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      Ricardo Nêggo Tom

      Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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      O diabo usa batom

      Michelle Bolsonaro foi o grande destaque do circo golpista e teocrático na Paulista, avalia Ricardo Nêggo Tom

      Michelle Bolsonaro segura batom em ato pró-anistia em São Paulo-SP, 6 de abril de 2025 (Foto: Reprodução/YT)

      And the Oscar goes to: Michelle Bolsonaro, por “O diabo usa batom”, uma produção da Brasil Paralelo, com roteiro de Olavo de Carvalho e direção de Silas Malafaia. Uma obra prima do gênero trash religioso que contempla a distopia bolsonarista como alternativa à realidade. A atuação da ex-primeira-dama foi qualquer coisa meio doida e eficaz para um público que normaliza a loucura. E isso é um elogio para qualquer bolsonarista. A começar pela convocação feita às mulheres, para que elas se posicionem politicamente como Débora Rodrigues dos Santos, a santa da igreja bolsonarista que virou alvo do STF por estar associada à quadrilha que planejou dar um golpe de Estado no país.

      Empunhando um batom vermelho como símbolo de luta e resistência democrática, Michelle fez com que as mulheres bolsonaristas se sentissem empoderadas. Contrariando as recomendações de Frei Gilson que entende que o empoderamento feminino é algo diabólico. Usando o nome de Deus como poucos bolsonaristas sabem fazer, a Jezabel da extrema-direita afirmou que Bolsonaro foi escolhido por Deus, não por sua capacidade, mas porque ele é o homem capaz de trazer prosperidade para o Brasil. Mesmo ele tendo levado o país de volta ao mapa da fome nos seus quatro anos de governo. A prosperidade deve ser apenas para aqueles que nele creem e o tem como o mito salvador do país.

      Michelle se superou quando, ainda no início da sua fala, reuniu lideranças religiosas de matrizes diferentes no palco. Citando Silas Malafaia como a liderança evangélica, ela convidou o Padre Kelmon, um rabino judaico e o babalorixá Sérgio Pina, conhecido como o pai de santo da cantora Anitta, para se abraçarem e mostrarem que estão juntos pela anistia dos criminosos do 08/01, sem intolerância. Uma sacada diabólica de alguém que sempre atacou os cultos africanos e os associou ao mal. Quem não se lembra de Michelle atacando o presidente Lula por ele ter recebido a benção de representantes da Umbanda e do Candomblé nas eleições de 2022? Na ocasião, Lula recebeu um banho de pipoca de uma Ialorixá, o que Michelle definiu como “entregar a alma para o diabo”.

      No campo da falsa intimidade com Deus, Michelle continua imbatível. Além de reforçar que o seu joelho sempre esteve dobrado em oração pelo Brasil, ela revelou que orou até pela família do Ministro Alexandre de Moraes, seguindo a recomendação bíblica de que devemos orar por todas as autoridades. Com a característica entonação neopentecostal, Michelle conclamou o público a orar pela nação, porque Deus, o justo juiz, iria fazer justiça aos golpistas presos e libertar o país da opressão da esquerda. “As portas vão se abrir para o nosso Brasil. Haverá quebrantamento, haverá libertação.”, profetizou a “mulher de Potifar” em seu eterno complexo de poder e glória.

      Melhor treinada do que antes, Michelle decorou até artigo do código penal para tentar inocentar a golpista Débora Rodrigues e provar que a pena aplicada a ela pelo STF era desproporcional. Ela ainda apelou para que o Ministro Luiz Fux não jogue sua carreira na lama, e seja justo em sua sentença contra outros golpistas que estão em processo de julgamento. A mãe de família dedicada ficou para o último ato da peça teatral golpista, quando ela pediu para que os filhos de Bolsonaro presentes ao evento subissem ao palco e abraçassem o pai. Até Carlos, com quem ela teria experimentado um grave desentendimento, obedeceu ao pedido da madrasta virtuosa e chegou a colocar a mão no ombro de sua desafeta familiar.

      Eduardo Bolsonaro, o filho fujão, foi lembrado por Michelle e ovacionado como um símbolo internacional da luta pela anistia. Aliás, Bolsonaro fez questão de enumerar as qualidades do filho, lembrando que ele fala inglês, espanhol e árabe, além de ter contatos no mundo todo, onde é visto como uma grande liderança política mundial, e que está ajudando a libertar o Brasil da ditadura comunista do STF. Michelle ainda citou novamente o pai de santo Sérgio Pina, dizendo que ele estava se expondo com sua religião por estar ali pedindo anistia, algo que ele logo deverá estar fazendo também aos orixás, para que eles relevem a sua parceria com pessoas que os odeiam e os demonizam.

      A imperatriz do reino bolsonarista evangélico só perdeu o rumo ao ver uma faixa em apoio a Lula no prédio em frente ao palanque que discursava. Pistola, ela se dirigiu ao morador do prédio dizendo que a anistia faz parte da história do Brasil desde 1800 e, graças a ela, muitos esquerdistas estão no poder. Só esqueceu de explicar o porquê de aqueles esquerdistas terem sido anistiados no passado. Uma motivação bem diferente da que pretende usar para anistiar criminosos que pediam intervenção militar enquanto destruíam Brasília. Aos que ainda subestimam Michelle Bolsonaro, fica o alerta. Possivelmente, o Senado a receberá em 2026, e haverá choro, ranger de dentes e profecias fascistas em línguas estranhas ditas por lábios cheios de engano, veneno e batom.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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