O grande vencedor e o grande perdedor
"Independentemente do resultado final em São Paulo, Guilherme Boulos saiu desta eleição como uma nova – poderosa e fulgurante – figura no cenário político nacional", diz Eric Nepomuceno. "Ao mesmo tempo, o grande perdedor, em todos os sentidos, foi Jair Messias"
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Não foi preciso esperar que as urnas fossem fechadas e os votos começassem a ser contados para ter a certeza de que nas eleições municipais deste tresloucado 2020 houve um grande vencedor e um grande perdedor.
Independentemente do resultado final em São Paulo, Guilherme Boulos saiu desta eleição como uma nova – poderosa e fulgurante – figura no cenário político nacional.
Se pode haver um certo exagero em classificá-lo como “novo líder da esquerda”, sem sombra de dúvida Boulos tornou-se, em todo o país, uma nova referência. Sua figura deixou de estar restrita ao âmbito de São Paulo, principalmente entre os jovens, para se espalhar país afora.
A exemplo de Lula, figura muito maior que o PT (o que não é pouco: afinal, se trata do maior partido da América Latina...), Boulos passou a superar, e com amplíssima vantagem, o alcance do PSOL.
Ao mesmo tempo, o grande perdedor, em todos os sentidos, foi Jair Messias. Se uma vasta série de fatores já vinha corroendo sua popularidade em várias capitais estaduais, com destaque para Salvador e São Paulo, de todos os candidatos a prefeito apoiados por eles dois, e apenas dois, passaram ao segundo turno, e com fortes possibilidades de derrota.
Os golpes mais fulminantes contra Jair Messias foram disparados justo nas duas maiores capitais do país.
Em São Paulo, o bizarro Celso Russomano por pouco não despenca para um quinto e humilhante lugar no primeiro turno.
E no Rio, o patético Marcelo Crivella, esse mercador da fé alheia autonomeado bispo de uma seita fundamentada no cofre, caminhava para ser literalmente esmagado, levando com seus restos o certificado de pior prefeito da história da cidade.
Afirmar que a tendência indicada pelas urnas mostra que ao longo do mapa venceram os partidos de direita e centro-direita, essencialmente conservadores nos moldes tradicionais, é correto, mas parcial.
Afinal, quando se observa que a maioria das cidades onde se concentra o maior eleitorado – com exceções pontuais, como Belo Horizonte e Salvador – são justamente as que tiveram segundo turno, o quadro muda.
E é nesse quadro que se destaca tanto o desempenho, sob muitos aspectos surpreendente, de Guilherme Boulos, como o de Jair Messias, perfeitamente previsível.
Daqui para a frente, ou seja, com os olhos postos no caminho que nos separa de 2022, a esquerda e as forças progressistas terão, inevitavelmente, de levar em conta, e a fundo, o panorama que surgiu das urnas.
Já a extrema-direita encabeçada por Jair Messias mostra uma tendência, ou ao menos uma inclinação, de se reduzir cada vez mais, e por isso mesmo acentuar de maneira extrema seu radicalismo.
Sabe-se que um psicopata, quando contrariado, pode superar sua própria capacidade de destruir limites.
Pois ao longo da vida, e não apenas durante sua presidência, Jair Messias só fez deixar claro que ignora todo e qualquer vestígio de limite.
Tudo indica que continuará a mentir e a negar o óbvio, a insuflar a estupidez alheia de seus fanáticos arrebanhados por aí com sua própria e incomensurável estupidez.
Cabe, pois, não apenas às forças progressistas, mas também às conservadoras (reitero sempre: não confundir conservador com reacionário...), avançar já não na defesa, mas na recuperação da democracia.
Ela continuará sendo ameaçada, cada vez mais, por Jair Messias e seus esbirros, tanto os de terno e gravata como os fardados ou empijamados.
Mas agora surge uma luz no fundo do túnel, e desta vez não se trata de uma locomotiva vindo na contramão da vida.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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