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    Ricardo Nêggo Tom

    Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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    O capitalismo acabou com o futebol brasileiro

    "A 'neymarização' econômica da maior paixão nacional se reflete no comportamento dos jogadores dentro e fora de campo", escreve Ricardo Nêggo Tom

    Seleção brasileira (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

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    Serei tão breve quanto a participação da seleção brasileira de futebol na Copa América 2024 para falar sobre a vergonha que o nosso futebol anda exibindo orgulhosamente como troféu há mais de duas décadas. Não apenas pelo vexame da recente eliminação para o Uruguai, mas, principalmente, pelo contexto social e político no qual a Confederação Brasileira de Futebol se encontra. Uma instituição corrupta, comandada por gente corruptível e que nunca teve um projeto para manter minimamente estruturado o esporte mais praticado no país. A CBF é o Rio de Janeiro das confederações de futebol, onde os seus governantes, se já não foram afastados ou presos, ainda serão. E ninguém consegue acreditar na inocência deles.

    O processo de transição da era Tite – que foi um grande fiasco, diga-se de passagem – para o atual momento, que tem tudo para superar o fiasco anterior, foi de um amadorismo varzeano. Primeiro, a promessa de trazer Carlo Ancelotti, algo que eu nunca acreditei que aconteceria, e colocar Fernando Diniz como interino. Dois estilos de jogo completamente diferentes, mas que, na opinião do senhor Ednaldo Rodrigues, havia coerência na escolha. Ancelotti não veio, Diniz não durou 6 meses no cargo, e Dorival Júnior, que há dois anos era treinador do modesto Ceará, foi escolhido como a nova salvação da lavoura arcaica chamada CBF. Um técnico que é considerado muito gente boa no meio, mas não tem colhões o suficiente para se impor sobre o “neymarizado”, mimado e superestimado grupo de jogadores que ele se vê obrigado a convocar.

    Uma prova de que Dorival não tem moral entre os atletas é a cena onde ele aparece fora da rodinha dos jogadores antes das cobranças de pênalti, tentando se fazer ouvir por eles. Foi constrangedor ver o comandante do grupo levantando o dedinho indicador timidamente para pedir a palavra, enquanto os seus autossuficientes jogadores decidiam o que fazer, erguendo as mãos para o céu e rezando, talvez para que o deus capital os ajudasse a vencer a disputa. Provavelmente, a decisão de escalar o zagueiro Éder Militão como o primeiro batedor tenha partido dos atletas. É bem provável também que Dorival nem tenha escalado os demais batedores. Ainda sobre o jogar rezando ou orando, como queiram, é preciso pontuar que, desde que essa chatice oportunista e religiosamente sistêmica, travestida de fé, se espalhou no meio do nosso futebol, não ganhamos mais nada. Saudade do tempo em que jogadores comemoravam seus gols com os punhos cerrados ou socando o ar.

    Neymar é o símbolo máximo do atual futebol brasileiro. Tanto por ser tecnicamente o melhor jogador surgido no país nos últimos 15 anos, como por emprestar o seu nome para o sistema político, social e econômico vigente neste mesmo futebol. A “neymarização” da maior paixão nacional é a principal causa do insucesso da seleção brasileira. E nem Guardiola daria jeito nisso. Neymar também se diz 100% Jesus, em que pese ele seja 1000% capital e não esteja nem um pouco preocupado em conquistar títulos importantes com a seleção do seu país. Nunca esteve, e não estará agora em final de carreira. Diferentemente de Messi, que conquistou a sua tão sonhada Copa do Mundo aos 45 do segundo tempo, e Cristiano Ronaldo, que entrega a alma jogando por sua seleção.

    O comportamento dos atuais jogadores da seleção, e também do futebol brasileiro, é pautado na figura de Neymar. Gabigol, do Flamengo, é um exemplo. Por ter conquistado alguns títulos importantes pelo clube, começou a posar de pop star e a se achar maior do que a instituição. Foi devidamente enquadrado pela direção e está de saída da Gávea. Neymar se acha maior do que a seleção brasileira porque o capitalismo que garante o seu altíssimo poder econômico o faz pensar assim. Aliás, ele se acha maior do que o povo do seu próprio país, ao defender a privatização de praias para expandir ainda mais os seus negócios e potencializar ad eternum o seu poder econômico. Neymar não se acha um deus, ele tem certeza que é. E os jogadores da seleção estão indo pelo mesmo caminho de soberba e arrogância, tendo o capital financeiro como profissão de fé.

    O menino Ney, apesar de sua figura socialmente execrável, ainda pode ostentar qualidade técnica. Os demais, não. São apenas bons jogadores, quando muito, superestimados pelo poder do capital que compra os seus passes por valores absurdos e os transformam em robôs táticos a serviço dos clubes que passam a defender. Precisamos falar sobre a colonização do futebol brasileiro, onde os nossos jogadores são desconstruídos de sua essência técnica na Europa, e não conseguem jogar pela seleção o que se espera deles. Essa história de que o futebol mudou e de que não tem mais bobo no futebol é o bicho-papão do comunismo que come criancinha e o cérebro de adultos alienados. Ainda existem bobos no futebol sim, e o Brasil está se tornando um deles quando visa apenas o lucro na venda de jovens jogadores, fortalecendo o futebol europeu, enfraquecendo a sua tradição e destruindo a sua história de melhor futebol do mundo.

    O nosso futebol arte não existirá mais, assim como o Maracanã, que um dia foi o maior estádio do mundo, também não existe mais com tamanha grandeza. Diminuímos o nosso gigante para cabermos dentro da pequenez do futebol capitalista europeu. Uma Europa que só é considerada primeiro mundo graças à exploração de outros continentes e à escravização de seus povos para o seu progresso econômico. Da mesma forma, o futebol europeu só é considerado o melhor do mundo graças à presença de jogadores oriundos desses continentes historicamente colonizados. O futebol brasileiro acabou. Conformemo-nos. A maioria dos jogadores da atual seleção pode andar tranquilamente pelas ruas que não será reconhecida. Eu, que acompanho futebol há algum tempo, não reconheceria metade deles.

    Da mesma forma, eles não se reconhecem mais como jogadores brasileiros. Isso explica a falta de sinergia e identificação entre eles e a torcida. Temos um craque que nunca será um ídolo, pois não tem postura social para tal. Seu carisma é negativo. Quase ninguém mais assiste aos jogos da seleção, por causa dessa “neymarização” sistêmica. Jogadores comendo carne folheada a ouro em “nome de Jesus” e sendo eliminados pela possante Croácia em nome da falta de futebol. Capitalismo 7x1 Futebol. Nem o Galvão Bueno indignado e soltando o verbo após mais uma eliminação vergonhosa nós temos mais. Nos sobra um narrador bajulador e preocupado em não desvalorizar o péssimo produto que a emissora precisa vender. Acabaram-se os jogadores, acabou o encanto, acabou a identidade, acabou o respeito pela nossa essência futebolística, acabou a vergonha, acabou o futebol brasileiro. Fim.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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