O Sapo Barbudo e o Escorpião Cangaceiro
Outros, mais atentos aos movimentos e à natureza do venenoso, percebem que a dança da paz do aracnídeo relaciona-se ao ostracismo político que ele já amarga, após insultar o líder popular por diversas vezes
E a imprensa platinada da floresta ficou toda assanhada, foi vazada para ela a notícia de que o Escorpião Cangaceiro, vindo lá das terras de Iracema, aquele que tanto gosta de croissant e pastelzinho de Belém, em períodos de crise, resolveu procurar o Sapo Barbudo para uma trégua. Foi um verdadeiro alvoroço na mata.
Alguns inocentes e nem tão inocentes assim viram esse movimento do peçonhento como um gesto nobre e humilde. Outros, mais atentos aos movimentos e à natureza do venenoso, percebem que a dança da paz do aracnídeo relaciona-se ao ostracismo político que ele já amarga, após insultar o líder popular por diversas vezes. Afinal, não há como ser o governante daquele lugar se for de encontro ao Sapo Barbudo, gentil e amado pela grande maioria dos habitantes da floresta.
O simpático anfíbio, conhecido por dialogar sobre tudo e com todos, resolveu abrir as portas para ouvir o que o artrópode tinha para lhe falar. O invertebrado chega meio sem jeito, ao lado do Grilo Governador das terras de Iracema. O Sapo Barbudo os recebeu em seu gabinete junto à saparia atenta e receosa, que cochichava aflita -kré-kré-kré- sobre o encontro.
Ajeitando a sua cauda perigosa, que pode inclusive lhe ferir mortalmente, senta-se numa poltrona confortável, com todo o cuidado, por saber o poder de sua peçonha. A rãzinha jeitosa, companheira do Sapo Barbudo, observa com olhar tão miúdo quanto agudo, a presença daquele que há bem pouco tempo vociferava as cobras e lagartos contra o seu bem querer.
O Grilo Governador observa O Escorpião Cangaceiro, manso e doce, que inicia a conversa:
_ Presidente, vim aqui para selarmos a boa convivência.
_ Ora, meu caro! Nunca tive problema de convivência contigo.
_ Eu sei, mas em muitos momentos me senti magoado e acabei por dizer coisas que vossa sapiência não merecia ouvir.
_ Meu caro aracnídeo, nunca tive a pachorra de ficar com raiva de você. Sei o ministro que você foi, aqui na floresta.
_Gostaria muito de selarmos nossa amizade e que fosse possível construirmos uma frente a favor das formigas operárias e contra o Covard 17.
_Ora, ora meu caro! Então vamos esquecer o que passou, pelo bem da nossa amizade e pelo bem da floresta.
O Sapo Barbudo levanta feliz, a saparia eufórica bate palmas ao acordo de paz, a Rãzinha Jeitosa ainda observa com o mesmo olhar miúdo e agudo, enquanto o Grilo Governador sorri com certa timidez, orgulhoso da sua articulação.
Os outrora rivais se aproximaram para um abraço caloroso; o Sapo Barbudo estendeu os seus braços curtos e desajeitados, enquanto o Escorpião Cangaceiro movimentava suas patas articuladas em direção ao amigo. No momento do abraço, o aracnídeo lançou sua cauda rapidamente que acertou, em cheio, o corpo do Sapo Barbudo. A saparia horrorizada- kré-kré-kré- corre para acudi-lo. A Rãzinha Jeitosa desmaia. O líder da floresta, ainda sem entender, pergunta ao peçonhento:
_ Mas não somos agora aliados?
O Escorpião Cangaceiro respondeu-lhe:
_ Companheiro, esta é a minha natureza, não posso mudá-la.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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