Os bastidores do jantar que “lançou” a chapa Lula e Alckmin
O badalado restaurante A Figueira Rubaiyat foi palco de um dos movimentos mais amplos da política brasileira desde as Diretas Já, em 1984
Neste domingo (19) à noite, desfilavam pelos seus salões desde políticos como Arthur Virgílio, que foi candidato nas prévias do PSDB para ser o representante do partido nas eleições presidenciais, a representantes do MST, como João Paulo Rodrigues, e da Coalizão Negra por Direitos, como Douglas Belchior. Era a tal frente ampla, quase amplíssima, pregada por Flávio Dino e por outras lideranças políticas que se materializava.
O restaurante foi dividido em dois espaços, um que tinha o palco ao centro e onde estavam reunidos aproximadamente 400 dos 500 convidados. E um salão menor, meio que uma área vip, onde se encontravam os outros cem em torno de Lula e Geraldo Alckmin, o casal principal da noite.
Este era o grande fato político, o primeiro evento público da dupla. Mas o foco das atenções era totalmente Lula. Era ele que todos os presentes buscavam. Desde aqueles que queriam tirar uma selfie de recordação aos que buscavam uma aproximação para alavancar seus projetos políticos regionais.
Aliás, o papo era 100% de política nacional. Mesmo a vitória de Boric no Chile não rendeu muita conversa. Só houve algum comentário naqueles minutos mais próximos do anúncio dos resultados. Depois, só articulações regionais e previsões sobre o cenário nacional.
Mas antes de contar algumas dessas conversas, vamos à mesa principal. Na cabeceira estava o ex-governador de São Paulo Márcio França. Lula e Alckmin sentaram com Janja e Lu Alckmin um de frente para o outro. Haddad e Ana Estela estavam próximos, como também o presidente do PSB, Carlos Siqueira, que estava acompanhado do prefeito do Recife, João Campos. Na mesma mesa estava a deputada federal Marília Arraes que disputou uma eleição duríssima com Campos, onde sobraram acusações de deslealdade. Marília enfrenta agora um novo desafio, ela quer ser candidata ao Senado pelo PT, mas está numa batalha interna para consolidar sua pretensão. Em conversa com o blogue, disse que tem aparecido com 45% de intenção de votos contra menos de 10% dos seus concorrentes. E, mesmo assim, ainda não tem a candidatura garantida. “Eu estava brincando com os petistas de SP dizendo pra eles que o que vivo já há algum tempo em Pernambuco eles vão começar agora a viver aqui em São Paulo.” Ela se referia à exigência do PSB para que Haddad retire a candidatura e apoie França como contrapartida para a aliança Lula e Alckmin.
França, aliás, brincava com isso. Ao ser indagado se o namoro entre Lula e Alckmin tinha dado match, respondeu que a primeira parte do projeto já estava praticamente consolidada, mas que ainda faltava a segunda. Ou seja, que o PT decidisse apoiá-lo em São Paulo.
Haddad comemorava o resultado do jantar em conversas com diferentes pessoas. E sempre destacava que era preciso fazer todos os esforços possíveis para encerrar a eleição já no primeiro turno. Ao seu lado, Ana Estela também conversou com o blogueiro e revelou que está refletindo seriamente sobre ser candidata a deputada federal pelo PT. A única coisa que ainda lhe segura é ter de abrir mão da carreira acadêmica.
Também estava presente na mesa principal do evento Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo e atual secretária de Relações Internacionais do governo Ricardo Nunes (MDB). Foi de Marta uma das frases mais interessantes sobre o sucesso da chapa Lula e Alckmin. Ao ser indagada sobre se achava que ia dar certo, a ex-prefeita respondeu: “Já deu certo, porque mesmo que não venha se concretizar o movimento que se fez é que possibilitou que um encontro como esse acontecesse”.
O Rio de Janeiro estava representado por várias lideranças: Marcelo Freixo (PSB), o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), o deputado federal Alessandro Molon (PSB) e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB). Freixo está entusiasmado com sua campanha e diz que no momento está tentando ampliar seus apoios no segmento evangélico e também entre os profissionais de segurança. “Tenho conversado com eles e aprendido muito para construir um programa de segurança que seja inovador no Rio”. Freixo e Ceciliano ficaram boa parte do tempo sentados lado a lado. E o deputado federal disse mais de uma vez que estava acertando sua dobrada para o Senado. Ceciliano é pré-candidato ao cargo. Como também o é Alessandro Molon, do mesmo partido de Freixo, e que não se mostra disposto a abrir mão da disputa do cargo. Molon disse ao blogueiro que desde a primeira conversa que teve com Freixo sobre apoiar sua candidatura ao governo, quando ele ainda estava no PSOL, lhe afirmou que disputaria o Senado. “Minha candidatura ao Senado nasceu antes do Freixo vir para o PSB”, registrou. E ele aponta que as pesquisas lhe são favoráveis. “O Romário está com 17% e eu 12%. Estamos praticamente empatados.”
Quem também estava em “campanha” no jantar era o governador do Piauí, Wellington Dias, que apresentava seu jovem secretário da Fazenda, Rafael Fontelles que é pré-candidato do PT à sucessão de Wellington. No Piauí, aliás, a chapa do palanque de Lula já está praticamente fechada. O deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do estado, Themístocles Filho (MDB), deve ser o candidato a vice. E Wellington Dias sairá ao Senado.
Numa mesa ao lado da de Lula, estava o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ao seu lado o sindicalista Ricardo Patah e à sua frente, o presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz. Ao ser indagado se achava que Alckmin poderia se filiar ao PSD ao invés de ir para o PSB, Aziz disse que só se ele fosse candidato ao governo. “Para fechar chapa com o Lula não, porque já temos um candidato a presidente, o senador Rodrigo Pacheco”, afirmou.
Da região Norte, quem também desfilava pelos corredores da sala vip do evento era o senador Randolfe Rodrigues, da Rede. Rodrigues chegou a ser lançado pré-candidato à presidência por Paula Lavigne, mas ontem parecia animado em disputar o governo do seu estado. O ex-prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, também bateu um papo com o blogueiro no final do evento. Ele, que é filiado ao PSDB, deve sair do partido. Mesmo sendo muito amigo de Alckmin seu destino não deve ser o PSB de Márcio França. E sim o PSD de Kassab.
Ao final da festa, enquanto Lula discursava o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin ouvia com atenção ladeado por dona Lu, Márcio França e Gabriel Chalita. Aliás, Chalita garantiu que não será candidato a nada em 2022. E Alckmin quando foi perguntado sobre o quão quente estaria a formação de uma chapa dele com Lula, respondeu que tudo tem o seu tempo. E que agora era hora de conversar.
Alias, se as articulações políticas que aconteceram na noite de ontem pudessem ser transformadas em medidas, provavelmente dariam mais do que uma volta na terra.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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