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    Luis Mauro Filho

    Luis Mauro Filho é jornalista e editor do Brasil 247.

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    O wokismo e a esquerda no Brasil

    Críticas ao 'wokismo' se intensificam no Brasil sob nova onda conservadora, mas esvaziamento estrutural do debate expõe limites da polarização cultural

    Presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, durante evento anual da companhia em Melo Park, no Estado norte-americano da Califórnia (Foto: REUTERS/Manuel Orbegozo)

    A volta do magnata Donald Trump para a Casa Branca, em sua segunda encarnação como presidente dos EUA, reacende debates críticos ao que se chama genericamente de cultura woke, ou wokismo.

    Movimentos simbólicos nesse sentido foram dados, por exemplo, pelas grandes empresas de tecnologia do Vale do Silício. Poucos dias após a posse de Trump, ainda em janeiro, o bilionário Mark Zuckerberg declarou que mudaria as políticas de comunidade das redes sociais que comanda, Instagram e Facebook.

    Também avisou que mudaria o setor responsável pela gestão dessa área das plataformas — que também analisa eventuais atos odiosos ou notícias falsas — para o Texas, saindo da Califórnia. O gesto é considerado anti-woke, tendo em vista que o estado da costa oeste norte-americana é reconhecido por sua cultura progressista, dentro do espectro político do país.

    A pauta também chegou ao Brasil nestes quase três meses de mandato de Trump. Podcasts, debates na televisão, artigos de jornal e tantas outras mídias passaram a discutir uma certa ressaca do assunto da diversidade política na sociedade. E, em solo nacional, o quadro se agrava pela ideia de cultura woke ser aproximada e relacionada a movimentos, grupos e partidos de esquerda.

    Essa correlação não poderia ser mais rasa. A ideia de woke, que remete a uma geração “acordada” para os problemas da sociedade de mercado, de fato procura expor certas desigualdades em âmbitos étnicos e de gênero, sobretudo nas relações de poder. Porém, não ataca as incongruências estruturais do sistema que está por trás de todas essas relações sociais e econômicas no capitalismo.

    Portanto, o wokismo, que também se caracteriza por ser um conceito vazio, instrumentalizável ao gosto de quem o analisa, não poderia estar mais afastado de uma raiz de esquerda. Não à toa ele ganha força em uma realidade neoliberal, que deixou a hegemonia das discussões de desigualdade, preconceito e injustiça majoritariamente nas mãos da iniciativa privada.

    Assim, testemunhamos importantes discussões serem pautadas de maneira rasa, sem a profundidade material necessária. Quando a atriz Halle Bailey, por exemplo, foi anunciada como protagonista de A Pequena Sereia, de 2023, vimos um debate se ater à verossimilhança de haver, em cena, uma sereia negra.

    A realidade é que não existem sereias — nem brancas, nem negras. O que há são decisões de mercado. A Disney, produtora do filme, ganha com o debate improdutivo. Ele leva pessoas ao cinema, vende brinquedos, gera demanda pelo produto. No entanto, é infrutífero do ponto de vista estrutural, uma vez que se atém ao enredo, pura e simplesmente, para discutir as desigualdades raciais.

    E também não se trata de desmerecer a relevância de, de fato, existir maior representatividade e diversidade nas telas de cinema, ou na televisão. Pelo contrário, é essencial defender esta prática, e incluir minorias em produções, sobretudo em países diversos como o Brasil. 

    Na realidade brasileira, nunca foi tão importante que os agentes do campo progressista percebam esse contexto. Não se pode entregar os pontos em debates sérios e essenciais para a transformação da realidade em que vivemos, como as questões raciais, de gênero ou de qualquer clivagem de identidade. Porém, sem jamais esquecer que essas disparidades decorrem, sobretudo, de uma estrutura material, de poder, que deve ser superada.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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