O identitarismo na Luta de Classes
As pautas identitárias precisam caminhar ao lado da luta de classes. Precisam estar juntas, nas ruas, nas escolas, nas universidades, nas periferias, enfim, nas cidades
Olá, companheiros e companheiras. Como vão? Venho, neste espaço, trazer uma reflexão que há muito tempo me incomoda dentro do âmbito da esquerda brasileira e que foi pouco falado nas eleições municipais do ano passado. Creio, e peço para que leia todo o texto para concordar ou discordar, que estamos esquecendo de trazer para o debate a pedra fundamental de quem se considera de esquerda: a luta de classes.
Antes de começar a explanação, deixo claro que não vou citar dezenas de autores. Primeiro que não conheço tantos. Segundo que faço uma análise dentro daquilo que já vivenciei: uma pessoa pobre, de origem humilde e que durante muitos anos foi oposição àquilo que defende hoje (até ter descoberto minha consciência de classe).
A luta de classe é o ponto de partida de toda a luta progressista. São batalhas e mais batalhas para diminuir a opressão do Capital e das Elites, empoderando e criando políticas públicas para aqueles que mais precisam. Aliada à luta de classes está a consciência de classe que, em resumo, é o momento em que o ser entende de onde veio, para onde – em condições normais – deveria ir e qual a importância de compreender o universo em que habita para mudar esta realidade.
A luta e a consciência de classes caminham lado a lado. Em síntese, são fundamentais para explicar para qualquer pessoa sobrepujada neste país os motivos pelos quais ela continua na miséria e a importância de se lutar por condições melhores para ela e para toda uma geração. Sem estes dois pontos, ficamos à mercê do velho clichê da meritocracia, por exemplo.
Falta ao campo progressista, atualmente, um diálogo com os trabalhadores sobre a luta de classes. É inconcebível falarmos de eleições sem ter um programa que coloque luz em cima dos problemas que os trabalhadores vivem. Só nesta pandemia estamos passando por exploração, desvalorização, aumento de desemprego, problemas psicológicos e sucateamento das relações trabalhistas. Não dá para colocar o bloco na rua sem falar sobre estes temas.
Não dá para falar de eleições sem colocar os pés nas áreas de vulnerabilidade e falar com as mães sobre as condições das creches e escolas; sem falar com os idosos sobre a situação dos postos de saúde; sem falar com os jovens sobre o mercado de trabalho, e sem conversar com a comunidade sobre espaços democráticos de esportes, lazer e cultura. Sem apresentar para estas pessoas, de maneira prática, a luta de classes, não criaremos a consciência de classe, que fará com que elas caminhem ao nosso lado.
E na esteira deste processo, enfrentamos um aumento considerável de representantes legislativos que levantam as pautas identitárias, sem coloca-las no bojo da luta de classes. Não dá para falar de exploração da mulher sem a luta de classes; não dá para falar de racismo sem a luta de classes; não dá para falar sobre homofobia sem a luta de classes. Todos os problemas sociais passam, direta e indiretamente, pela luta de classes.
O grande problema de se eleger representantes que têm apenas o discurso identitário é que corremos o risco de entrarmos em bolhas e não atingir o objetivo de conversar com o todo. Na política é preciso negociar, conversar, dialogar. Chegar com pedras nas mãos e rotulando tudo e todos é perigoso. Não podemos ser uma esquerda baderneira, que fala para os convertidos e não consegue aprovar um projeto que seja de interesse social.
As pautas identitárias precisam caminhar ao lado da luta de classes. Precisam estar juntas, nas ruas, nas escolas, nas universidades, nas periferias, enfim, nas cidades. Precisamos aprender a jogar o jogo, para começarmos uma guinada progressista que dê esperança para o futuro do Brasil.
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