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    Teju Franco

    Músico e compositor

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    O Estado exterminador

    É assustadora a inação das instituições do país em relação ao governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. O homem é um genocida. Parece que só Luis Nassif está dando a devida gravidade ao fato

    As caçadas de Witzel

    É assustadora a inação das instituições do país em relação ao governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel. O homem é um genocida. Parece que só Luis Nassif está dando a devida gravidade ao fato. São tão absurdas as ações policiais que ele tem feito nas comunidades cariocas, é tão impensável que custamos a crer; um governador em um helicóptero atirando a esmo na população que o elegeu. O segundo fato inconcebível é a sua permanência no cargo até agora; isso sem ter sido sequer questionado pelo ministério público, ninguém chamou esse cidadão a dar explicações sobre essa loucura de atirar na população civil, coisa não permitida nem nos códigos militares de guerras internacionais. O terceiro fato da série “Acredite se quiser”  é a continuidade de suas ações de guerra contra a população pobre do Rio de Janeiro, mesmo após tantas vítimas. Ninguém até agora tentou deter isso, ninguém o chamou às falas. 

    Que país é esse que nos tornamos?  Witzel é o retrato mais fidedigno da perda de noção civilizatória a que chegamos: Estado, instituições, funções e responsabilidades sociais. Esse homem tem prazer em matar. O punitivismo lava-jatista midiático levou o nosso sistema de justiça à condição de “Estado franco-atirador”. O Estado que vemos nos conflitos de terras e nas periferias dos grandes centros urbanos pode ser equiparado àqueles loucos que invadem escolas e lugares públicos provocando chacinas e atirando a esmo; exagero? Lembrem-se de Marielle, do cacique executado, do músico Evaldo, seus assassinos já foram libertados pela justiça militar. A polícia age ou matando ou deixando matar.  Exagero? Imagine um bairro residencial como Moema ou Higienópolis, escolas, pessoas levando e buscando crianças, pessoas nos pontos de ônibus, indo ao supermercado, e atiradores em um helicóptero sobrevoando a região e disparando tiros de fuzil a quilômetros de distância em “elementos” cujos policiais considerassem suspeitos. Entendeu agora do que se trata? O retrato do caos institucional está todos os dias nos jornais. A polícia não sabe mais qual a sua função, matar ou evitar mortes, o ministério público virou uma máquina aparelhada ocupada ora em fazer perseguições políticas, ora em se proteger da política que faz, ou seja, em desvio funcional  permanente, o judiciário virou um partido com agenda eleitoral e vitimas escolhidas por meio de teses previamente criadas para posteriores condenações, virou portanto um braço desonesto do ministério público, vide o caso Lula; é como se todos entrassem em uma guerra e não soubessem mais os seus afazeres, nem como sair, e fazem isso sem muita preocupação, são homens alienados, distantes do povo e do mundo real, são avaliados por conselhos fajutos e corporativos que os tornam inimputáveis e irresponsáveis. 

     A guerra segue, perdendo apoio e força, é verdade, mas segue, contudo, essa guerra tem alvo, o seu alvo é o negro, o pobre, o índio, o sem teto, o sem terra, justamente aquele a quem o Estado deveria proteger e amparar; a política de proteção social foi substituída pela política de extermínio, tudo às capas e togas de um sistema de justiça que não apenas permitiu como foi um dos atores incontestes desse estado de barbárie, criaram o caos e não têm coragem para sair dele, um sistema corrompido e seduzido pela onda moralista e seletiva, vendida diariamente como salvação da nação na grande mídia; a salvação que se revelou a destruição do Estado como um todo, a terra arrasada, o palco das barbaridades, dos mandos e desmandos e das impunidades do clã Bolsonaro. 

      Em um país em que a justiça não protege, resta a realidade do “Deus nos acuda”. Entre cenas como a que vimos ontem no Complexo do Alemão, as queimadas na Amazônia, os assassinatos de lideranças indígenas, de Marielle Franco, do músico Evaldo, das crianças nas favelas, o Estado vai além de não proteger, é braço armado desses crimes.  As cenas de ontem promovidas por esse governador que comemora a morte como se fosse um gol de copa do mundo provocam um mal-estar em nossa humanidade. Aquele vídeo, filmado de uma janela da comunidade, acompanhado da indignação e do pânico de uma mãe vendo um helicóptero atirando na população, nas proximidades da escola em que seus filhos estavam, deveria correr o mundo – olhem em que a Lava jato e o jornalismo de guerra da Globo transformaram o Brasil: Vietnã, Faixa de Gaza? – não, Complexo do Alemão.   O que mais falta acontecer para algum procurador (de petistas) chamar esse governador a dar explicações à justiça? Paralelamente ao pânico dessa mãe, relatos dão conta de que na escola em que estavam seus filhos, as aulas foram interrompidas, as crianças deitaram no chão para se proteger das balas; relatos frequentes dizem que isso já virou uma rotina no Rio de Janeiro.  

    Não é compreensível a tolerância, não apenas de autoridades e instituições, assembleia, congresso, mas de todos os cidadãos desse país ao assistirem a cenas como a que o governador Witzel tem produzido; tolerar a barbárie é se colocar, mais cedo ou mais tarde, como possível vítima dela. Acho que temos que sair dessa perplexidade que o governo Bolsonaro com suas tantas distorções e aberrações produziu no país e ir às ruas cobrar das instituições que cumpram sua obrigação constitucional, que os juízes deixem a política para os políticos e garantam um país seguro para se viver, com procuradores responsáveis na defesa da sociedade, com juízes imparciais, com o STF contramajoritário garantindo a última fronteira da cidadania, com sociopatas que atentam contra a vida como Witzel e os milicianos na cadeia, sem presos políticos como Lula e Dirceu.  

    Essa insanidade coletiva que tomou o país está nos levando à beira de um novo Estado autoritário, outra forma de ditadura; o STF conseguiu ganhar um general tutelando suas ações, onde se viu isso?, o ministério público virou um antro de espertalhões monetizando a justiça, lavando dinheiro com laranjas da família e perseguindo adversários políticos, a polícia se confundiu com as milícias, ninguém sabe onde termina uma e começa a outra, não se distinguem em ações, com a economia estagnada, sem projeto de governo para as diversas áreas e recuperação da economia, ninguém aguenta mais essa zona que fizeram da justiça no país.  O estado de direito está se esfarinhando enquanto engomadinhos como Barroso fazem discursos tão compreensíveis quanto as falas de Marina Silva em véspera de eleição, com a diferença de que essas falas implicam em mortes, prisões, coações, impunidade e abusos. 

      Voltem para seus quadrados, excelências, deixem a democracia respirar e sobreviver a essa tragédia, cumpram apenas suas obrigações constitucionais que o país voltará à normalidade, basta isso. Tomem coragem enquanto há tempo, antes que não sobre nada além da pátria armada e de uma nova ditadura maquiada com milicianos em seu comando, que, como temos visto recentemente, vai aparelhar tudo e transformá-los em figuras decorativas; sem autonomia e poder republicano, voltarão a ser fantoches como foram durante os 25 anos de regime militar e parecem ter esquecido.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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