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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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O fascismo está vivo, bem e crescendo

"Quem imaginava que a eleição de Lula encerraria o ciclo do fascismo no Brasil estava enganado", escreve Fernando Horta

Lula, militares e os atos terroristas bolsonaristas de 8 de Janeiro (Foto: ABR)

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Não há mais dúvidas sobre o fato de que o que experimentamos entre o golpe contra Dilma Rousseff (2015-2016) e a eleição de Lula para o terceiro mandato (2023) é uma experiência política dentro dos marcos do que se chama de fascismo. Exatamente como aconteceu nos anos 30 do século passado, passamos de uma posição ultraliberal (com a “Ponte para o Futuro” de Michel Temer e depois as loucuras de Paulo Guedes) para uma postura ditatorial com tentativas fartas de tomada do poder e golpes cujo único objetivo era terminar a democracia no Brasil.

A eleição de Lula em outubro de 2022 foi histórica porque é o único exemplo na história em que se conseguiu vencer uma liderança fascista já no poder, por meios democráticos. Nunca na história do mundo, um regime fascista de posse dos meios de Estado perdeu uma eleição. E isso se deve tanto à figura do presidente Lula, quanto à militância de esquerda e centro-esquerda que foram às ruas. Também se deve ao consenso institucional que se cristalizou contra Bolsonaro e teve como rosto Alexandre de Moraes.

Ocorre que alguns pensaram que ali, o fascismo estava vencido. Que bastava fazer um governo com “transformação real” da sociedade para que se estabelecesse o “fluxo da história” e este entulho criminoso ficasse para trás. A má notícia que fica evidente até para quem não é historiador é que o fascismo está vivo, passa bem e está sendo bem alimentado.

As votações das semanas passadas, onde os vetos de presidentes foram discutidos mostraram o que Lira queria para o seu final de mandato. Ele reuniu cerca de 317 deputados para derrubar o veto de Lula ao projeto do fim das “saidinhas” e quase o mesmo número para manter o veto de Bolsonaro a criação de tipo criminal novo sobre “fake news”. Não cabe aqui discutir o mérito ou não tanto dos projetos apresentados, quanto das votações. Cabe lembrar que foram arregimentados 317 deputados para essas votações e que o necessário para um impeachment são 342.

Terminada a “lua de mel” que a ciência política afirma existir entre o presidente eleito e o Congresso para que o Brasil democrático volte a ter pesadelos com a falta de articulação política do governo. A votação do “estatuto do estuprador” na noite passada foi uma demonstração do que pode um fascismo empoderado por uma comunicação débil e uma falta de compreensão do que realmente opera no Brasil. Lira, capitaneando sua tropa de deputados pagos com dinheiro público e sem sequer saber o que tinha sido aprovado, construiu um referencial legal sobre o corpo de todas as mulheres no Brasil que deixaria Adolf Hitler com lágrimas nos olhos. Entre 1930 e 1934 o partido nazista alemão perseguiu de todas as formas construir uma lei que não apenas retirasse a possibilidade do aborto (que existia desde 1925 na Alemanha), como também criminalizasse médicos, enfermeiros e todos os envolvidos no processo. A ideia era de que todo nascido ariano era de interesse “da pátria” enquanto o mesmo governo promovia políticas de esterilização em massa “das vidas não aptas” dos não-arianos.

Hitler, contudo, não foi tão bem-sucedido quanto Lira. Nos dois lados da equação. O Congresso brasileiro segue promovendo um genocídio de jovens negros através da “guerra às drogas” e da política de proteção a qualquer ato de agente policial, enquanto ataca o controle das mulheres sobre seus próprios corpos.

Quem imaginava que a eleição de Lula encerraria o ciclo do fascismo no Brasil estava enganado. A falta de uma “desbolsonarização” da máquina pública, de uma comunicação efetiva para democracia e inclusão e o flerte com políticas econômicas liberais mantém o fascismo vivo, bem e se nutrindo. Se ele vai ressurgir pelas mãos brancas de Arthur Lira, pelas mãos “ungidas” de Malafaia, pelas mãos “técnicas” de Tarcísio e Campos Neto ou se pelas velhas mãos de Bolsonaro e seus herdeiros é a única dúvida que este historiador aqui tem.

Que Lula e Haddad não nos deixem de herança uma abominação ainda mais difícil de vencer.

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