O castelo de cartas do Estado Mínimo ao chão
"No mundo todo, os Estados nacionais estão financiando o setor bancário, produtivo e a classe trabalhadora. No Brasil, primeiro os banqueiros receberam trilhões e os mais pobres continuam na fila", disse o autor
Enquanto é preciso torcer muito para que o Covid-19 não provoque um genocídio no Brasil, potencializado pela irresponsabilidade criminosa e anticientífica de Bolsonaro, o Brasil já tem noção de que o desastre econômico pré-pandemia será muito agravado pelo cenário mundial. Isso significa desemprego em massa e precarização a mil. Um enorme desafio à frente, que precisará ser conduzido por outro governo, já que o atual nasceu morto e apenas apodrece a céu aberto, com ministros psicopatas, estúpidos e sem noção de que representam uma vergonha mundial, salvo raras exceções.
Contudo, desta vez a bomba não explodiu somente no colo dos mais pobres, fato inédito na história republicana brasileira. Como o Coronavírus não poupa ninguém, sobrenomes consagrados do patronato nacional passaram a se borrar de medo. Primeiro, pela contaminação; segundo, porque num país continental como o Brasil, onde 99% das famílias são pobres, é fundamental que esta mesma população tenha emprego e renda para atender à expressão "girar a roda". E as expectativas hoje são piores do que eram no mês passado.
Para parte da classe média, iludida com a falácia de que um emprego com salário de quatro, cinco ou seis salários mínimos lhe dava título de realeza, certo choque de realidade aconteceu: na hora em que o bicho pegou, todos os defensores do Estado Mínimo simplesmente desapareceram. Melhor dizendo, se calaram por alguma vergonha na cara. Com a tragédia a caminho, nenhum canal de investimentos, nenhum popstar do mercado financeiro, nenhum mago das finanças tinha nada a dizer. A visão neoliberal extremada que assolou o Brasil, defendida muitas vezes por potenciais vítimas deste mesmo modelo, espatifou-se ao chão, quando o Estado precisou entrar em campo para evitar a catástrofe, ainda que seu "treinador" possua um deserto entre suas orelhas compridas e pontudas (adaptação de Reinaldo Azevedo, céus!). Todos emudeceram como no gol de Ghiggia na final da Copa de 1950.
Na pré-explosão do Covid-19, já eram favas contadas que expoentes do liberalismo como Pérsio Árida, Mônica de Bolle, Pedro Malan, Armínio Fraga, Gustavo Loyola e outros apontavam o problema da ausência do Estado em questões básicas da economia nacional, bem como da condução econômica esquizofrênica de Paulo Guedes - Bolle chegou a dizer que o ministro ainda estava parado nos anos 1980, o que é verdade. Com a necessidade do isolamento, o grupo reiterou a necessidade de intervenção direta do Estado para salvar o país economicamente. Henrique Meirelles vaticinou que é preciso imprimir moeda e colocá-la em jogo, sem nenhum risco inflacionário - o que é óbvio, porque a luta de agora é contra a recessão e não a inflação. Sem povo e Estado, não há economia, simples. Só o Bueiro Falante do Planalto não entende isso.
No mundo todo, os Estados nacionais estão financiando o setor bancário, produtivo e a classe trabalhadora. No Brasil, primeiro os banqueiros receberam trilhões e os mais pobres continuam na fila. Só que dessa vez não há como dar uma banana para cem milhões de pessoas, e boa parte delas começou a entender, ainda que levemente, que a Caixa e o SUS é que estão dando o suporte necessário, enquanto bancos privados e hospitais particulares rezam a cartilha de seus diretores e titulares, com cara de paisagem. O auxílio emergencial não é uma dádiva do Bozo, mas sim extraído do dinheiro de impostos pagos pelo povo brasileiro - que muitas vezes a elite econômica sonega. E no meio da crise, são os estudantes, pesquisadores, professores e demais próceres a pesquisar sobre o vírus em busca do tratamento e cura - os mesmos que eram tratados pela alcunha de "baderneiros" e "maconheiros" pelos neandertais que ocupam cargos no Governo Federal.
Mal chegamos à Páscoa, mas já foi o suficiente para que alguns brasileiros reconhecessem a própria boçalidade e parassem de defender o Estado Mínimo, que na verdade significava a colocação de suas próprias cabeças na guilhotina num suicídio voluntário. Antes tarde do que nunca. Ainda falta muito, mas já é um começo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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