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    Leonardo Attuch

    Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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    O que os caminhoneiros ainda não entenderam: da prisão de Lula ao aumento do diesel, tudo se conecta

    Escreve Leonardo Attuch: "O golpe contra Dilma e a prisão de Lula tiveram como motivo principal a mudança no modelo de exploração do petróleo no Brasil, com o objetivo de esmagar o produtor brasileiro e premiar as petroleiras e os investidores internacionais"

    Jair Bolsonaro e caminhoneiros em greve (Foto: Marcos Corrêa/PR | REUTERS/Leonardo Benassatto)

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    Por que a ex-presidente Dilma Rousseff foi derrubada? Por que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso? Terá sido porque a elite do atraso brasileira não gosta de ver pobre em aeroporto? Ainda que isso seja parcialmente verdade, é simples demais para explicar a destruição da democracia brasileira. O motivo real pode ser encontrado em algumas notícias desta semana, que estão todas relacionadas. A começar pelo aumento de 6,2% no diesel e 8,2% na gasolina, a partir da manhã desta terça-feira. O "despresidente" Jair Bolsonaro bem que ameaçou reagir à atual política de preços da Petrobrás, que indexa os combustíveis ao valor internacional do barril e à cotação do dólar, mas foi rapidamente enquadrado pelas forças de mercado. Na noite de ontem, ao apresentar o ex-presidente Fernando Collor como seu novo assessor para temas econômicos, disse que os preços dos combustíveis não podem ser tabelados no Brasil. Antes disso, um de seus ministros havia dito que os caminhoneiros precisam "desmamar" do governo.

    Um dia antes, a Petrobrás, que está sendo privatizada aos pedaços, sem nenhuma transparência e sem nenhum controle do Tribunal de Contas da União, anuncia a venda de uma de suas maiores refinarias, na Bahia, a um fundo árabe. Segundo os petroleiros, por um valor subfaturado em pelo menos 50%. Coisa de bilhão de dólares, que podem ter escoado para algum paraíso fiscal. Mais grave do que isso, no entanto, é a formação de um monopólio regional privado no refino de combustíveis.

    Todas essas duas notícias se conectam com o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, que, como todos sabem, não foi derrubada por "pedaladas fiscais". Caiu porque pretendia fazer do pré-sal brasileiro um passaporte para o desenvolvimento, com a geração de recursos para investimentos em saúde e educação. Mas países que não têm "café no bule", como disse o ex-presidente Lula, ao se referir à incapacidade nuclear brasileira, ou não têm apreço pelo conceito de soberania nacional, nem deveriam se aventurar no mundo do petróleo, que tantas guerras provocou ao longo dos anos. Como o pré-sal foi a maior descoberta de óleo e gás do mundo nos últimos cinquenta anos, rapidamente despertou a cobiça das petroleiras internacionais. E foi assim que começou a ser planejada a guerra contra o Brasil.

    De um lado, a Operação Lava Jato destruiu a imagem e a reputação da Petrobrás. De outro, o PSDB pressionava pela mudança no modelo de exploração do petróleo e pela volta das concessões às empresas internacionais. Numa das falas mais sintomáticas após sua delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, que antes defendia mais refinarias no Brasil, declarou que "a política de preços" do governo Dilma causou mais danos à estatal do que a corrupção em si. Foi este o pedágio que Paulo Roberto Costa teve que pagar ao discurso neoliberal. Não por coincidência, nesta terça-feira, o jornal O Globo publica editorial em defesa da política de preços determinada pelo tucano Pedro Parente na Petrobrás após o golpe de 2016.

    Mas o que era a política de preços da Petrobrás do governo Dilma? Uma política que simplesmente libertava a economia brasileira da volatilidade das cotações do petróleo e da taxa de câmbio. Os preços eram corrigidos a cada três meses, de acordo com uma média desses fatores – o que garantia maior previsibilidade à economia. E por que esta política foi alterada? Porque o objetivo principal do golpe foi justamente garantir a entrega do pré-sal e dos principais ativos da Petrbrás aos operadores internacionais, seguindo o modelo de "Petrobrax", que já era defendido no final do governo Fernando Henrique Cardoso. Também por isso, não há nenhuma surpresa no fato de FHC jamais ter sido molestado pela Lava Jato, apesar de os procuradores terem encontrado batom na cueca nos pedidos financeiros de seu instituto para a Odebrecht.

    O que os caminhoneiros ainda não entenderam é que da derrubada de Dilma em 2016 ao aumento de hoje do diesel, passando pela prisão de Lula em 2018 e a venda de uma refinaria da Petrobrás no dia de ontem, tudo se conecta. O Brasil descobriu a maior reserva de petróleo do mundo, mas foi impedido por forças nacionais e internacionais de usá-lo em benefício da sua população. O petróleo bruto é exportado pelas cotações internacionais, os derivados são cada vez mais importados, plataformas que poderiam ser produzidas no Brasil são encomendadas no exterior, refinarias são liquidadas, fundos de investimentos internacionais são premiados e os caminhoneiros, assim como os trabalhadores nacionais, são penalizados. Será que um dia o Brasil acordará deste pesadelo?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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