O choro de Luighi deve ser o pranto de todas as torcidas
O choro de Luighi é mais importante que o bi da Libertadores sub20 do Flamengo!
Quando eu entrei no PCB, um assistente da base dos secundaristas, Carlos Telles, grande flamenguista, ensinou-me que as pessoas tornam-se comunistas pelo estômago, pelo coração ou pelo cérebro. No meu caso, duas das três razões acima tornaram-me vermelho, um o coração: cresci na Baixada Fluminense, num distrito pobre de Duque de Caxias, ainda que nunca tenha passado fome, mesmo sendo pobre, vi muita gente passando miséria ao meu redor, e isto sempre me doeu. Ao lado disto, através de leituras fui tomando consciência crítica.
Sou ateu, materialista e dialético. Tornei-me comunista ao mesmo tempo em que perdia a crença em toda e qualquer divindade. Minha dose de irracionalidade sempre foi o futebol, minha dose de ópio diário, para amenizar o sofrimento da alienação, mas sempre me colocando limites. O de não agredir ou matar ninguém porque usa outra camisa, o de não odiar outra pessoa porque é meu adversário, é meu adversário, não meu inimigo.
Tornei-me flamenguista, por ter sido criado numa família 100% rubro-negra, pai, mãe, irmãos, tios. O Flamengo tornou-se minha única irracionalidade e religião, dentro do limite saudável que coloquei acima. E tornei-me ainda mais flamenguista pela torcida ser chamada de molambo, urubu, favelada. Ser molambo, marginal, urubu, favelado, discriminado tornou-se motivo de orgulho e de fazer parte da Nação. Óbvio que separo a entidade Flamengo, a Nação, das seguidas diretorias direitosas do Clube do Leblon. O Flamengo é muito maior que isto, e sempre tive orgulho de utilizar o Manto Sagrado.
Este orgulho é ainda maior pelos vários negros que envergaram o manto, desde Domingos da Guia e Leônidas da Silva, até o recente e valente Vinícius Júnior, o mais destacado antirracista entre os jogadores de futebol em atividade no mundo. O que tem acontecido no futebol é simplesmente absurdo. A cada canto racista, a cada ofensa em campo, os jogadores deveriam sentar-se no campo ou retirar-se. E os clubes dos jogadores ou torcedores que cometeram o crime de racismo deveriam perder os pontos daqueles jogos, e jogar de portões fechados por muitos jogos, para que doa no bolso e na consciência.
Vinícius é maior do que ser o maior do mundo, por ter coragem de enfrentar o racismo, Vinícius que vem de uma Nação que tem orgulho de ser favelada e molambo. Luighi, do Palmeiras, segue o mesmo rastro. Com coragem, o menino que foi atacado no jogo entre Cerro Portenho e Palmeiras denunciou o racismo e foi às lágrimas. Che Guevara já dizia que o que move um revolucionário é o amor, o sentir na própria pele o murro desferido na face de todos. Todos devemos lutar e chorar com Vinícius Júnior e Luighi.
Então, não dá para passar pano para os fascistas racistas que acharam graça em xingar Luighi de chorão, na cobrança de pênaltis que decidiu Flamengo x Palmeiras. Não, hoje não é dia de comemorar o bi da Libertadores, hoje não é dia de exaltar os garotos do Ninho, que, graças aos orixás, não fizeram o mesmo que meia dúzia de 3 ou 4 torcedores, que não representam a ação fizeram, xingando um jovem que foi vítima de racismo.
Não dá para passar pano, e deixar passar batido porque sou flamenguista. Há que se cortar na carne e pedir punição aos torcedores que fizeram isto e ao meu clube, assim como a todo os clubes que cometerem atos de racismo. É fato que eles não representam a Nação, que se orgulha de ser uma torcida de pretos e favelados! Somos urubus e molambos.
Estes atos de racismo não podem mais passar batidos. Racistas não passarão.
Todos somos Luighi e Vinícius Júnior.
O choro de Luighi é mais importante que o bi da Libertadores sub20 do Flamengo!
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