O combate ao coronavírus na Venezuela: Apure e Tachira são os Estados mais atingidos
A Venezuela está entre os países que registram os menores números de pessoas contaminadas e mortas por Covid-19 na América Latina. Entenda
A Venezuela está entre os países que registram os menores números de pessoas contaminadas e mortas por Covid-19 na América Latina. O país logrou esta posição possivelmente em função das medidas restritivas rígidas adotadas antes mesmo que o vírus chegasse e que foram reforçadas nos quatro primeiros dias após o registro do primeiro caso que ocorreu no dia 13 de março. No dia 15 de junho, o país registrava um total de 2.978 casos confirmados, 25 mortos e 835 recuperados. Muitos portais de informação questionam os dados divulgados, porém, desde o início da pandemia a Organização Pan-americana da Saúde (Opas), um braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas (ONU) está acompanhando os testes diagnósticos realizados na Venezuela e neste momento, após um acordo raro entre Nícolas Maduro e Juan Guaidó, a Opas está intermediando a luta contra o coronavírus neste país. Em reunião ocorrida no dia 1º de maio, a ONU pediu autorização para estudar o modelo da Venezuela no combate à Covid-19 para replicá-lo em outros países. A Venezuela realiza mais de 27 mil testes rápidos por dia e aproximadamente 650 testes do tipo PCR, de acordo com o representante da Opas neste país. A Venezuela aumentou em aproximadamente oito vezes sua capacidade de processamentos de testes PCR desde o início da pandemia. Este é o país que realiza a maior quantidade de testes por milhão de habitantes na América Latina.
A fragilidade do sistema de saúde da Venezuela é reconhecida pela Opas e, por esta razão, o país recebeu orientações e doações antes mesmo do registro do primeiro caso. No mês de fevereiro, a Opas realizou visitas em hospitais da Venezuela buscando espaços que cumprissem com os delineamentos e normas para serem usados como salas de isolamento. A organização, juntamente à UNICEF, realizou doações de equipamentos de alta tecnologia, assim como equipamentos de proteção individual (EPI) e materiais de limpeza e higiene ao longo da pandemia na Venezuela. Este país recebeu também diversas doações da China, Rússia e Irã.
Em meados do mês de maio e em junho, o número de casos confirmados com Covid-19 e mortos por esta doença aumentou na Venezuela, no entanto, permanece baixo quando comparado aos números de outros países da região. A maior parte das pessoas contaminadas na Venezuela são cidadãos que contraíram o vírus na Colômbia, Brasil, Peru e Equador. Por volta de 70% dos casos registrados na Venezuela são importados. Mais de 50 mil venezuelanos retornaram ao país durante a pandemia, após terem migrado no contexto da crise política. A contaminação comunitária está significativamente controlada na Venezuela até o momento. No dia 14 de junho, a República Bolivariana registrou apenas 4 casos deste tipo. A Opas observa que o vírus está se disseminando fortemente no Brasil, Peru e Chile e que na Venezuela os casos estão aumentando de forma mais rápida que nos meses anteriores.
Os Estados da Venezuela que registram o maior número de contaminados por Covid-19 são Apure e Tachira, fronteiriços com a Colômbia, com 812 e 438 casos, respectivamente, no dia 15 de junho. Apesar disso, de acordo com o governo do país, estes Estados não registraram nenhum óbito por esta doença. A representante do Ministério da Saúde em Tachira, Amélia Fressel, informou que o hospital universitário de San Cristóbal, designado para atender a Covid-19 em Tachira, foi dotado de insumos necessários para atenção durante a pandemia, além de kits para descartar a Covid-19 doados pela Opas. Rubén Duarte, enfermeiro do hospital disse : “é falso que estejamos preparados com doações de biosegurança para nos proteger e proteger aos pacientes que possam vir". Os profissionais do hospital reconhecem, no entanto, que no setor de emergência a biosegurança é mais rígida. Alguns profissionais da saúde, como o doutor com iniciais J.L, mantêm perfis no Instagram. Nas fotos obtidas dentro do hospital é possível ver o médico de máscaras com o logotipo da instituição, com toucas e outros itens de proteção. O pediatra J.F aparece usando sete tipos de máscara diferentes. Na última foto postada pela enfermeira A.B, ela aparece de máscara com o comentário "enfermaria em tempos de Covid-19".
Embora o Estado de Tachira passe por panes elétricas, o hospital possui uma planta elétrica de emergência que garante a manutenção da energia. Em fevereiro, o Estado registrou falta de energia, porém, a planta elétrica do hospital foi colocada em funcionamento. Para casos extremos de uma possível queda de energia no hospital, este conta também com bombas de respiração manual. O hospital possui igualmente uma bomba que garante água potável em momentos de escassez no fornecimento contínuo por parte das companhias governamentais. O Estado de Tachira conta também com uma unidade móvel para realização de testes do tipo PCR e testes rápidos desde o dia 11 de abril. As amostras recolhidas em outros Estados da Venezuela são enviadas para Caracas, porém, com o acordo entre Maduro, Guaidó e Opas, os testes serão descentralizados.
