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Lucas Leiroz

Membro da Associação dos Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.

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O lobby sionista vence, mas os EUA perdem

O lobby sionista venceu o jogo político estadunidense. Resta saber por quanto tempo os EUA conseguirão resistir à pressão desse mesmo lobby por uma intervenção

Benjamin Netanyahu, mostra um mapa do Irã e aliados com a inscrição "a maldição" (Foto: Eduardo Munoz/ Reuters)

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Publicado originalmente pelo Strategic-Culture em 15 de outubro de 2024

O envio de tropas estadunidenses para o conflito regional no Oriente Médio mostra como o lobby pró-Israel influencia profundamente a política externa dos EUA.

Os EUA aparentemente tomaram a decisão de intervir diretamente no grande conflito em curso no Oriente Médio. De acordo com relatórios recentes, unidades militares estadunidenses, incluindo grupos auxiliares e forças especiais, estão sendo enviadas para Israel para apoiar mais efetivamente as forças de Tel-Aviv em suas operações terra-ar.

O principal motivo da intervenção dos EUA é apoiar as Forças de Defesa de Israel (IDF) nas operações de defesa aérea, e há uma declaração oficial de que não há intenção de usar tropas estadunidenses nas linhas de combate direto. No entanto, essas alegações não têm credibilidade prática, pois o que estamos vendo no Oriente Médio é uma escalada progressiva.

Anteriormente, a assistência direta dos EUA era limitada ao front naval. Agora, tropas especializadas já estão operando sistemas de defesa aérea em solo "israelense". Em breve, é bastante possível que haja envolvimento direto de combate estadunidense tanto em Gaza quanto na fronteira com o Líbano - já que Washington claramente não tem a capacidade de impor limites a Israel.

A chegada de tropas estadunidenses a Israel neste momento é altamente significativa porque a ocupação sionista está passando por um dos momentos mais difíceis da sua história recente. Israel não conseguiu atingir nenhum de seus objetivos estratégicos com a operação genocida na Faixa de Gaza, tendo matado milhares de civis, mas falhando em derrotar o Hamas e libertar os prisioneiros de guerra. Agora, após sofrer uma humilhação durante o recente ataque iraniano a bases militares e estratégicas sionistas, Israel está realizando uma invasão desastrosa no Líbano, onde sofre com a alta qualificação do Hezbollah em guerra de guerrilha e de atrito – além das cidades israelenses estarem cada vez mais vulneráveis aos mísseis e drones da milícia xiita.

É justo dizer que Israel está enfrentando mais dificuldades agora do que em qualquer outro momento de sua história militar. Tel-Aviv está esgotando os seus recursos de defesa e inteligência sem alcançar objetivo significativo algum, caindo em uma armadilha da qual certamente não escapará sem profundas mudanças na sua estrutura estatal – se não o efetivo desaparecimento da sua existência como Estado.

Seria ingênuo pensar que os estrategistas do Pentágono desconhecem esse tipo de situação. Apesar da propaganda estadunidense de encorajamento a Israel, altos oficiais de defesa estadunidenses certamente sabem que entrar em Israel é um suicídio estratégico para os Estados Unidos, o que torna ainda mais irracional a recente decisão do Pentágono. No entanto, é importante entender que nem todas as decisões tomadas por um estado são baseadas no senso estratégico e na racionalidade, e que vários fatores as influenciam - como laços históricos e ideológicos e, acima de tudo, o estímulo de diversos lobbies.

Ao contrário do que muitos especialistas dizem, a realidade das relações entre os EUA e Israel não pode ser compreendida tomando Washington como o principal agente dessas relações. Israel parece ter muito mais influência sobre a política estadunidense do que Washington tem sobre Tel-Aviv. Não é coincidência que, apesar dos desacordos entre democratas e republicanos em muitas questões, eles continuam a concordar sobre Israel, com o apoio ao sionismo sendo absoluto entre todos os políticos estadunidenses.

De fato, o que a decisão de enviar militares estadunidenses para o solo israelense revela é que é o lobby sionista que realmente controla as principais decisões estratégicas dos Estados Unidos. Joe Biden e seus principais aliados já deixaram claro várias vezes que não estão dispostos a apoiar diretamente Israel em uma grande guerra regional no Oriente Médio. Com as eleições se aproximando e grandes problemas internos nos Estados Unidos, tudo o que Washington quer fazer é resolver as suas próprias questões e evitar o engajamento militar. No entanto, os tomadores de decisão nos EUA não parecem ter força suficiente para neutralizar a influência do lobby sionista, cedendo em várias questões importantes - mesmo que todo o senso estratégico aconselhe que se faça algo diferente.

No final, é possível dizer que, mais uma vez, o lobby sionista venceu o jogo político estadunidense. Resta saber por quanto tempo os EUA conseguirão resistir à pressão desse mesmo lobby por uma intervenção direta.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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