O choque presidencial iraniano
Nas atuais circunstâncias, os Sete Magníficos que estarão concorrendo são Ebrahim Raeisi, Saeed Jalili, Mohsen Rezaei, Alireza Zakani, Seyyed Amir-Hossein, Ghazizadeh-Hashemi, Albdolnasser Hemmati e Mohsen Mehr-Alizadeh
Por Pepe Escobar, para o Asia Times
Tradução de Regina de Aquino, para o 247. Revisão: Ricardo Silveira
Quando o Ministério do Interior do Irã divulgou na terça-feira a lista final de candidatos aprovados pelo Conselho de Guardiões de 12 membros para concorrer à presidência na próxima eleição de 18 de junho, o inferno reinou em Teerã por pelo menos 24 horas.
Uma lista "não oficial" dos 7 candidatos às eleições presidenciais já estava circulando e causando grande agitação, mas ainda não confirmada como definitiva.
O que se falava na cidade era que a lista barrou muitas pessoas importantes. O ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad estava de fora. O mesmo aconteceu com Ali Larijani – um ex-presidente do Parlamento e até mesmo o atual vice-presidente iraniano, Es’haq Jahangiri, que deveria ser o principal reformista da disputa!
A agência de notícias Fars deu o furo da história na segunda-feira, anunciando os sete finalistas. Eles acertaram tudo – desde a eliminação de Ahmadinejad, Larijani e Jahangiri até o fato de nenhuma candidata ter sido aprovada.
A Fars é muito próxima do IRGC. Então, o que aconteceu faz todo o sentido. Inclusive os rumores que circulavam em Teerã, de que o presidente Rouhani entrou em pânico, chamando o aiatolá Khamenei para uma revisão da lista!
Nas atuais circunstâncias, os Sete Magníficos que estarão concorrendo são Ebrahim Raeisi, Saeed Jalili, Mohsen Rezaei, Alireza Zakani, Seyyed Amir-Hossein, Ghazizadeh-Hashemi, Albdolnasser Hemmati e Mohsen Mehr-Alizadeh.
O líder indiscutível da matilha é Raeisi, chefe do Judiciário desde 2019. Ele é tecnicamente um Principlista – um conservador da Revolução Islâmica, em termos iranianos – mas diz que concorrerá como independente. Digamos que seja um “linha-dura suave”.
Entre os demais, o único relativamente conhecido fora do Irã é Jalili, também um Principlista e ex-negociador nuclear top na função de secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional de 2007 a 2013.
Ao menos em tese, sobram dois reformistas: Mehr-Alizadeh e Hemmati, o atual presidente do Banco Central. Mas eles não têm apelo nacional.
Então, parece que já está consagrado o Raeisi, um burocrata relativamente inexpressivo sem o perfil de um linha-dura do IRGC, conhecido por sua luta anticorrupção, além da preocupação com os pobres e oprimidos. Na política externa, o fato crucial é que talvez ele siga os ditames cruciais do IRGC.
Raeisi já está divulgando que “negociou discretamente” para assegurar a qualificação de mais candidatos, “para tornar o cenário eleitoral mais competitivo e participativo”. O problema é que nenhum candidato tem o poder de influenciar as obscuras decisões do Conselho de Guardiões, composto de 12 membros, exclusivamente clérigos: apenas Aiatolá Khamenei.
O Conselho de Guardiões declarou enigmaticamente que apenas 40 dos 592 candidatos haviam apresentado "todos os documentos necessários" para o QG eleitoral do Ministério do Interior. Não houve explicação sobre o conteúdo desses “documentos”.
Abbas-Ali Kadkhodaee, o porta-voz do Conselho, descartou a politicagem: as decisões foram tomadas com base na “lei eleitoral”. Portanto, ninguém pode contestá-los – exceto Khamenei! Ele ressaltou que o Conselho “não havia sido informado” de qualquer ação pelo Líder.
O fim da era reformista
O vice-presidente Jahangiri, que teria sido o porta-estandarte reformista, não pegou leve: numa declaração vigorosa, disse: “O Conselho naturalmente arca com a decisão e sua base jurídica e com as consequências políticas e sociais decorrentes."
Mais crucial ainda para o establishment de Teerã, ele destacou uma "séria ameaça" ao sistema: "Espero que o aspecto republicano de nossas instituições, a participação efetiva do povo na determinação de seu próprio destino, os interesses nacionais e o futuro do Irã não sejam sacrificados por expedientes políticos imediatos.”
Assessores do ex-presidente Ahmadinejad – ainda muito popular em âmbito nacional – me disseram que ainda ponderam sobre as opções que têm: “É uma decepção muito grande, mas esperada. Um grande erro, que vai levar à raiva e desconfiança entre as pessoas comuns e, afinal, a uma reação.”
O professor Mohammad Marandi, da Universidade de Teerã, observou: "Ainda há alguma incerteza sobre os candidatos." Ele ainda não está fazendo uma avaliação completa pois não tem certeza se, sobretudo, o veto de Larijani "será a palavra final".
Mesmo que os Sete Magníficos agora estejam livres para começar a fazer campanha, o sentimento geral é que a era Rouhani-Zarif parece ter acabado, não com um alarido, mas com um gemido.
Nas negociações do JCPOA em Viena, o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, continua se pronunciando como um realista ao enfatizar que “não estou confiante de que seria possível concluir as negociações, mas há uma possibilidade”. Isso exigiria “decisões políticas”, em referência direta a Washington.
Todos em Viena sabem que o acordado até agora no renascimento do JCPOA foi a parte fácil. O verdadeiro problema são as centenas de sanções restantes que devem ser canceladas pelo Congresso dos EUA – e não é o que vai acontecer.
Além disso, os americanos continuam a insistir que Teerã deve primeiro retomar os compromissos nucleares que suspendeu – seguindo seus direitos legais de retaliação, conforme definido pelo Artigo 26 do JCPOA. A linha vermelha de Teerã é clara: foi Washington que abandonou o JCPOA, então cabe aos EUA remover primeiro todas as sanções, “de forma prática e verificável”.
Teerã reiterou várias vezes que sairá de Viena no final de maio se não houver acordo. O IRGC não dá a mínima: eles já estão em modo pós-JCPOA. Focado no acordo estratégico Irã-China. Focado em uma integração mais ampla da Eurásia ao lado da Rússia e da China. E contando com o candidato perfeito colocado para se tornar o próximo presidente iraniano!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: