O grande teatro do combate à corrupção
Dalton Dallagnol, que foi na moita na Caixa Econômica negociar juros para um dinheiro esquisitão, de uma jogada que armou com os Estados Unidos e que a própria Procuradora Geral da República e o próprio STF também acharam esquisitão, não está nem aí para combater a corrupção. Sergio Moro nunca esteve nem aí para combater a corrupção
Eduardo Cunha não estava nem aí para combater a corrupção, claro. Geddel Vieira Lima, que dava entrevistas nas passeatas dizendo que era preciso acabar com a corrupção, não estava nem aí para combater a corrupção. A excelentíssima senhora do então prefeito de Montes Claros, em MG, dando gritos inflamados contra a corrupção, não estava nem aí para combater a corrupção. Aécio Neves, que liderou a cruzada de moralização do Brasil, não estava nem aí para combater a corrupção. Romero Jucá, que assumiu e desassumiu e assumiu de novo (na moita) o “cargo” de primeiro-ministro do governo Temer, não estava nem aí para combater a corrupção. Michel Temer, que acusou de ser bandido notório seu convidado da meia-noite para um papo ameno sobre dietas e transporte de valores, não estava nem aí para combater a corrupção.
A ministra Carmem Lúcia, que fez um discurso austero e moralizante, quando assumiu a presidência do STF cercada da fina flor da corrupção, não estava nem aí para combater a corrupção. Fernando Henrique Cardoso não estava nem aí para combater a corrupção, tanto que criou o cargo de Engavetador Geral da República, assumido em caráter vitalício por Gerardo Brindeiro, que não estava nem aí para combater a corrupção. José Serra, Geraldo Alkmin e Paulo Preto nunca estiveram nem aí para combater a corrupção.
A grande maioria dos jornalistas que defende a moralização do país que estaria sendo feita pela Lava à Jato, não está nem aí para combater a corrupção. Tanto que só atacam os corruptos quando eles são presos ou surpreendidos com a boca na botija (nessa hora, a imprensa começa com ahs e ohs, como pode, ah, oh, no Jaburu, ah, oh, de noite, ah, oh, a mala, ah, oh; eu digo, ué, gente, todo mundo sabia que esse cara era um bandido, só esses jornalistas não? não é da profissão de jornalista ser informado?). Fernando Collor de Mello, que dizia que ia acabar com a corrupção, sem estar nem aí para combater a corrupção, foi eleito graças a imprensa que o apoiou sem estar nem aí para combater a corrupção.
Os militares nunca estiveram nem aí para combater a corrupção. Alguns historiadores até contam que nunca houve tanta corrupção no Brasil como na ditadura militar, o que é bastante lógico, tratando-se de um regime que tinha o poder de proibir e censurar informações. A família Bolsonaro, então, que mantém funcionários fantasmas, recolhe grana dos salários deles (e dos outros também), dá medalhas a milicianos e sicários, monta um esquema de influencia e poder que elege pai, mãe, filhos, tem patrimônio incompatível com sua renda, nunca esteve nem aí para combater a corrupção.
Dalton Dallagnol, que foi na moita na Caixa Econômica negociar juros para um dinheiro esquisitão, de uma jogada que armou com os Estados Unidos e que a própria Procuradora Geral da República e o próprio STF também acharam esquisitão, não está nem aí para combater a corrupção. Sergio Moro nunca esteve nem aí para combater a corrupção, embora isso só tenha ficado mais claro para muitos depois dele virar ministro de corruptos e fazer cara de bobo (de cínico?) quando perguntam a ele pelo Onyx, pelos laranjas, pelo ministro A, pelos milicianos, pelos filhos do chefe, pela mulher do chefe, pelo ministro B, pelo Queiroz, pelo ministro C, todos esses que, como ele, não estão nem aí para combater à corrupção.
Todos esses falsos heróis do combate à corrupção têm um discurso que posso resumir. Mais ou menos assim.
“Hoje em dia, as pessoas já não respeitam nada. Antes, colocávamos num pedestal a virtude, a honra, a verdade e a lei... A corrupção campeia na vida do país nos nossos dias. Onde não se obedece a lei, a corrupção é a única lei. A corrupção está minando este país. A virtude, a honra e a lei desapareceram de nossas vidas”.
É o discurso síntese, uma palavra mais, outra menos. Podia ter juntado vários discursos dessa gente, botado numa peneira e feito esse. Mas nem foi preciso, peguei um que já estava pronto e que já fazia a síntese de todos. Foi exatamente com essas palavras a declaração de um desses heróis do combate à corrupção, em entrevista publicada na revista Liberty, em 17 de outubro de 1931. Um que também não estava nem aí para combater a corrupção, como vocês sabem. Qual deles? Al Capone. Pois é, assim falou Al Capone, uns dias antes de ser preso.
Qual é então a esperança que podem ter os brasileiros na luta contra a corrupção? É simples e não é simples: o verdadeiro combate à corrupção é estrutural, envolve uma discussão maior, de educação, cultura, modelos de sociedade.
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