Obsessão do presidente Lula é ampliar o poder de compra do povo brasileiro
É daí que virão os grandes investimentos empresariais, disse-me o presidente, antes de celebrar os 90 anos da Universidade de São Paulo
No fim da tarde de ontem, tive a oportunidade de trocar um dedo de prosa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na belíssima Sala São Paulo, no complexo cultural Júlio Prestes, onde ele celebrou os 90 anos da Universidade de São Paulo. Lula está animado. E não apenas porque sabe que a maior universidade da América Latina tem cada vez mais a cara do povo brasileiro, graças às políticas de cotas implantadas em seus governos anteriores. Lula está confiante porque nas próximas semanas fará novos anúncios de grandes investimentos empresariais no Brasil, inclusive no setor automobilístico.
Dias atrás, Lula anunciou investimentos de R$ 10 bilhões que serão feitos por duas grandes montadoras: a americana General Motors e a chinesa BYD. Há outras boas notícias a caminho. O presidente me disse que sempre que se encontra com presidentes de grandes indústrias automobilísticas faz a mesma pergunta: por que o Brasil já produziu 3,5 milhões de automóveis, tendo alcançado o pico de produção em 2013, e hoje produz pouco mais de 2 milhões? A resposta é o poder de compra da população brasileira, que já foi maior no passado, assim como o acesso ao crédito. Por isso mesmo, a obsessão do presidente Lula neste ano de 2024 é ampliar ainda mais a capacidade de consumo dos brasileiros. Os investimentos estão voltando, disse-me Lula, porque os brasileiros estão retomando seu poder de compra. E a prioridade em 2024 será lutar por ganhos reais de salário e uma revisão na tabela do Imposto de Renda.
Também conversei com o presidente sobre sua relação com os empresários brasileiros e perguntei se ele sente um maior apoio da burguesia nacional, especialmente após o lançamento da nova política industrial, nesta semana. Lula me disse que alguns empresários podem até não gostar dele por outros motivos, mas assinalou que o que determina o investimento produtivo não é se um empresário gosta ou não de um presidente. O fator central é a expansão do mercado de consumo de massas. É isso que desperta o "espírito animal" dos empresários, como foi captado pelo economista britânico John Maynard Keynes. Os pobres do Brasil, disse-me Lula, devem ter os mesmos direitos e as mesmas oportunidades da classe média. Por isso mesmo, é necessário distribuir renda e expandir a classe média para que os próprios empresários desenvolvam e fortaleçam seus negócios.
Sobre o crédito, o presidente me disse que os pobres não olham para a taxa de juros da mesma forma que as pessoas da classe média ou do topo da pirâmide. A taxa de juros não deve ser uma oportunidade de rendimento a partir de aplicações financeiras, mas sim algo que permita a expansão do crédito para a compra de bens de consumo. Segundo o presidente, o que importa para os mais pobres é saber se a prestação de um carro ou de uma geladeira cabe no seu orçamento doméstico e não se as aplicações de renda fixa estão pagando mais ou menos do que o DI (Depósito Interbancário). Lembramos dos bons tempos em que os carros populares eram vendidos em 60 prestações no Brasil – o que explica aquele mercado automotivo de 3,5 milhões de unidades no país.
Também perguntei ao presidente se ele está satisfeito com sua equipe, com seus ministros. Ele me disse que sim e destacou um aspecto que eu mesmo já vinha comentando há tempos na TV 247: o governo Lula é também um governo de governadores, muitos deles com a experiência de dois mandatos. "É uma turma muito boa, só gente experiente e rodada", disse-me o presidente. Um de seus assessores me lembrou que nada menos que 11 ministros de Lula já governaram seus estados ou grandes cidades.
Lula me disse ainda que 2024 será o ano da colheita, do muito que foi plantado em 2023, neste processo de reconstrução do Brasil. Depois de discursar na USP, ele retornou a Brasília. Na Sala São Paulo, Lula estava também animado para o compromisso do dia seguinte: um grande balanço do que já se fez na Educação no primeiro ano do seu terceiro mandato. Nesta sexta-feira, às 10 horas, o presidente participa ao lado do ministro Camilo Santana da coletiva de imprensa 'Brasil Unido pela Educação'. "Vamos mostrar como encontramos cada política, o que plantamos e o que vamos colher lá na frente", disse o presidente.
Essa minha conversa com o presidente durou cerca de 15 minutos, onde também tive a oportunidade de relembrá-lo sobre uma carta enviada a mim durante os 580 dias da prisão política em Curitiba. Do cárcere, Lula tinha acesso às lives da TV 247 e disse-me que o Brasil ainda terá uma TV política de qualidade no Brasil. Naquele momento, a TV 247 dava seus primeiros passos e hoje já conta com 1,3 milhão de inscritos. Neste terceiro mandato, ao lado de nossa equipe, tive a oportunidade de realizar uma das primeiras entrevistas de seu terceiro mandato, em 21 de março de 2023, quando ele nos disse que a economia brasileira iria surpreender de forma positiva no ano que passou – o que de fato aconteceu. Lula tem a mesma confiança neste ano e aposta que os números do PIB serão melhores do que os que estão sendo apontados pelo mercado. Foi uma conversa curta, bastante agradável e suficiente para que eu tivesse mais uma aula do que é a chamada "lulanomics".
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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