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    Roberto R. Martins

    Autor de Liberdade para os Brasileiros – anistia ontem e hoje

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    O que está por trás de Tabata Amaral?

    "Quero fazer algumas reflexões, mesmo que especule em algum momento, sobre o Brasil que precisamos construir"

    Tabata Amaral (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

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    Em política não se pode ser ingênuo. Deve-se ter boa fé, acreditar no ser humano, mas quando se trata da ação política é preciso ver o que motiva a pessoa a agir desta ou daquela forma. Algumas atitudes da senhora deputada e outras informações sobre sua formação, levantam suspeitas. Certeza não podemos ter, é tarefa para alguma atitude mais decisiva ou, talvez, para a história, pois tudo ao fim se revela, até os documentos secretos da CIA, após 50 anos, quase todos vêm à luz.

    Quando a deputada se lançou à prefeitura de São Paulo, vieram à tona muitas críticas, algumas justas, outras exageradas. Reconheço o direito dela, como eleitora paulistana de ser candidata à prefeitura, legitimo; assim como o direito do PSB de postular a prefeitura, legitimo. Li o artigo publicado em outubro no Brasil 247 do advogado Maciel Neto, tem argumentos ponderáveis em defesa de Tabata. Mas não vou pelo mesmo caminho. Quero fazer algumas reflexões, mesmo que especule em algum momento, sobre o Brasil que precisamos construir.

    Ora, um país independente, desenvolvido, com pouca desigualdade e ambientalmente sustentável, jamais poderá ser construído se continuarmos sendo peça do grande império neoliberal sob a égide dos EUA. Não vem ao caso, neste momento, se o império do norte está fenecendo, tratamos do Brasil. Mas precisamos ter claro e saber que o império do norte somente se tornou forte e hegemônico por ter sido capaz de montar uma eficiente máquina de dominação, que, entre muitos outros elementos, tem a dominação cultural como questão chave. A CIA é mestra nisso. Cooptar os melhores, apoiar os mais influentes, insinuar-se silenciosamente nas artes, na educação, na imprensa (lembram-se que O Globo era chamado de The Globe, o jornal mais bem dublado do Brasil?), ou seja, é preciso ganhar ali onde se forma a consciência, a ideologia, onde se determina as políticas, onde se manifestam os interesses de classe.

    Neste sentido o império do norte é especialista em criar instituições, desde grandes universidades, legítimas, até institutos e fundações, próprias ou de aliados, para formar lideranças, naturalmente escolhendo entre os melhores. Nestes é preciso incutir a ideologia neoliberal, prepara-los como como quadros para que, no futuro, possam dirigir seus países em benefício do império. Estaria eu enganado? 

    Alguns dirão, por certo, mas Tabata veio dos extratos sociais mais baixos, representa o povo. Sim, reconheço. Estes institutos, como a Fundação Lemann (chefe da gang dos fraudadores das Lojas Americanas), buscam os melhores, os que demonstram maior capacidade de crescer, estes é que precisam de “boa” formação, melhor ainda para forjar importantes atores políticos.

    Tomemos outro exemplo: o presidente Lula. Também veio dos extratos sociais mais baixos de nossa população. Mas em que fundação Lula foi formado? Na fundação da luta operária e sindical. Pergunto, reflitamos: se ele tivesse sido visgado e formado pela Fundação Lemann, seria o mesmo Lula, maior liderança popular da história do Brasil? Que acham? Quem seria este Lula da Fundação Lemann?

    Outros dirão: mas Tabata é de um partido de centro-esquerda. Certo, não podemos negar. O PSB é um partido que tem uma tradição importante na história do Brasil. Basta lembrar figuras como as de João Mangabeira ou de Bayard Demaria Boiteux, para não citar alguns ainda atuantes. Mas alguém já pensou, se Tabata entrasse na política por algum velho partido, qual ressonância teria sua voz? Se ela entrasse, por exemplo, pela velha ARENA, depois de vários batismos hoje União? Ou mesmo pelo Novo, o partido de ideologia mais velha do Brasil atual? Assim, era preciso entrar por um partido de centro-esquerda, e este partido foi o PDT, depois trocado pelo PSB, na mesma faixa do espectro político.

    Mas vejamos alguns votos e posições adotadas pela deputada: a favor da “reforma” da previdência, o que significa a favor do grande capital, contra os interesses dos trabalhadores; votou a favor da PEC Emergencial de Bolsonaro que prevê um congelamento futuro do salário dos servidores públicos;  defende a cobrança a posteriori dos  egressos das universidades públicas; votou a favor do direito do banco tomar a única casa do trabalhador, embora depois tivesse dito que foi “erro técnico”; se manifestou radicalmente contra a recente greve dos trabalhadores nos transportes em São Paulo, se posicionando a favor dos patrões contra os trabalhadores. Deve haver muito mais coisa, não pesquisei. Mas estas posições, por si sós, não se alinham perfeitamente como ideário neoliberal? Que há de progressista, de centro-esquerda?

    Agora a deputada é candidata a prefeita de São Paulo. Legitima a postulação dela e do PSB, como já afirmei. Mas é bom ver o caráter desta eleição: a maior cidade do Brasil, num país polarizado, em que o bolsonarismo (ou o fascismo) não morreu, será o mais importante plesbicito de nosso futuro político. A unidade da base centro-esquerda do governo Lula não deveria estar unida para enfrentar a extrema-direita? Notem que até o PDT já aderiu, apenas o PSB ficará de forma. E não é com um candidato do PT, mas a maior liderança popular da cidade, o deputado Boulos. E o que é que está fazendo o outro lado? Apesar de sua estupidez política, o inelegível Bolsonaro às vezes dá uma de esperto: retirou seu candidato de extrema-direita e está promovendo uma frente única com a direita; indica o vice de Nunes, e tenta cooptar até setores de “esquerda” como fez com o ex-comunista Aldo Rabelo, além do velho, mas ainda influente PSBD. 

    A direita une forças, e nós, nos dividimos? Os 8 a 10% de votos que a senhora Tabata pode amealhar, não seriam (ou serão) decisivos para a vitória de Boulos?  No segundo turno, em quem ela votará? 

    Enfim, levanto este conjunto de questões para reflexão. Não posso afirmar nada mais além, ainda. Mas que a ação política dela tem sido a favor do grande capital e do neoliberalismo, quanto a isso ninguém pode duvidar. A guerra híbrida não é uma brincadeira para principiantes.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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