O papel da esquerda sem discurso no mundo disruptivo
"A esquerda tem que se atualizar, não porque pretensamente se diz que a luta de classes acabou, ao contrário, a exploração aumentou", diz Arnóbio Rocha
A esquerda e seu papel no mundo em chamas!
Para muito além dos resultados eleitorais nos últimos 15 anos, em especial com as mudanças advindas da crise mundial de 2008 e seus efeitos para a vida humana, as questões das urgências climáticas, mais ainda dos direitos fundamentais, trabalhistas e humanos. Esse artigo procura discutir o papel da esquerda nessa nova realidade do planeta.
A esquerda tem que se atualizar, é mandatório, não porque pretensamente se diz que a luta de classes acabou, que não há mais patrões e empregados, ao contrário, a exploração aumentou de forma acentuada, é muito maior, o tempo de trabalho não pago cresceu, a introdução de alta tecnologia, diminuiu as funções, a necessidade de grandes concentrações produtivas, mesmo na circulação, o que potencializa os lucros e a exploração humana, especialmente os mais especializados.
Os fenômenos de transformação do capitalismo, principalmente no início dos anos de 1970, com a introdução de tecnologias mais avançadas, fruto da microeletrônica e do desenvolvimento das ciências físicas, química, biológicas, eletrônicas (Telecomunicações, Eletricidade e Informática), elevaram a produtividade e uma modernização da vida como jamais vista, o colapso do leste, se deu exatamente, do ponto de vista econômico, de não ter como enfrentar uma realidade tecnológica maior e mais azeitada.
Nesse sentido, a adoção pelos países centrais do Estado de Bem-estar Social foi fundamental no embate ideológico com o Leste, mas também pela concentração de investimentos, com algumas vezes com similaridade com as economias do Leste, por exemplo: A forte presença estatal na economia, planejamento, direitos sociais e trabalhistas, previdência, aposentadoria, educação e saúde, públicas, isso por um largo período, quase 80 anos (1929-2008), as conquista o fez “vencedor” ideológico sobre o Leste Europeu.
A queda do muro de Berlim foi carregada por um enorme simbolismo e significado histórico, porque ali todas as forças represadas se liberaram, não apenas para experiência do Lesto, mas principalmente para o capitalismo, um mundo quase unipolar surgiu, com o império dos EUA como senhor do mundo, mesmo a formação da União Europeia (UE) consolidada em 2001, não fez frente ao poderio de Washington e sua máquina de guerra e poder.
Entretanto, uma nova ruptura no seio capitalismo se fez decorrente da Crise 2005-2008, com a queda do muro de Wall Street, em razão da, talvez, a maior crise de superprodução de Capital da história, abriu a possibilidade de uma reorganização, ainda incompleta, do Capital, tanto econômica, quanto superestrutural.
O capitalismo passa por uma enorme mutação de suas formas de exploração, piorando as condições de vida humana com o fim real do welfare state, além de criar um aparente vazio político. A esquerda derrotada em 1989, não se ergueu ainda e não encontrou seu eixo, sua estratégia de ruptura ou mesmo de adaptação tática ao SISTEMA, nem mesmo consegue entender o que são essas novas formas de exploração e suas formas jurídicas e políticas de Estado.
A expulsão de amplas massas do mercado mais sofisticado, com melhores benefícios e salários, cria vários estamentos dentro da classe trabalhadora, não mais como elemento fabril, mas como a classe transmutou-se, o que obriga a esquerda a não repetir fórmulas batidas ou tentar justificar seus limites políticos e ideológicos, criando culpados, como no baixo nível de consciência e identidade de classe, ao contrário, compreender essas mudanças, deveria ser a solução de enfrentamento necessário e a razão de um programa para superar o capitalismo.
Essa fragmentação da Classe Trabalhadora, sua precarização, uberização, formas mais desumanas de exploração, voltando jornadas de trabalho mais longas e cansativas. A confusão ideológica se acentua, a ação política do capital sobre a classe, cria uma ideia invertida de que seja donos de si e de seus trabalhos, não percebendo efetivamente que a essa nova lógica de exploração, não lhes deu a autonomia, nem viraram “patrões de si”.
A extrema-direita aparece em cena justamente com a Crise, o fim do Estado de Bem-estar Social lhes deu discurso, de que o “Sistema” não funciona, que precisa ser quebrado. Mas no fundo ela, a Extrema-Direita representa apenas os novos donos do Capital, uma parcela ainda menor e mais concentrada da riqueza, da ostentação, que não precisam mais de freios morais, éticos, de expressarem seu ódio de classe, suas vidas nababescas e disruptivas, na aparência, a extrema-direita luta contra o sistema, em essência, legitima esse novo Poder.
Sem embargos, nem ilusões, a alta tecnologia se tornou o motor da mais catastrófica mudança da humanidade, além de incrementar e potencializar mais exploração, ela ser de veículo ideológico, político, de coesão e coerção, para uma hegemonia do Capital, como poucas vezes visto.
Os avanços em algoritmos, a introdução da IA e da super concentração de poder das Big Techs, são formas de imposição e de fronteiras de quebra de paradigmas para formação humana, padrão cultural, educacional, na natureza, do clima, de soberania nacional e de unidades políticas autônomas.
Por fim, a esquerda, que foi e é tão fundamental para a existência humana precisa se reconectar ao mundo e suas mudanças dramáticas que põem em risco a vida na terra. Precisa se reafirmar como fonte de vida e dignidade, para que o planeta sobreviva ao caos, não é apenas a Barbárie que assusta, mas a escravidão não mais pelo contrato formal de trabalho, mas os grilhões tecnológicos, a dominação completa, vigiada e prisões digitais.
Em conclusão, não se trata de dominar ou não as ferramentas da internet, das Redes Sociais, algoritmos, IA, aplicativos, mas há uma falta de resposta política para as necessidades do momento, isso se reflete nas urnas, nos bairros, na religião, no debate na sociedade. Falar ao vento morte, fim, crise permanente, não ajudará a esquerda a encontrar novo discurso e de como intervir neste novo cenário disruptivo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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