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      Luis Pellegrini

      Luís Pellegrini é jornalista e editor da revista Oásis

      14 artigos

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      O poder é tóxico? Sim, quando cai em mãos erradas

      Acima de qualquer desejo ou ambição de poder, político ou qualquer outro, paira a inexorável Lei do Retorno

      Jair Bolsonaro faz declaração à imprensa em Brasília - 26/03/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

      Quando exercido sem os devidos freios e contrapesos, o poder pode levar a comportamentos que desafiam normas democráticas e éticas. O conceito de "efeito corruptor do poder" sugere que, em certas circunstâncias, indivíduos no poder podem adotar práticas autoritárias ou antiéticas, especialmente se houver uma falta de mecanismos eficazes de responsabilização.​

      O julgamento de Jair Bolsonaro e seu grupo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que começou esta semana e provavelmente se estenderá pelos próximos meses, não representa apenas a possibilidade de se fazer justiça a respeito de importantes crimes cometidos contra o Estado de Direito e a Constituição cometidos pelo ex-presidente e seus mancomunados. Ele representa também, para todos os cidadãos e notadamente para os profissionais da política, uma oportunidade de ouro: a de percebermos como o poder pode ser nefasto quando cai nas mãos de quem não está preparado para usá-lo e/ou tem índole avessa aos princípios e valores democráticos. Quando isso acontece, geralmente ocorrem consequências negativas, tanto para quem detém o poder quanto para aqueles que estão sob sua influência. 

      Algumas dessas consequências incluem:

      Decisões impulsivas e desinformadas – Sem preparo, a pessoa pode tomar decisões precipitadas, sem considerar as consequências a longo prazo.

      Abuso de poder – O indivíduo pode usar sua autoridade de maneira irresponsável, seja por ego, insegurança ou falta de compreensão sobre seu verdadeiro propósito.

      Falta de visão e liderança – Sem preparo, não há estratégia clara para conduzir pessoas ou administrar recursos, levando à desorganização e ao caos.

      Corrupção e instabilidade – O poder pode corromper aqueles que não têm uma base ética sólida, resultando em injustiças e crises sociais ou institucionais.

      Resistência e revolta – Se a incompetência for evidente, aqueles que estão sob o comando podem se rebelar, gerando conflitos e até colapsos estruturais.

      A história está repleta de exemplos de líderes e governantes que, sem preparo, causaram desastres políticos, econômicos e sociais. O poder exige responsabilidade, conhecimento e sabedoria para ser exercido de forma justa e eficaz. 

      Existe na mente de um número imenso de pessoas a ideia de que o poder é sempre tóxico e capaz de envenenar e corromper não apenas os que estão submetidos a ele mas também o próprio chefe, aquele que detém o poder nas mãos. Isso é verdade, mas trata-se de uma verdade parcial. Depende de como o poder é exercido e da pessoa que o detém. O poder em si não é inerentemente tóxico, mas pode se tornar quando usado sem limites éticos, sem prestação de contas ou com um forte desejo de controle sobre os outros.

      Existe um conceito chamado "efeito corruptor do poder", que sugere que, à medida que uma pessoa ganha mais poder, pode se tornar menos empática, mais egoísta e mais propensa a abusar da sua posição. Isso acontece porque o poder pode diminuir a necessidade de considerar as emoções e necessidades dos outros, levando a atitudes mais autoritárias ou insensíveis.

      Por outro lado, o poder também pode ser algo positivo quando usado com responsabilidade. Líderes que exercem poder com empatia, justiça e propósito podem promover mudanças significativas e melhorar a vida das pessoas ao seu redor.

      Bolsonaro é um exemplo de como o poder pode ser exercido de maneira controversa e polarizadora. Durante seu governo, muitas pessoas argumentaram que ele demonstrou características associadas ao efeito corruptor do poder, como a resistência a críticas, a centralização de decisões e o uso de retórica agressiva. Outros, no entanto – inclusive membros da militância bolsonarista - acreditam que ele não fez mais do que manter sua essência combativa desde antes de assumir o poder e que sua postura não foi um resultado da toxicidade do cargo, mas sim um reflexo de sua personalidade e ideologia.

      É verdade que, o poder, por si só, não necessariamente corrompe, mas pode amplificar traços já existentes em uma pessoa. No caso de Bolsonaro, aqueles que o criticam enxergam um aumento até mesmo patológico no autoritarismo e na indiferença em relação a certas questões sociais, enquanto seus apoiadores veem coerência com sua postura antes mesmo de ser presidente. Estes últimos aceitam e até mesmo defendem o fato de que seu líder tem vocação autocrata e, como todos os desse mesmo feitio, deseja concentrar poder, enfraquecer instituições democráticas e reprimir qualquer oposição. 

      ​As recentes acusações e processos judiciais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados levantam questões sobre como o exercício do poder pode influenciar comportamentos e decisões. Atualmente, o STF está avaliando denúncias que acusam Bolsonaro de liderar uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Além disso, em junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou o ex-presidente por abuso de poder político e o declarou inelegível por oito anos. 

      Esses eventos podem ser interpretados como exemplos de como o poder, quando exercido sem os devidos freios e contrapesos, pode levar a comportamentos que desafiam normas democráticas e éticas. O conceito de "efeito corruptor do poder" sugere que, em certas circunstâncias, indivíduos no poder podem adotar práticas autoritárias ou antiéticas, especialmente se houver uma falta de mecanismos eficazes de responsabilização.​

      Independentemente da interpretação, esses casos ressaltam a importância de instituições democráticas fortes e de mecanismos de controle que garantam que o poder seja exercido de maneira responsável e em conformidade com os princípios democráticos.​ Pois, acima de qualquer desejo ou ambição de poder, político ou qualquer outro, paira a inexorável Lei do Retorno, conceito que aparece não apenas na sabedoria popular, mas também em várias filosofias, religiões e crenças espirituais. Essa lei expressa a ideia de que tudo o que fazemos—seja bom ou ruim—em algum momento volta para nós de alguma forma. No caso de Jair Bolsonaro a Lei do Retorno agiu rápido. 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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