O Congresso e o medo de Bolsonaro
"Sim, é por medo do bárbaro e de suas hordas que marcharão no domingo que o Congresso já pensa em não votar os PLNs que o prório Jair Bolsonaro assinou e enviou, sacramentando o acordo firmado sobre a parcela de recursos do orçamento que deverá ser executada por indicação dos congressistas, as emendas impositivas", escreve Tereza Cruvinel, do Jornalistas pela Democracia
Por Tereza Cruvinel, do Jornalistas pela Democracia
Um bárbaro chegou ao poder, não para nos governar, mas para desfilar sua ignorância, para alimentar o ódio de suas hordas, para se refestelar com o rastro de infelicidade em sua passagem, para destruir as instituições em que não acredita e que considera um estorvo. Neste momento ele investe contra a crença nas eleições, denunciando fraudes nas eleições que venceu, pavimentando o caminho para evitar as próximas, e se elas acontecerem, para só aceitar como resultado a sua vitória. Já havia dito isso em 2018. Mas investe sobretudo contra o Congresso, que nesta semana começa a se render ao medo.
Sim, é por medo do bárbaro e de suas hordas que marcharão no domingo que o Congresso já pensa em não votar os PLNs que o prório Jair Bolsonaro assinou e enviou, sacramentando o acordo firmado sobre a parcela de recursos do orçamento que deverá ser executada por indicação dos congressistas, as emendas impositivas. Em vez de R$ 30 bilhões, apenas R$ 15 bilhões. Alguns querem votar as propostas só depois do domingo, na esperança de que o clima melhore depois que os bolsonaristas liberarem suas iras nas ruas, gritando contra o Congresso e o STF e tudo que represente a democracia que consideram um mal. Outros querem simplesmente renunciar ao palmo de terra conquistado, para não enfurecer ainda mais o bárbaro. Poucos estão dispostos a enfrentar logo esta batalha e liquidar o assunto, fazendo prevalecer o acordo que foi firmado e agora é negado.
Mas Bolsonaro é adversário sem nenhum caráter. Negociou, o Congresso manteve seus vetos ao orçamento na semana passada, e agora ele não vai honrar a palavra dada. Bom para o Congresso aprender que com ele não valem os códigos de honra da política. Logo, com ele não se pode negociar a não ser com a troca de reféns.
Os mais medrosos já encontraram o discurso: melhor abdicarmos destes R$ 15 bilhões para que ele não venha a culpar o Congresso pelo desastre econômico que está sendo gestado, sob a forma de uma recessão que o governo parece buscar com afinco. Quando Guedes pede ao Congresso que aprove logo 19 projetos complexos, não está propondo medidas contra a crise que ruge aqui e lá fora. Ele sabe que não há tempo nem condições para isso. Quem tem 19 prioridades não tem nenhuma. As recessões, com seus famintos, desempregados e desesperados, é o terreno ideal para a implantação dos regimes autocráticos. Sempre foi assim, antes e depois de Hitler. O liberal Armínio Fraga diz que o governo está atrapalhando muito o país. Comedido. O governo está cavando uma recessão.
Render-se a Bolsonaro é um auto-engano. Se prevalecer o medo, e o Congresso capitular, Jair Bolsonaro não vai se tornar menos truculento nem mais respeitador das instituições. Pelo contrário, sairá fortalecido para avançar com a quebradeira institucional.
Esta semana o Congresso a escolha do Congresso nem será entre medo e coragem, mas entre fraqueza e responsabilidade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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