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Jorge Folena

Advogado, jurista e doutor em ciência política.

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O show e a catástrofe: duas faces do neoliberalismo

"Tanto o show de Madona quanto a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul apresentam a marca do neoliberalismo", diz Jorge Folena

Desalojados no Rio Grande do Sul (Foto: Reuters / Diego Vara)

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No mesmo final de semana em que ocorreu o mega show da cantora Madonna nas areias da Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, intensificou-se a catástrofe que recaiu sobre o Estado do Rio Grande do Sul, deixando Porto Alegre submersa, juntamente com outros municípios do estado, e gerando uma tragédia humanitária.

Tanto o show de Madona quanto a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul apresentam a marca do neoliberalismo, agente da destruição e desesperança que toma parte da humanidade, em particular do chamado mundo ocidental.

O aplaudido show da cantora, revestido de grande estética visual e musical, foi marcado por uma pauta identitária, com a defesa de questões raciais, feministas e LGBTQI+, que, embora importantes, se apresentam apartadas da luta de classes; esse afastamento constitui uma ruptura que se encaixa como uma luva nos interesses defendidos pelos neoliberais, que não têm interesse na unidade dos trabalhadores, pois se beneficiam das divisões sociais para ampliar sua concentração de capital. 

Exemplo do modus operandi neoliberal são as ações promovidas pela Open Society de George Soros, que, além de apoiar movimentos sociais identitários, financia manifestações antidemocráticas e promove “revoluções coloridas” pelo mundo. Pois bem, a área vip do espetáculo da cantora estava repleta de personalidades defensoras da agenda e das ideias neoliberais (banqueiros, empresários, políticos e artistas), tendo à frente um certo apresentador das organizações Globo.

Ora, a tragédia no RS não foi apenas consequência do fenômeno da natureza, mas decorreu também da atuação (e omissão) de governantes descompromissados com a coisa pública, que defendem políticas neoliberais, promovem privatizações e desmonte do serviço público e aprovam legislações e políticas públicas que possibilitam a devastação ambiental, bem como priorizam o orçamento público em prol do sistema financeiro, em seu projeto de imposição do “estado mínimo”, sinônimo de destruição e retirada de direitos, especialmente da classe trabalhadora.

O neoliberalismo, que aparentemente se preocupa com os temas identitários, não se importa de fato com a sobrevivência do ser humano e do meio ambiente (do qual o primeiro depende integralmente), mas apenas com o lucro desmedido e o “deus” dinheiro. A única razão para os governantes do RS não terem tomado as medidas preventivas para evitar a catástrofe é porque não têm compromisso com o bem-estar da população que escolheram representar.

Considero importante trazer aqui as revelações do jornalista Andy Robinson, em seu livro Um repórter na montanha mágica, no qual demonstra de que modo os integrantes do exclusivo clube dos bilionários comandam a política universal, a partir de Davos, e patrocinam a destruição de nações inteiras para alcançarem seus objetivos econômicos particulares, como estão fazendo com a Ucrânia em sua tentativa de dominar ou dividir a Rússia.

Muito antes que alguns cientistas sociais cunhassem a expressão “tropa de choque dos banqueiros”, ao se referirem ao grupo considerado como classe média fascista, Robinson desvendou como aqueles menos de 1% da população universal manipulam os outros 99%, promovendo inclusive ações sociais de aparente bondade, que tem como efeito desmobilizar as lutas de resistência e apenas contribuem para aumentar e perpetuar a miséria entre os povos.

Ao falar sobre as mencionadas ações caritativas, patrocinadas por bilionários como Bill Gates, o roqueiro Bono (da banda U2) e até mesmo Madonna, Slavoj Zizek rotulou seus realizadores de “comunistas liberais”, que manipulam organizações não governamentais (ONGs) “sem fronteiras”, que apregoam trabalhar para combater a fome, doenças, desmatamentos florestais, exploração infantil, abusos contra mulheres etc., em países pobres da África, Ásia e América Latina.

Na obra “Violência, seis notas à margem”, Zizek diz que “os comunistas liberais são pragmáticos. Odeiam as abordagens doutrinárias. Para eles, hoje não há uma classe trabalhadora una e explorada. Há simplesmente problemas concretos que devem ser resolvidos.”

