O novo Lula dobra apostas em todas as disputas para pôr a bola no seu campo
Dobrou contra os vândalos, contra os militares, no anúncio do 'mecanismo' comercial do Mercosul e dobrou no caso de Venezuela e Cuba
Era evidente a carga emocional presente nesta segunda-feira à entrada de Lula no Salão Branco da Casa Rosada em Buenos Aires.
Acompanhado de Alberto Fernández, Lula reingressa como presidente no palco internacional.
A incredulidade consegue unir adeptos e inimigos. Por mais que todos acreditem saber, nenhuma explicação dá conta.
Que conjuração histórica fez que uma figura como essa fosse reentronizada? A emoção esteve presente no agradecimento de Lula a Fernández, que o visitou na prisão em Curitiba. Alberto veio às lágrimas.
Esteve presente na promessa de amizade eterna a ponto das desculpas pelas ofensas de Bolsonaro aos argentinos e da declaração de preferência pela Argentina na Copa, mesmo à frente do Brasil ("porque Messi tinha que ganhar o título ao menos uma vez, mas chega").
O fantasma Lula é, porém, bem ativo. Falou da maneira mais inequivoca sobre a proposta de moeda comum do Mercosul, vista aqui na Argentina como tábua de salvação para a falência das contas nacionais.
Para Lula, na verdade, a intenção é achar uma saída para remediar a queda no volume da exportações brasileiras para o vizinho.
Antes de reafirmar a ideia da moeda, Lula chamou Haddad diante do púlpito presidencial e faz uma consulta, segredando algo. Havia a clara ideia de dominar a agenda.
O mesmo se dá ao defender a soberania e o fim dos bloqueios, também sem margem para dúvidas, primeiro da Venezuela, depois de Cuba. Havia na sala três candidatos à candidatos a candidatos peronistas à presidência argentina, além do próprio Fernández: Sergio Massa, Daniel Scioli, Juan Mansur. A vice-presidente Cristina Kirchner é a quinta. Tamanha aproximação justificava a pergunta de um jornalista argentino: Como a vitória de Lula vai influenciar as eleições de outubro? Uma indagação que mais parecia um convite.
Um Lula invesrido de uma autoridade renovada, destinado a multiplicar espaços para além da vitória apertada.
Um Lula que não se rende à vigilância da mídia adversária e, ao contrário, em dobra a aposta pelo controle da agenda.
Essa é a marca do Lula aos 22 dias: dobrar a aposta em todas as disputas, mesmo quando lhe aconselham o contrário.
Dobrou contra os vândalos dos Três Poderes, dobrou contra os militares, dobrou agora no anúncio do que seria um "mecanismo" de troca comercial do Mercosul, que virou proposta de união monetária.
E, para completar, dobrou no caso da Venezuela e de Cuba. Sobrou até mesmo para Juan Guaidó, o queridinho da midia latino-americana submissa ao Departamento de Estado, que se apropriou de fundos sequestrados do Estado venezuelado pelo imperialismo. São sinais do Lula que vem por aí.
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