O que penso sobre a Venezuela
"A solução na Venezuela terá de ser negociada, e o Brasil, Colômbia e México serão os mediadores", escreve Hélio Doyle
Como muitos me perguntam sobre a Venezuela, fiz um apanhado de algumas postagens minhas no X para mostrar o que penso. Basicamente são as postagens, com algumas correções de erros gramaticais (alguns de digitação...) e pequenos ajustes para maior clareza.
Brasil, Colômbia e México são a saída para a crise na Venezuela - Quem apoia o direitista Gonzalez ou o esquerdista Maduro, ou não tem posição clara, deve ler a imprensa europeia para ter informações um pouco mais isentas sobre o que acontece na Venezuela. Fotos de manifestações, muitas manipuladas; denúncias da direita, muitas mentirosas; triunfalismo da esquerda, muitas vezes exagerado, não refletem a realidade de um país dividido e radicalizado, no qual a direita conta com uma fratura nas forças armadas para dar o golpe e a esquerda conta com manter o apoio das forças armadas para impedir o golpe e, talvez, fazer a revolução que prega.
Os EUA querem e constroem ambiente para o golpe, mesmo sabendo que poderá haver o banho de sangue previsto por Maduro, mas não entrarão em aventuras, ainda mais diante do apoio que Rússia e China dão ao governo.
A alternativa à violência e à instabilidade política na Venezuela é uma solução negociada, e todos sabem disso. Nem Maduro nem Corina (Gonzalez é pau mandado) governarão se esse cenário persistir. Os reflexos negativos atingirão principalmente os vizinhos Colômbia e Brasil.
As direitas colombiana e brasileira atacam violentamente a correta (pelo menos até agora) posição dos governos desses dois países -- e a do México --, porque veem que dificulta o golpe ultradireitista e coloca esses três países como os mais legítimos mediadores dessa negociação. São os mais importantes países da América Latina e a postura que têm assumido, sem alinhamento automático aos Estados Unidos ou à Rússia e China, é uma credencial necessária para a mediação.
Maduro e Corina sabem disso e guardam essa carta, caso nem o golpe da direita nem a revolução da esquerda tenham sucesso.
Diante da divisão, resta a negociação - A Venezuela está evidentemente dividida. Um lado quer se manter no poder, o outro quer conquistá-lo. Como a eleição não resolveu com clareza a correlação de forças, há confrontos e o risco de guerra civil. EUA apoiam a oposição e querem o golpe, mas Rússia e China apoiam o governo.
É preciso, pois, buscar uma solução negociada. E quem está em condições de fazer a mediação, tendo em vista o alinhamento dos governos de direita da América Latina aos EUA, são os vizinhos Brasil e Colômbia, e o México. Queiram ou não os direitistas e fascistas desses países.
A negociação é a melhor opção para a oposição - Não existe no Direito a possibilidade de validar contagem extraoficial da oposição, que se autoproclama vencedora. Aí é golpe de estado. Se o CNE não conseguir comprovar seus números, terá de haver nova eleição.
Lula não é burro nem de direita - Os que dizem que Lula é burro e pregam o endurecimento do governo brasileiro diante de Maduro é que são burros, e quase todos de direita. Não tem de endurecer nada, tem de manter a postura de não alinhamento automático com Maduro e Corina, com Rússia – China e EUA. A solução na Venezuela terá de ser negociada, e o Brasil, Colômbia e México serão os mediadores.
Golpe de estado é a oposição proclamar resultado - É óbvio que a oposição não pode se autoproclamar vencedora. Seus números são extraoficiais e sujeitos a manipulação. Se não se comprovarem os resultados anunciados pela única autoridade eleitoral da Venezuela, o CNE, o caminho institucional será realizar novas eleições. Ninguém pode ganhar no grito.
Ou reconhece ou não reconhece, nada mais - Se a autoridade eleitoral de um país proclama o resultado da eleição, países sérios e que respeitam o Direito Internacional têm duas opções: reconhecer ou não reconhecer o resultado. Não há a opção de reconhecer a vitória do derrotado que se julga fraudado e se autoproclama vitorioso, desconhecendo as instituições do país.
Os direitos de cada lado - A oposição tem o direito de se manifestar pacificamente. O governo deve ser condenado se reprimir com violência. Mas o governo tem o direito de reprimir, prender e processar – respeitando os direitos humanos – os que cometem violências e ataquem pessoas e prédios, vandalizem e incendeiem. É assim nos países que criticam as prisões na Venezuela.
Questão de ideologia, ou de política - Para a mídia liberal, os presos por destruir bens públicos e atacar pessoas, se for na Venezuela, são presos políticos. Nos EUA, são vândalos e baderneiros.
Prisões na Venezuela são sequestros. Em países europeus são prisões, mesmo.
Os republicanos têm seis dos nove juízes da Suprema Corte e deram imunidade absurda a Trump. Mas para a mídia liberal não “controlam” o tribunal. Já Maduro “controla” o supremo tribunal da Venezuela.
Sem pluralismo não é democracia - Eu entendo perfeitamente que a direita e a extrema-direita queiram derrubar Maduro e colocar um ultradireitista em seu lugar. Sei muito bem que a mídia liberal-direitista quer a mesma coisa. Mas, como concessões públicas, as emissoras não deveriam ser plurais e democráticas? O pensamento único prevalece entre jornalistas, analista e entrevistados.
Corina é Milei, ultradireita entreguista - Aos que perguntam: tenho muitas críticas a Maduro e ao governo dele. Gostaria que fosse diferente em vários aspectos. Mas não desconheço as sanções econômicas e as pressões e ataques dos EUA para derrubá-lo, com apoio da ultradireita. Já deram golpe fracassado, tentaram outros golpes, invasões e tentativas de assassinato. Maduro tem o direito de se defender.
Se houver, porém, provas concretas e nítidas (e não no grito) de que perdeu a eleição, Maduro tem de passar o governo aos vencedores e organizar a oposição e a resistência, porque Corina é Milei disfarçada de boa moça: vai entregar o petróleo e outras riquezas, privatizar tudo, aumentar a já grande desigualdade social, reprimir protestos, permitir bases militares estadunidenses e por aí adiante.
Por isso os EUA e a direita mundial a apoiam.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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