O Dia do Trabalho precarizado
Este Primeiro de Maio é um dia de muita dor para milhões de brasileiros sofridos, amontoados nas filas da Caixa em busca do auxílio emergencial - que Guedes queria estipular em 200 reais -, ou ainda chorando pelos corpos de parentes e amigos empilhados para enterrar
Em meio a toda essa tragédia que o mundo vive e o Brasil vive muito, pouca gente vai se tocar desse Primeiro de Maio em 2020. Primeiro, pela confusão do tempo decorrente do isolamento. Segundo, pelo feriado em meio à pandemia. Terceiro, porque não teremos as devidas manifestações populares por conta do cenário atual. Mas é importante falar da data e do que ela representa hoje.
Historicamente, os trabalhadores brasileiros foram sempre tratados com o mais absoluto desprezo, salvo conquistas históricas e pontuais como a CLT e a pujança no emprego durante a Era Lula. A mentalidade escravagista sempre se impôs nas relações dos patrões com seus funcionários, mais uma vez ressaltando-se as honrosas exceções. Nos últimos tempos, especialmente a partir do golpe de 2016, o trabalhador brasileiro só faltou voltar a ser chicoteado por conta do desastre da reforma trabalhista, do desemprego cavalar e, por fim, pela ascensão do fascismo ao poder, com seus empresários apoiadores muito à vontade para constranger, humilhar e dar declarações públicas vergonhosas, casos de Véio da Havan (cujo apelido ridículo é uma perfeita descrição de sua personalidade), Junior Durski (Madero) e outros desgraçados. Agora mesmo um grupo de trabalhadores do comércio foi claramente assediado em Campina Grande, sendo obrigado a se ajoelhar na porta da loja para "preservar o emprego" - leia-se o interesse exclusivo dos patrões - enquanto o Covid19 cumpre os desejos do perverso governo brasileiro. E o que dizer das cenas grotescas de empresários fazendo carreatas com buzinaços na porta de hospitais, dentro de seus confortáveis carros, agindo como senhores de engenho exigindo que seus escravos voltem ao trabalho?
Desde o início da pandemia, cinco milhões de empregos formais no Brasil foram diretamente atingidos, seja pela demissão (no mínimo de um milhão), seja pela supressão de direitos. É um número assustador e, claro, bombardeado pelo caos do Coronavírus. O risco de dobra do desemprego formal (link: https://www.poder360.com.br/brasil/coronavirus-pode-dobrar-o-desemprego-no-brasil-diz-estudo/) é uma realidade dramática, ainda mais com o país hoje governado por quem demonstra odiar os trabalhadores.
Contudo, é bom que se diga: a política desastrosa de implosão do mercado interno estava aí bem antes da primeira contaminação. O modelo oitentista de Paulo Guedes, um especulador do mercado financeiro, não tem a menor condição de recuperar o emprego no país simplesmente porque não é nem nunca foi seu objetivo. Os pilares do desgoverno genocida de0 EDAÍ são o servilismo internacional, o tapete vermelho para os banqueiros do capital volátil, o completo desprezo à massa trabalhadora do Brasil. Como ainda não possuem coragem para o extermínio como uma política de Estado, disparam regularmente reproduções de falas de nazistas, publicam memes e sorriem com o avanço da necropolítica silenciosa, mas não menos devastadora.
Resultado: o Brasil virou a terra da precarização do emprego, com sérios danos para a sociedade num todo, espatifando o consumo das famílias e envenenando o futuro da Previdência (quanto maior a informalidade e a incapacidade de comprometimento da renda, menor a contribuição). Por ironia do destino, hoje o país só funciona por causa da necessidade e abnegação dos seus trabalhadores informais, vide iFood e Uber, que transportam comida e pessoas para todo lado, muitas vezes sem poder usufruir do consumo - a maioria só sobrevive.
Este Primeiro de Maio é um dia de muita dor para milhões de brasileiros sofridos, amontoados nas filas da Caixa em busca do auxílio emergencial - que Guedes queria estipular em 200 reais -, ou ainda chorando pelos corpos de parentes e amigos empilhados para enterrar. Mas é preciso lutar, ter esperanças e combater o fascismo de um governo psicopata, inimigo da população e do futuro do Brasil. A luta não vai parar.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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