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      Oliveiros Marques

      Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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      O fardo da cumplicidade

      'Pré-candidatos estão colocando em suas biografias que apoiam os atos de 8 de Janeiro. O oportunismo os levou a um grande erro', escreve Oliveiros Marques

      Apoiadores de Jair Bolsonaro se reúnem no dia de uma manifestação contra o processo judicial de Bolsonaro e para exigir a anistia de todos os acusados ​​de participar da conspiração para derrubar o governo, em São Paulo-SP, Brasil, 6 de abril de 2025 (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)

      Nos médio e longo prazos, o oportunismo não é um método muito recomendado na política. Uma hora a conta chega, e, quando isso acontece, as perdas são enormes. Imagino que alguns dos personagens que subiram no carro de som na manifestação deste domingo, na Paulista — que, segundo cálculos, reuniu não mais que 45 mil pessoas — não calcularam muito bem o impacto que tal participação poderia ter sobre suas imagens.

      Há quem imagine que pode brincar com sua imagem como se fosse um jogo de dominó: vira uma peça aqui, derruba outra ali, e no fim todo mundo sai rindo. Mas não. A imagem de um político não suporta os caprichos e os azares de um jogo. Por isso, penso que aqueles que subiram no palanque para defender quem tentou rasgar a Constituição deveriam se preocupar.

      Podem vir a ter que carregar também o fardo do crime junto com a faixa de aliado. As imagens da manifestação podem ser instrumentalizadas por seus adversários. A participação no desfile — com direito a carro de som, camisa amarela e um coro desafinado de apoiadores, que inegavelmente já perdeu apoio da sociedade — pode arrastar mais gente para o buraco.

      Ratinho, Zema, Caiado, Tarcísio… todos lá, querendo surfar na onda do bolsonarismo. Com exceção de Tarcísio, a participação de alguns presidenciáveis já anunciados deixa ainda mais claro o grau de oportunismo de suas presenças. É um testemunho de que sabem — e podem até estar felizes por isso — que Bolsonaro não reverterá a inelegibilidade. Estariam lá, portanto, para se apresentar como depositários dos votos bolsonaristas.

      O que talvez esses presidenciáveis não tenham avaliado é que Bolsonaro não tem aliados. O “eucentrismo” é a sua marca. Ele tem aqueles que o servem e a sua família. Aos primeiros, não pensa duas vezes em deixar pelo caminho. E exemplos não faltam. Ele não apoiará Caiado, Zema e nem mesmo Ratinho. A este último, quando muito, uma vaga de vice em uma chapa encabeçada por alguém de sua própria confiança.

      E o mais grave, na minha opinião, quando falamos de imagem, é o fato de a manifestação ter sido convocada com o claro objetivo de defender o golpe de Estado que teve seu ápice em 8 de janeiro. Foi uma manifestação claramente de cunho golpista. Esses pré-candidatos estão colocando em suas biografias que apoiam aqueles atos — que aquela horda que invadiu as sedes dos três poderes, assim como os que planejaram o golpe, inclusive com assassinatos, merecem anistia porque, em resumo, “não fizeram nada de mais”.

      Penso que o oportunismo os levou a um grande erro. Não terão o bônus do apoio — e carregarão o enorme ônus de poderem ser considerados alguém que defende o ataque às instituições e ao Estado Democrático de Direito. Ou seja, poderão vir a ser chamados de golpistas.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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