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      Cynara Menezes

      Baiana de Ipiaú, formou-se em jornalismo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e já percorreu as redações de vários veículos de imprensa, como Jornal da Bahia, Jornal de Brasília, Folha de S.Paulo, Estadão, revistas IstoÉ/Senhor, Veja, Vip, Carta Capital e Caros Amigos. Editora do site Socialista Morena. Autora dos livros Zen Socialismo, O Que É Ser Arquiteto e O Que É Ser Geógrafo

      87 artigos

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      O poema feminista que está fazendo extrema direita querer cassar uma deputada

      Cynara Menezes, do Jornalistas pela Democracia, comenta o pedido de cassação da deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) após a leitura de um poema na tribuna, e diz que "o problema, no fundo, é que os deputados não entenderam o poema. Ao falar 'sou puta', o que a poeta Helena denuncia, na verdade, é o ponto de vista do homem em relação à mulher e ao direito dela de ser LIVRE"

      Deputada estadual Isa Penna (PSOL-SP) (Foto: Alesp)

      Por Cynara Menezes, para o Socialista Morena e para o Jornalistas pela Democracia - É, para quem tem mais que dois neurônios, um protesto feminista sobre como o machismo vê a mulher. Mas a leitura do poema da mineira Helena Ferreira pela deputada estadual Isa Penna, do PSOL, na tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo, levou um deputado de extrema direita a pedir a cassação da colega por “quebra de decoro”.

      Isa recebeu o apoio imediato de lideranças do PSOL.

      O deputado Douglas Garcia (PSL), o mesmo que insultou uma colega trans, Erica Malunguinho, também do PSOL, e levou uma advertência do Conselho de Ética, é o autor do pedido de cassação. Na manhã desta sexta-feira, ele incitou seguidores no twitter ao ódio em massa contra a deputada, utilizando a hashtag #IsaPennaQuebrouDecoro.

      Outro nome da jovem extrema direita, o deputado federal Filipe Barros, também do PSL, se somou aos ataques contra Isa Penna no twitter, de forma machista e ofensiva.

      O problema, no fundo, é que os deputados não entenderam o poema. Ao falar “sou puta”, o que a poeta Helena denuncia, na verdade, é o ponto de vista do homem em relação à mulher e ao direito dela de ser LIVRE. É claro como água. Foi isso que a deputada, que é feminista, quis transmitir. Onde está a quebra de decoro nisso?

      Isa Penna contou ao site que se sente “identificada” com o poema, que leu num livreto durante um congresso do partido e ficou na memória. “Eu amo poemas, e este super me chamou a atenção. É um poema forte, né? Impactante.”

      Encontrei essa outra leitura do poema no youtube da Ana Clara Preta. Bonito, não?

      Leia você mesmo e entenda como a indignação e o escândalo da extrema direita em torno do poema lido pela deputada Isa Penna não passam de um misto de falso moralismo, antifeminismo –e burrice.

      Sou puta, sou mulher (Helena Ferreira)

      Quando uso a boca vermelha
      Meu salto agulha
      E meu vestido preto.
      Sou puta
      Mordo no final do beijo
      Não fico reprimindo desejo
      E nem me escondo na aparência de menina.
      Sou uma puta de primeira
      Acordo às 6:30
      Pego ônibus debaixo de chuva
      Não dependo de salário de macho
      E compro a pílula no final do mês.
      Sou uma puta com P maiúsculo
      Dispenso o compromisso
      Opto pela independência
      Não morro de amor
      Acordo sozinha
      Cresço sozinha
      Vivo na minha
      Bebo em um bar de esquina
      Vomito no chão da cozinha.
      Sou uma putinha
      Passo a noite em seus braços
      Mas não me prendo no laço
      Que você quer me prender.
      Sou puta
      Você tem o meu corpo
      Porque eu quis te dar
      E quando essa noite acabar
      Eu não vou te pertencer
      E se de mim você falar
      Eu não vou me importar
      Porque um homem que não me faz gozar
      Nunca terá meu endereço.
      E não é gozo de buceta
      É gozo de alma
      É gozo de vida
      É me fazer sentir amada
      Valorizada
      E merecida
      E se de puta você me chamar
      Eu vou agradecer.
      Porque a puta aqui foi criada
      Por uma puta brasileira
      Que ralava pra sustentar os filhos
      E sofria de racismo na feira
      Foi espancada e desmerecida
      E mesmo sofrida
      Sorria o dia inteiro
      Uma puta mulher ela foi
      E puta também eu quero ser.
      Porque ser mulher independente
      Resolvida
      Segura
      Divertida
      Colorida
      E verdadeira
      Assusta os homens
      E os machos
      Faz acontecer um alvoroço.
      Onde já se viu mulher com voz?
      Tem que ser prendada e educada
      E se por acaso for “amada”
      Tem direito de ser morta pelo parceiro
      Cachorra adestrada pelo povo brasileiro
      Sai pelada na revista
      Excita
      Dança
      Bate uma
      Cai de boca
      Mama ele e os amigos
      E depois vai ser encontrada num bueiro
      Num beco
      Estuprada
      Porque tava de batom vermelho
      Tava pedindo
      Foi merecido
      E se foi crime “passional”
      Pobre do rapaz
      Apaixonado estragou a própria vida.
      Por isso que eu sou puta
      Porque sou forte
      Sou guerreira
      Não sou reprimida
      Nem calada
      Sou feminista
      Sou revoltada
      Indignada
      E sou rotulada assim
      Como PUTA!
      Então que eu seja puta
      E não menos do que isso.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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