O Hospital Pablo Acosta Ortiz (HPAO), localizado em San Fernando de Apure, capital do Estado, não está lotado. Diversos profissionais da saúde mantêm perfis ativos em redes sociais e trazem a rotina do hospital, além de fotos em momentos do dia a dia. A residente de pediatria, com iniciais D.V, no dia 8 de maio postou uma foto junto a uma garota que havia sido tratada de questões alheias à Covid-19 com sucesso. No dia 9 do mesmo mês, postou uma foto utilizando uma máscara com a logomarca do hospital que ela mesma mandou confeccionar e afirmou amar o seu local de trabalho. Aparece em diversas fotos com distintas máscaras, em selfies e em vídeos cantando e tocando o seu cuatro venezuelano. Nas fotos e vídeos, os profissionais não aparentam pânico. No dia 21 de maio, o médico J.E postou uma foto junto aos profissionais do hospital prestes a devorar uma pizza. No dia 25 do mesmo mês postou uma foto na sala de cirurgia com o paciente ao fundo. Em outra foto aparece junto ao deputado opositor a Maduro, Luis Lipa. Outros profissionais da saúde que estão com perfis ativos aparecem em fotos dentro do hospital, assim como em momentos de lazer junto a filhos recém nascidos, em academias, na piscina, dentre outras atividades cotidianas antes e durante a pandemia. Muitos profissionais estão também em fotos no perfil da organização sem fins lucrativos, opositora ao governo de Nícolas Maduro, One Milk for Venezuela, recebendo doações. Entre os itens doados, estão kits de higiene com sabonete e água potável. O hospital apresentou quedas de energia em março, porém, no dia 30 daquele mês, a empresa Corpoelec realizou troca de fusíveis, limpeza de disjuntores e ajustes de proteção na subestação interna do HPAO. No dia 24 de abril, toda a estrutura interna e externa do hospital estava iluminada. Nesta época, os casos de Covid-19 eram poucos, uma vez que Apure se tornou o estado mais atingido apenas no dia 27 de maio.
O deputado no exílio, José Manuel Olivares, opositor a Maduro, difundiu diversos vídeos informando supostas mortes e contaminações por Covid-19 na Venezuela. Afirmou que no dia 16 de maio, uma pessoa que havia supostamente testado positivo para Covid-19 faleceu no Hospital Universitário San Cristóbal, em Tachira. No entanto, no início de junho, a governadora do Estado, Laidy Gómez, igualmente opositora ao governo Maduro, confirmou que nenhum paciente havia morrido por Covid-19. Disse, no entanto, que pacientes morreram na área de atenção de vias respiratórias e que, até aquele momento, o resultado dos testes de Covid-19 não haviam ainda chegado. A governadora não informou a quantidade de pacientes que vieram a óbito, porém, disse que 12 pacientes (vivos) estavam aguardando o resultado dos testes. O deputado José Manuel Olivares também difundiu uma suposta morte ocorrida no HPAO do Estado de Apure. Até o momento nenhum profissional da saúde ou o governador do Estado confirmou tal notícia. Olivares noticiou que profissionais de saúde do hospital Luiz Ortega, em Nova Esparta, tinham contraído o coronavírus, além das supostas mortes. No dia 27 de março, o chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia do hospital de Nova Esparta, Pedro Fernández, desmentiu o deputado. Fernandes disse que condena “energeticamente quem de forma inescrupulosa está gerando alarme na população com informações não verificadas ou falsas em momentos tão delicados como o que estamos vivendo”. Com poucos casos de Covid-19 confirmados, sendo a maioria de casos importados, o número de profissionais da saúde contaminados na Venezuela é extremamente baixo, apesar da suposta escassez de EPI. No Brasil, o Estado da Bahia, que possui aproximadamente a metade da população da Venezuela, apresentava 5.162 profissionais da saúde contaminados no dia 15 de junho, um número significativamente maior que a quantidade total de venezuelanos contaminados por esta doença.
Fontes:
https://laverdaddemonagas.com/sitio/la-ops-toma-medidas-preventivas-ante-coronavirus-en-el-humnt/
http://mppre.gob.ve/2020/06/14/detectados-74-nuevos-casos-positivos-por-covid-19-en-venezuela/
https://www.vtv.gob.ve/aumento-casos-covid-19-america-falta-respiradores/
http://www.senderosdeapure.net/2020/04/apure-realizaron-mantenimiento.html?m=1
http://www.senderosdeapure.net/2019/04/apure-cuadrillas-de-corpoelec-iluminan.html?m=1
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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