome seu, não quem deva o cargo ao ministro.

    O custo será a perda de uma fração importante do bolsonarismo, que antes de aderir ao candidato Bolsonaro em 2018, era morista e lavajatista. E antipetista.

     Buscando um bote salva-vidas, um seguro-impeachment, Bolsonaro atira-se aos braços do centrão. E estas negociações significarão uma traição a parte da base, a quem prometeu acabar com a “velha política”.   Empossado, não respeitou a exigência do sistema que temos, não montou uma coalisão. Pensou governar quatro anos usando as redes sociais para pressionar o Congresso a aprovar o que pedia. Não funcionou. Quando a economia não respondeu às políticas de Guedes, e as estrepolias políticas de Bolsonaro o levaram ao isolamento, o Congresso começou a jogar com autonomia, rejeitando ou deixando caducar MPs do Governo.  Mas não é pelas reformas nem pelas MPs que Bolsonaro se rende ao Centrão. É para garantir votos contra um eventual impeachment ou para a negação de uma licença para processo que venha a ser pedida pelo STF.

     Para o bolsão radical, Bolsonaro tornou-se a moralidade, na medida em que se ligou a Moro. O mito era também a “nova política”, e isso exigia distância dos velhos políticos.  E era também a política econômica neoliberal de Guedes, que viu agora o general Braga Neto, presidente operacional, anunciar um plano de investimento de viés estatista para a pós-pandemia absolutamente contrário à sua crença de que não será o Estado, mas a própria iniciativa privada, que ressuscitará a economia em coma.

    E com isso, antes que o galo cante Bolsonaro nega três vezes o que prometeu na campanha. O nome disso é estelionato eleitoral.  

    Mas nas próximas horas a água ainda vai subir mais, vinda do STF.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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