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    Pedro Paiva

    Jornalista, mora em Nova York. Foi produtor e repórter do América News, jornal do canal internacional da Globo feito para a comunidade brasileiros nos Estados Unidos. É colaborador da Revista Híbrida e da USBRTV nos Estados Unidos. Acompanha a política estadunidense e outros temas importantes do país

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    O metrô de Nova York vai sobreviver ao pós-pandemia?

    Quase dois anos após a volta do serviço normal, o número de usuários do metrô segue muito abaixo do que era em 2019

    Metrô ne Nova York (Foto: Reuters/Andrew Kelly)

    O sistema de metrô de Nova York é famoso em todo o mundo. Não foi o primeiro, título que pertence a Londres, tampouco é o mais longo, atualmente o de Shangai. Mas o metrô de Nova York é aquele que opera o maior número de estações: um total de 425, fora as que estão fechadas.

    O transporte sobre trilhos foi o que salvou a maior cidade dos Estados Unidos da ditadura cruel das highways e freeways, das cidades feitas exclusivamente para os carros e onde pessoas são raramente vistas nas calçadas. As vias expressas existem, é verdade, mas são parte menor na vida dos que vivem aqui em comparação àqueles que moram em Los Angeles, Houston, Chicago e tantas outras grandes cidades pelo país. 

    Acontece que o sistema ferroviário de cidade nunca superou a pandemia. Em maio de 2020, pela primeira vez nos 115 anos desde a sua inauguração, o metrô da cidade deixou de operar 24 horas por dia. O motivo foi a necessidade de desinfectar, diariamente, as plataformas e trens, na tentativa de conter a disseminação do Coronavirus que tinha em Nova York o seu epicentro mundial. Um ano depois, o MTA (autoridade municipal responsável pelo transporte público de NY) anunciou a volta à normalidade. Mas o novo normal, para muitos, não passava mais pelas catracas do metrô.

    Quase dois anos após a volta do serviço normal, o número de usuários do metrô segue muito abaixo do que era em 2019. Em 92,8% das estações há menos usuários do que há 4 anos atrás. Em alguns casos, a queda é drástica, como na estação Canarsie-Rockaway, no Brooklyn, onde o movimento representa menos de 15% do que era no ano anterior à pandemia.

    Pela primeira vez na vida, muitos novaiorquinos compraram carros. O medo de contrair a COVID-19 e a necessidade de se locomover fez com que, quem podia, comprasse um carro e arcasse com o alto custo que é manter um automóvel na cidade. Segundo o New York Times, o número de veículos registrados em Nova York cresceu 37% somente entre agosto e outubro de 2020. Muitas dessas pessoas voltaram a utilizar o metrô no dia-a-dia, mas nem todas. 

    Outro elemento que contribui para a queda no movimento do metrô é o número elevado de pessoas que seguem trabalhando em casa. Esse é um elemento que afeta não apenas o transporte público, mas também pequenos e médios negócios como cafeterias, lanchonetes, bares, restaurantes e tantos outros serviços, não só em Nova York mas em toda parte.

    Por fim, o fator medo também pode ser um indicativo da queda no número de usuários do sistema metroviário. No ano passado, um atirador feriu 10 pessoas no Brooklyn ao abrir fogo dentro de um vagão. Meses antes, uma mulher morreu ao ser empurrada em frente a um trem que chegava à estação da Times Square por um morador de rua. O crescente número de pessoas com problemas de saúde mental vagando pelas estações, e com pouco ou nenhum acompanhamento das autoridades, faz com que todos hoje todos usem o metrô com olhos bem abertos e sempre bem posicionados contra paredes ou pilastras. 

    Nos seus 117 anos de história, o metrô de Nova York já passou por muitas provações. Já tentaram minar o sistema para dar lugar a grandes vias expressas que cortariam Manhattan de ponta a ponta. Em outros momentos, foi deixado às traças e era um local ainda mais sujo e perigoso do que é hoje. A pandemia é mais um desses desafios. Será que ele vai sobreviver também desta vez?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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