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    Leandro Monerato

    Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural pela UnB e produtor do canal Materialismo Militante no youtube

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    O projeto fascista neoliberal para América Latina

    Nem aqui a extrema-direita foi derrotada

    O presidente eleito da Argentina, Javier Milei 20/11/2023 (Foto: Julián Álvarez/Telam)

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    No último final de semana, Javier Milei venceu as eleições argentinas com ampla vantagem. Milei combina um entreguismo radical e uma política repressiva dura. Adepto da “doutrina do choque”, a ideia é aproveitar a profunda crise econômica e social, aliado à dispersão das forças populares para implementar uma reformulação completa do regime político do país. A ideia é entregar de vez o destino argentino aos desmandos diretos de Washington. Fim do Banco Central, dolarização, privatização de tudo. Ao mesmo tempo, defende uma política repressiva totalitária; defensor da ditadura militar e aliado ao Estado sionista de Israel.

    Alguns analistas brasileiros procuram minorar a gravidade deste fato comparando Milei a Bolsonaro e repetindo o mantra anestésico “vai passar”; aludindo a suposta derrota do bolsonarismo no Brasil. Nada mais narcótico. Nem aqui a extrema-direita foi derrotada, muito menos se trata de um fenômeno retardatário na Argentina. A vitória de Milei mostra claramente uma segunda ofensiva da extrema-direita no continente. Algo que deve ser observado de perto; pois o sucesso dessa ofensiva indicará o que vem pela frente no Brasil.

    Um indício evidente é a conexão entre Milei na Argentina, Noboa no Equador e Bukele em El Salvador. Sendo este último, o posto mais avançado no laboratório político do imperialismo no continente.

    “Convido-vos a trabalhar para fortalecer as relações bilaterais e para um futuro próspero que busque a cooperação entre as nossas nações”, escreveu o presidente equatoriano recém-eleito após um golpe de estado. Enquanto a vice-presidente do Equador manteve uma intensa agenda internacional que incluiu reuniões com o primeiro-ministro do Peru, Alberto Otárola; o presidente do partido espanhol de extrema direita Vox, Santiago Abascal, e uma reunião neste domingo com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

    Não se trata de acaso; Equador e El Salvador, além do Panamá, já realizaram o processo de dolarização e abertura total das fronteiras comerciais com os Estados Unidos. A vitória de Milei na Argentina revela o plano norte-americano de estender para todo o continente a receita. Qual a receita? Terra arrasada; destruição de todo patrimônio nacional; destruição da indústria nacional e da soberania nacional; recessão profunda; fortalecimento do agroexportador ligado ao imperialismo; fim dos direitos políticos e sociais, fim dos serviços públicos. Uma repetição ainda mais amarga da receita FHC para o Brasil. Entretanto, o tamanho da destruição pretendida é tal que é preciso outro regime político para reprimir completamente as tendências necessárias de levante massivo do povo pobre em resposta.

    Portanto, para além do problema econômico devemos acompanhar com preocupação o progresso da política de exceção rumo a um estado totalitário. O objetivo do imperialismo é claro: diante da crise que o seu controle político está sofrendo no Oriente Médio, na África e Ásia, a América Latina deve ser disciplinada. O quintal dos EUA tem que estar sob controle completo para que o imperialismo possa avançar nos demais frontes.Algumas propostas de Milei: desregulamentar o mercado legal de armas de fogo, proibir a entrada de estrangeiros com antecedentes criminais e deportar os que cometerem delitos. No sistema prisional, promete construir prisões público-privadas, militarizar as que já existem para reestruturá-las durante esse período de transição e eliminar auxílios a detentos. Fala ainda em capacitar, equipar e "despolitizar" as forças de segurança e modificar leis de defesa nacional e inteligência. E disse que vai "meter presos os piqueteros", referindo-se a manifestantes que costumam fechar ruas. Já Noboa, declarou que Equador está em “guerra”. Sua proposta mais comentada é a de criar navios-prisões para isolar os presos de suas redes criminosas e propõe a militarização das fronteiras e enviar os presos mais violentos para navios prisionais.

    Mas El Salvador já não é projeto, é realidade. Também se utilizando do disfarce ideológico de “combate ao tráfico e ao crime” Bukele instaurou uma ditadura policial no país. Desde 2022 El Salvador vive sob um regime de exceção. Sem mandato, sem processo legal, sem mesmo acusação formal, 1% da população foi presa em poucos dias. Hoje El Salvador é o líder mundial em número de presos proporcional ao total da população.

    E a operação fascista foi televisionada, foi divulgada com superproduções cinematográficas para divulgar o “maior presídio do mundo”!.

    El Salvador é o “experimento de sucesso” pronto a ser exportado por todo o continente. Equador e Argentina é o segundo estágio do projeto. É muito grave isso, pois o Brasil é o foco final.

    E aqui, o estado de exceção jurídico já está pronto. Presídios privados estão sendo aprovados. O sionismo exerce uma pressão cada vez mais evidente no Estado nacional. Exército dos EUA operam na Amazônia brasileira; Guajajara abre o seu ministério para os EUA e França...

    O polianismo não nos ajudará em nada; pelo contrário.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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