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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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O “Mad Man”

Netanyahu é um autêntico “mad man” que mesmo tendo recebido inúmeros avisos contra a continuidade dos ataques em Gaza, seguiu como se nada estivesse acontecendo

Benjamin Netanyahu (Foto: Ohad Zwigenberg/Pool via Reuters)

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Ao longo de toda a segunda metade do século XX os EUA e o mundo ocidental criaram teorias de Ciência Política, Relações Internacionais e Geopolítica para convencer o mundo que o maior perigo que poderia existir seria um “homem louco” (mad man, em inglês). A política, para esses cientistas, tinha algumas regras, poderia ser compreendida longe dos indicadores éticos que estavam presentes nos séculos anteriores. Agora, estava privilegiada a lógica economicista, o “ator racional” e outros modelos que literalmente “ensinavam” os agentes a pensarem a “nova configuração” de poder no mundo.

Durante a Guerra Fria esse modelo do “mad man” foi descrito como parte da falta de civilização do Oriente. Os “mad men” eram figuras que, sem o estudo das “teorias científicas” sobre política, eram capazes de oferecer riscos reais ao mundo. Por isso os EUA, Inglaterra, França e até Israel (?) poderiam ter armas nucleares que a “democracia” se encarregaria de que eles tomariam sempre a “melhor decisão”. Já o oriente “incivilizado”, a américa latina “atrasada” e os países comunistas (cuja lógica economicista eram diferentes) eram “ameaças” ao “mundo livre” exatamente porque não respondiam à “racionalidade científica” do Ocidente.

O primeiro líder a receber essa pecha (e talvez até mesmo construir uma política em torno dela) foi Nikita Kruschev. E neste período, entre Kruschev e John Foster Dulles (secretário de Estado dos EUA entre 53 a 59), realmente se estabeleceu um período do terror, com ameaças de uso irracional da força por meio das bombas atômicas. Depois, daí, contudo, o trauma na política internacional estava sacramentado. Vários outros líderes recebiam – ao gosto dos discursos do Ocidente – o rótulo de “mad man”. “Homens maus” que deveriam nunca poder alcançar o poder e, se alcançassem deveriam ser privados de capacidades destrutivas (e até mesmo de sua vida) pelo “bem da humanidade”.

Essa foi a tônica das ações dos EUA ao longo de todo o século XX e início do XXI. Saddam Hussein, Muamar Kadaffi, Fidel Castro, Ho-Chi-Minh, Mao Zedong e tantos outros foram encaixados nessa definição do ocidente cujo único ponto em comum entre eles era serem contrários aos interesses geopolíticos dos EUA em algum momento. O que os EUA não esperavam é que teriam que enfrentar os “mad man” criados por eles mesmos e agora, vestidos de terno e gravata e falando inglês.

A primeira experiência que os EUA tiveram foi exatamente Osama Bin Laden. Treinado e armado pela CIA para lutar contra os soviéticos na guerra entre a URSS e o Afeganistão, Bin Laden acabou sendo o responsável pelo ardiloso atentado ao WTC em 2001. Embora toda a investigação sobre os atentados mostre que houve despreparo, falha e falta de comunicação interna das forças norte-americanas, a narrativa que se plasmou no mundo é a do “homem louco”, irracional, incivilizado e monstruoso.

Hoje, o mundo está às portas de um novo conflito mundial e – agora sim – com a figura de um “mad man” que não responde a nenhuma condição teórica de racionalidade. Se, com Bin Laden, ao menos foi mantida a lógica do “ocidente heróico e racional contra o oriente bestial e monstruoso”, como explicar agora Benjamin Netanyahu? Netanyahu é sim um autêntico “mad man” que mesmo tendo recebido inúmeros avisos de Kamal Harris, Joe Biden e até Donald Trump contra a continuidade de suas atrocidades em Gaza, seguiu como se nada estivesse acontecendo. Netanyahu, um judeu que resolveu – em fala pública – perdoar e desculpar Adolf Hitler, dizendo que ele “não queria” matar judeus no holocausto, mas teria sido incitado por lideranças muçulmanas. Netanyahu, que na última semana atacou quatro países vizinhos em busca de consolidar a sua “Grande Israel” sagrada mostrada em mapas no púlpito da ONU e defendida em artigos jornalísticos de seus ministros.

A verdade é que enquanto Netanyahu não for apeado do poder, por qualquer meio possível, a vida de todas as pessoas no Oriente Médio corre perigo. O líder do governo israelense joga com a vida dos próprios israelenses, criando uma condição de insegurança tal que pede para que Israel seja atacada para que ele se banhe no sangue das vítimas e possa jogar o mundo num conflito mundial.

A segurança de Israel anda de mãos dadas com a segurança das populações de Gaza, do Líbano e da Síria. O destino de um será partilhado pelos outros e é preciso reconhecer que hoje o Irã exercita sua máxima constrição política ao fazer retaliações tópicas e simbólicas contra o território israelense. O Irã sabe que se atacar Israel como Netanyahu quer o “mad man” terá vencido e um conflito mundial de proporções incalculáveis estará quase consolidado.

É preciso resistir a Netanyahu até a eleição dos EUA. Uma vez definido ali o presidente (ou presidenta) e Netanyahu será retirado do poder. A forma que isso se dará ainda é negociável, mas esperamos que ele pague por todos os crimes cometidos. Crimes contra Israel, contra Gaza, contra o Líbano, Síria e Irã. Crimes contra essas populações e crimes contra a humanidade. Hoje, o panteão dos monstros já tem um representante vivo. Netanyahu já está ao lado de Adolf Hitler e um seleto grupo de monstruosidades com o seu nome gravado na História.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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