O novo “crack” do Congresso

O PP, partido de Ciro Nogueira, aquele político de fala mansa recentemente flagrado num áudio conspirando contra o governo Lula junto à Faria Lima, tem uma nova aposta política para as eleições de 2026. Trata-se do influenciador fitness Renato Cariani, um dos ídolos da juventude bolsonarista que, segundo investigações da Polícia Federal e denúncia do Ministério Público aceita pela Justiça de São Paulo, tem envolvimento com uma organização criminosa acusada de desviar produtos químicos para a produção de drogas. Como se já não bastasse as “drogas” que já temos em Brasília, poderemos ter um especialista na produção de outras.

Cariani é o preparador físico de Pablo Marçal, o que aumenta a veracidade da denúncia da PF sobre o seu envolvimento com produção de drogas. Aliás, caso seja eleito, o bombado alquimista terá à disposição uma gama de "produtos químicos" para aumentar a produção de entorpecentes filosóficos da extrema-direita. Se ele misturar uma porção de Nikolas Ferreira + uma dose de Gustavo Gayer, produzirá uma tonelada de shit (do português, merda) prensada, uma droga perigosíssima que altera o estado de consciência, provocando uma sensação de inteligência e excludente de ilicitude.

Com shit na mente, o sujeito tanto pode comparar Rosa Parks, uma das principais ativistas pelos direitos civis nos EUA, com Débora Rodrigues, uma "cabelelera" desocupada e golpista que abandonou os filhos menores de idade para ajudar numa tentativa de golpe de Estado, como dirigir embriagado e provocar acidentes de trânsito com vítimas fatais. É inegável que os conhecimentos químicos de Cariani têm feito a cabeça de muita gente, sobretudo, de jovens em busca do mesmo corpo anabolizado que ele exibe. Ciro Nogueira entende que Cariani é um comunicador nato, e pode liderar uma frente voltada à saúde e ao bem-estar da população.

Talvez tenhamos a criação do "Bolsa Whey Protein", ou do programa "Meu shape, minha vida", mas a expectativa é que venha algo bem pior. Com mais de 10 milhões de seguidores nas redes sociais, e um discurso de coach neoliberal, o influencer tem tudo para viciar mais jovens em shit e fazê-los reproduzir em sociedade o mesmo comportamento narcisista que move a maioria dos corpos anabolizados das academias. Em busca da perfeição física e da superficialidade do raciocínio, atributos imprescindíveis para sobreviver num mundo capitalista e capacitista, figuras como Cariani soam como Aristóteles e Platão para o pensamento de jovens cada vez mais obcecados pelo nada, e, de certa forma, órfãos de uma esquerda que um dia os privilegiou em seus quadros.

A renovação política que a esquerda deixa de fazer, a extrema-direita o faz com muita habilidade e boas doses de desonestidade intelectual e distopia. Uma química que rola perfeitamente quando a conscientização social e política da juventude deixa de ser uma das prioridades do campo progressista. O não uso das redes sociais para se comunicar com esse público, por exemplo, é um dos erros de um governo que ainda não percebeu que não se faz mais política como nos anos 1980. Ainda que fizesse, a esquerda ficaria devendo no “corpo a corpo” e na interação com a juventude periférica, algo que a extrema-direita tem feito através das igrejas neopentecostais.

E por falar em igreja, eu já ia me esquecendo dos "produtos químicos" terrivelmente evangélicos disponíveis no Congresso, onde 100 gramas de Sóstenes Cavalcante + um litro de Damares Alves, produz uma porção de conto da Aia, uma droga que faz mulheres estupradas darem à luz sorrindo e homens viciados agirem como Silas Malafaia. Renato Cariani irá se sentir num parque químico de diversões. Só não pode deixar o senador Marcos do Val se aproximar da produção, porque o prejuízo é certo. Mas o que mais me incomoda nesse momento é a Justiça. Não pelo vício que provoca, mas pelo efeito prometido que não entrega no combate a esse tipo de droga que cada vez mais vem tomando conta da nossa sociedade.

É óbvio que essa possível candidatura de Renato Cariani, é uma estratégia para ganhar imunidade parlamentar antes de ser condenado pela justiça, e poder se defender com mais privilégios. Uma jogada de crack que nós iremos assistir sabendo que o juiz pode anular o gol, se consultar o VAR e ver que ele deveria estar impedido de participar do lance.