Conforme observado antes por Zizek, e apurado diretamente nas reuniões do Fórum Econômico Mundial de Davos por Andy Robinson, este pragmatismo revela a manipulação que o capital financeiro promove contra todos os povos, disfarçada sob um véu de bondade humanitária, mediante a afirmação de que “o mercado e a responsabilidade social não são aqui termos que se oponham” (Zizek). Porém, em sua lógica do Estado mínimo, busca impor uma espécie de governo global, controlado exclusivamente pelo grupo do 1% mais rico do mundo.

Para a imposição desta lógica, o capital, com seu poderio financeiro, sequestrou para si a política e, em vários lugares do mundo ocidental, estabelece e patrocina os agentes locais que atuam para a defesa dos seus negócios, a exemplo do que tem ocorrido no parlamento brasileiro, com a aprovação de projetos de lei que favorecem o desmatamento e o emprego de agrotóxico na agricultura.

O quadro tornou-se mais grave em razão da crescente concentração de capitais, que, na prática, faz com que a maioria dos governos e respectivas burocracias trabalhem não mais para os povos, mas para os bancos e financistas, como se vê no assenhoreamento das finanças e do orçamento público brasileiro pelos presidentes do Banco Central e da Câmara e do Senado Federal, que criam todas as dificuldades para tentar impedir o governo do Presidente Lula de implementar as políticas necessárias ao desenvolvimento do país e dos cidadãos brasileiros.

Esse grupo de menos de 1% da população mundial controla muitas pessoas e riquezas do planeta e tem a seu serviço forças militares (como as da Organização do Tratado do Atlântico Norte – Otan), pagas com recursos da arrecadação de tributos dos 99%, usadas para reprimir e intimidar outros povos; enfim, não apenas mandam e desmandam, como o fazem usando os recursos formados mediante o trabalho da sociedade.

Com efeito, trabalhar para resgatar a soberania nacional, como faz o Presidente Lula, torna-se cada vez mais um gigantesco desafio e uma luta sem trégua, pela qual os financistas tentam retirar dos povos a sua autodeterminação e dignidade.

A população de muitos países do mundo ocidental tornou-se refém do mercado financeiro, que impôs um processo de servidão no qual os indivíduos imaginam ter liberdade, mas não têm sequer condições de suprir suas necessidades básicas, ou seja, alimentação, moradia e vestuário suficientes (de acordo com o conceito de liberdade como satisfação das necessidades fundamentais), sem mencionar educação, saúde, conectividade e lazer.

Nesse contexto, os governos que resistem às imposições do mercado são postos sob ameaça de ataques, bloqueios ou impedimentos, a exemplo do que ocorreu entre 2013 e 2016 no Brasil, e depois em 2018 (prisão e impedimento da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva). Por isso Temer e Bolsonaro foram alçados ao poder, pois o que fizeram contra o país durante seus desgovernos é o oposto de trabalhar pela soberania.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, em países como Rússia, China, Irã e Coréia do Norte, os governos lutam para manter a defesa dos interesses nacionais.

O “mercado” age em benefício de apenas 1% da população mundial, os mais ricos do mundo, com a finalidade de torná-los cada vez mais obscenamente ricos. Isso revela o fracasso deste sistema, que não soluciona os problemas do ser humano e só promove guerras, mortes, expropriação de riquezas e destruição do meio ambiente.

Para implementar seus objetivos nos países do mundo ocidental, o mercado emprega grandes empresas de comunicação e as big techs, que manipulam a informação, propagam mentiras e defendem descaradamente o fascismo.

Deste modo, manipulam as crises econômicas que alimentam o discurso dos fascistas, travestidos de moralistas e nacionalistas, que buscam cooptar o “homem massa”, este ser que vaga sem esperança no mundo do desemprego, da precarização do trabalho e da superexploração, representada pela escala 6 x 1, que impede o repouso adequado, rouba o convívio com a família, aborta o processo de escolarização e embrutece o ser humano. 

Porém, na Ásia, na África e em regiões da América Latina, grande parte da humanidade tem se levantado contra a concretização do projeto neoliberal, em oposição à barbárie e destruição em curso no ocidente, que se desmancha. Os representantes dessa maioria vêm trabalhando pela implantação de um novo mundo, multipolar e baseado na cooperação, na solidariedade e no desenvolvimento mútuo. 

Então, fica claro que, ao contrário do que a sua propaganda tenta nos fazer crer, o fascismo neoliberal não impera em todos os lugares e é possível, sim, a construção de um futuro melhor para todas as nações que assim o desejarem. 

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