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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Oitenta anos de Chico Buarque

"Eis o poeta feito de povo, que chega aos oitenta anos. Vida longa a Chico Buarque de Holanda e que ele nunca desista de nos resgatar", diz Carlos Carvalho

Chico Buarque (Foto: Taiz Dering/Divulgação)

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Revela-te, Chico: uma fotobiografia (2018) é um livro organizado por Augusto Lins Soares, e publicado pela editora Bem-Te-Vi. Vez ou outra o tomo em minhas mãos e, de página em página, vejo demoradamente as fotos de Chico Buarque desde aquelas que o mostram muito jovem até as mais recentes. Diferentemente da garota do conto “Felicidade clandestina”, da Clarice Lispector, minha paixão não é pelo livro em si nem pelos olhos de ardósia do artista, mas pela compreensão de que cada uma daquelas imagens mostra-se em conexão com períodos específicos da história do Brasil, o país que jamais foi abandonado por Chico, e que sem ele muito provavelmente Chico não fosse Chico. 

Chico Buarque chega aos oitenta anos e isso é motivo para parabenizá-lo. Mais ainda, é momento de nos felicitarmos e agradecer pela dádiva de sermos contemporâneos de um dos maiores e mais importantes artistas que esse país já gestou. Na sua inequívoca ausência de soberba, Chico Buarque “anda para frente arrastando a tradição” se renovando a cada nova canção, a cada novo livro. Como Mário de Andrade, Buarque (como diz Maria Bethânia), também é trezentos, trezentos e cinquenta ou até mais. Ele, assim como Walt Whitman, contém multidões. Multidões que se transfiguram no cantor, dramaturgo, músico, ator, compositor e no autor de obras literárias (romances, novelas, contos) reconhecidamente relevantes no contexto da literatura brasileira contemporânea.  

A poesia e a prosa buarqueanas seriam outras se Chico não fosse o homem político que é, ou seja, um artista/homem em consonância com seu tempo. Estar sempre do lado certo da história o tornou muitas vezes o inimigo número um de determinados meios de comunicação, de políticos extremistas e idiotas em geral. Mas Chico nunca recuou, ao contrário, sempre avançou e se impôs enquanto artista e cidadão, pois bem sabe ele que “o artista que não consegue tomar partido deve se calar”. E assim, “Chico abraça a verdade, com dignidade contra a opressão” e segue “buarqueando com muito axé”, enquanto a mediocridade come poeira. Que se danem os liliputianos!  

Na semana em que se comemoram os oitenta anos de Chico Buarque, a grande pedida é ouvi-lo cantar e/ou selecionar um dos seus livros para leitura. Por aqui, já comecei a releitura de Anos de chumbo e outros contos (2021), enquanto aguardo a chegada de Bambino a Roma (2024), seu livro de autoficção. De volta ao livro de Augusto Lins Soares, me deparo com uma foto de Chico em uma manifestação de protesto (p.186), quando do assassinato da vereadora Marielle Franco, em ato de solidariedade na Cinelândia, em 2018. Eis o poeta feito de povo, que chega aos oitenta anos. Vida longa a Chico Buarque de Holanda e que ele nunca desista de nos resgatar!

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